Conheça a aplicação dos questionários de triagem nutricional e a importância desse recurso para pacientes na Nutrição Hospitalar
Considerando a gravidade do estado de saúde em hospitais e UTIs, o Ministério da Saúde colocou em vigor a portaria nº 343 de 7 de março de 2005 que julga necessária a implantação de protocolos de triagem e avaliação nutricional, de indicação de terapia nutricional e acompanhamento desses pacientes. A medida demonstra a importância da Triagem Nutricional, um dos principais recursos utilizados na Nutrição Hospitalar. Neste texto vamos abordar os tipos e detalhes desse procedimento realizado por nutricionistas.
Aproveite para conferir os textos anteriores no blog, em que abordei a prevalência da desnutrição energético-proteica nesses ambientes e como ela está associada à comorbidade e mortalidade. Também falei das capacidades dos profissionais na Nutrição Hospitalar.
O que é a Triagem Nutricional?
O primeiro procedimento aplicado pelo profissional da área é a Triagem Nutricional, que tem como objetivo identificar pacientes desnutridos ou em risco. E a etapa seguinte, a Avaliação Nutricional, identifica o diagnóstico nutricional do paciente. Portanto, realizar essa triagem com precocidade tem enorme impacto na qualidade da terapia nutricional como um todo.
A triagem nutricional pode ser definida, segundo a Sociedade Americana de Nutrição Parenteral e Enteral (ASPEN), como um processo capaz de identificar um indivíduo como desnutrido ou que está em risco de desnutrição, a fim de determinar se uma avaliação nutricional detalhada é indicada (MUELLER et al., 2011).
Esse recurso também foi descrito pela Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo como sendo uma maneira rápida e simples de identificar pacientes em risco nutricional, devendo ocorrer em até 72 horas da admissão do paciente (KONDRUP et al.,2003). Caracteriza-se, portanto, como uma ferramenta de diagnóstico fácil, padronizado, não invasivo e de baixo custo (LEUENBERGER; KURMANN; STANGA, 2010).
Devo acrescentar que no caso de pacientes em UTIs, esse tempo deve ser de no máximo 24 horas e e a triagem realizada a beira do leito.
Questionários da Triagem Nutricional
A Triagem Nutricional inclui a aplicação de questionários que visam pontuar e identificar fatores que serão impactantes no estado nutricional dos pacientes, entre eles: perda ponderal, redução de ingestão alimentar, grau de severidade da doença, condição clínica para se alimentar, idade do paciente, presença de alterações neurológicas e cognitivas, condição clínica do funcionamento do trato digestório, presença de edema ou retenção de líquidos corporais, e força física para realizar esforço simples como apertar a mão.
Seguem os questionários existentes para a triagem nutricional com suas respectivas indicações e limitações:
Malnutrition Universal Screening Tool (MUST): apresenta o propósito de detectar desnutrição em pacientes adultos e idosos hospitalizados. Além disso, possui pouca especificidade para pacientes oncológicos.
Subjective Global Assessment (SGA): caracterizada por ser uma ferramenta complexa, subjetiva, não utilizada para detectar risco nutricional;
Mini Nutritional Assessment (MNA): por ser um método pouco flexível quanto à faixa etária permitida, restringe-se à população idosa;
Nutrition Risk Screening 2002 (NRS-2002): tem sido o mais utilizado por abordar especificamente pacientes hospitalizados, sem restrição de idade. Possui como componentes principais quatro questões referentes ao Índice de Massa Corporal (IMC), perda ponderal indesejada no último trimestre, redução da ingestão alimentar na última semana e presença de doença grave. Além disso, inclui uma triagem final que classifica as respostas obtidas na primeira etapa, considerando o percentual de peso perdido e o tempo, IMC, aceitação da dieta e grau de severidade da doença. Ao final um valor total é obtido, somando-se mais um ponto caso a idade do paciente tenha 70 anos ou mais, indicando um fator de risco adicional para a desnutrição. Um total maior ou igual a 3 indica risco nutricional.
Conclusão
Fica clara a não existência de padrão ouro para essa tarefa, o que reforça muito a importância da especialização em Nutrição Hospitalar e experiência do avaliador nutricionista para obter os dados mais precisos para análise das informações coletadas e as interações multidisciplinares para a conclusão da sua triagem.
Nos pacientes de UTI, a triagem nutricional assume mais uma função de grande impacto, já que ela pode mostrar a severidade do risco nutricional e, assim, precipitar ações precoces para a implantação da terapia nutricional, agindo como gatilho para definir qual o acesso correto para o paciente se nutrir e quais as tarefas multidisciplinares que devem envolver o médico, fonoaudiólogo, enfermeiros e nutricionistas.
Concluindo, a realização de triagem nutricional em paciente crítico consolida uma das partes mais importantes da terapia nutricional, por evidenciar o risco nutricional de um paciente específico e servir de gatilho para a precocidade das ações para nutrir o paciente critico.