Descubra a dieta adequada para recém-nascidos e evite intercorrências
A Terapia Nutricional em UTI neonatal pode fazer a diferença nas tristes estatísticas de mortalidade dos neonatos, bebês e crianças no Brasil, dados esses que você pode conferir abaixo:
A multidisciplinaridade da assistência torna ainda maior esse desafio para a Nutrição Hospitalar, por ser de alta complexidade e envolver vários profissionais desde a gestação até o tratamento após o nascimento. Entre as causas principais, figuram a prematuridade, infecções, asfixia, hipóxia e problemas da mãe durante a gestação.
Mudar essa realidade parece depender também da implementação de boas práticas nas unidades de saúde e hospitais (determinadas na RDC N° 63 de novembro de 2011). Também é importante a implementação de procedimentos seguros na atenção a esses pacientes, conforme recomenda a RDC N° 36 de julho de 2013.
Intercorrências do tratamento: como evitar?
A implantação do tratamento também pode trazer intercorrências próprias do acesso à dieta, como, por exemplo:
- Infecção e translocação bacteriana
- ECN ( Enterocolite necrosante)
- Azotemia e acidose metabólica
- Hiperglicemia
Os procedimentos de implementação da dieta não resolvem, por si só, o problema ao longo do tratamento. Por essa razão, a equipe multidisciplinar e principalmente o nutricionista especializado devem estimular a atenção e o monitoramento de forma contínua e implementar outro tipo de conduta quando a condição clínica do paciente permitir. Dessa forma, é possível minimizar ou evitar as intercorrências como também tornar a assistência nutricional mais eficaz.
Dieta enteral ou parenteral?
Na prática, a terapia nutricional em UTI Neonatal pode passar pela implementação de dietas parenterais, enterais ou orais. A intervenção precoce no fornecimento da assistência nutricional determina o melhor prognóstico para o paciente e segue alguns princípios, entre eles:
1- Avaliação nutricional com foco na idade gestacional
Sabemos que com 28 semanas o bebê já tem seus órgãos do trato digestório formados, porém sem maturidade, ou seja, não estão desenvolvidos ao ponto de ser possível nutrir através deles.
Por exemplo: o estômago tem capacidade para armazenar 2ml e vai alcançar após 10 dias de nascimento os 24 ml – inicialmente o estômago não vai suportar volume necessário para a nutrição.
Bebês nascidos com idade gestacional, com 28 semanas não estão aptos a receber nutrição enteral por que o órgão digestório não tem maturidade para receber alimentação por esse acesso. A alternativa para nutrir esse paciente é a nutrição parenteral.
2- Implementação de dieta parenteral
Nessa linha, a própria nutrição parenteral tem respaldo pela AMB-CFM, que indica a dieta parenteral para:
- RN com peso ao nascer de até 1.500 gramas: devem receber NP nas primeiras horas de vida.
- RN com peso de 1.501 a 1.800 gramas para os quais a nutrição enteral não foi introduzida em até 3 dias.
- RN sem habilitação do trato digestório
O mesmo é corroborado pelo Ministério da Saúde através da Secretaria de Vigilância Sanitária portaria nº 272, de 8 de abril de 1998 que aprova em seu art. l° os requisitos mínimos exigidos para a terapia de nutrição parenteral.
3- Implementação da Nutrição Enteral Mínima (NEM)
A Nutrição Enteral Mínima (NEM) em várias denominações na literatura: alimentação trófica devido ao seu impacto no crescimento intestinal, não nutritiva ou hipocalórica, pois não é a escolha preferencial nesse momento da vida para nutrir o recém-nascido (RN) pré-termo ou extremamente prematuro.
Objetivos:
- 1- Evitar a sepse
- 2- Evitar Enterocolite necrosante
- 3- Fortalecer o trato gastrintestinal
A indicação é iniciar a NEM com 1 ml de leite materno/dia via enteral, progredir para 10 ml /dia e chegar ao mínimo de 50 ml, em que os benefícios poderão ser medidos.
4- Implementação de dieta enteral
À medida que houver tolerância do paciente, adquirindo capacidade para se nutrir por via enteral, o nutricionista deve diminuir a dieta parenteral até ser totalmente substituída pela dieta enteral. Nesse caso, a preferência é sempre introduzir leite materno e, caso isso não seja possível, utilizar fórmulas desenvolvidas especialmente para a idade gestacional.
No entanto, é necessário ainda a conscientização e maior divulgação dos benefícios do leite materno para a equipe multidisciplinar e também é importante criar condições e estrutura para a maior adesão da equipe ao uso do leite materno. Enquanto se usa a dieta enteral, a equipe deve estimular a alimentação via oral através da amamentação materna. Nesse aspecto, o método canguru (colocar o bebê em contato com a pele da mãe e em contato com o seio da mãe) tem sido um forte aliado para alcançar esse objetivo.
5- Implementação da dieta oral
Considerando que a amamentação é o processo preferencial de nutrição, a equipe deve fazer todo o esforço para essa finalidade: é mais barato e mais saudável, bom para o bebê e bom para a mãe. Assim, o bebê recebe todo os nutrientes através do leite materno, como também maior proteção pelo estímulo à imunidade, cria vínculo afetivo com a mãe, cresce melhor e tem menos intercorrências.
Saúde e terapia nutricional em UTI Neonatal
Finalmente, nada será possível se não houver envolvimento de toda a equipe médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e especialmente a capacidade técnica do nutricionista para tomar e orientar atitudes e condutas de forma especializada. Além disso, o trabalho de toda a equipe operacional e o envolvimento da família são muito importantes, fazendo constante monitoramento e interferindo para conseguir evolução favorável do paciente não só na condição nutricional, mas também como um todo.
Autor:
Aqueles que pretendem colocar em prática a terapia nutricional em UTI Neonatal podem se inscrever na pós-graduação em Nutrição Hospitalar Aplicada à UTI. O IESPE também oferece cursos de extensão em Nutrição.
1 comentário em “Como deve ser a terapia nutricional em UTI Neonatal?”
Excelente. Tão bom ouvir!