TCTH: Nutrição no transplante de células-tronco hematopoéticas

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Saiba como fazer o plano alimentar em casos de TCTH

Você sabe como elaborar o plano alimentar no caso de transplantes? Um dos mais importantes é o transplante de células-tronco hematopoéticas (TCTH), uma modalidade terapêutica consagrada para o tratamento de doenças hematológicas benignas e malignas. Dados do Registro Brasileiro de Transplantes evidenciam que em 2018 foram realizados 3091 TCTH no país.

Neste texto vou compartilhar esse conhecimento de Nutrição Hospitalar de forma didática, considerando a minha prática na área. O objetivo é que você ganhe confiança na hora do atendimento e possa obter resultados na recuperação do paciente.

Primeiramente você precisa saber que classificamos em três tipos de transplante, a depender do doador:

 

  • Autólogo: quando a célula-tronco hematopoiética enxertada é do próprio paciente.
  • Alogênico: quando é provinda de outro doador.
  • Singênico: quando o doador é um gêmeo univitelino.

Os pacientes submetidos ao TCTH são uma população heterogênea do ponto de vista do estado nutricional e da ocorrência de sintomas gastrointestinais. Por isso, é necessário fazer um acompanhamento individualizado e estabelecer metas distintas.

Tratamento

O cuidado com a alimentação deve ser iniciado na fase pré-transplante e permanecerá durante todas as fases e modalidades de TCTH. Essa assistência tem como objetivo preservar ou recuperar o estado nutricional do paciente, contribuir para o melhor prognóstico, proporcionar redução dos efeitos da toxicidade medicamentosa e atenuar os sintomas gastrintestinais.

 

Dentre os pontos de destaque apresentados pelo Consenso Brasileiro de Nutrição em TCTH publicado no ano de 2020, temos a recomendação dietética para tratamento de sintomas comuns de pacientes domiciliares e/ou hospitalizados, dentre eles:

 

  • Disosmia: 

Consiste na alteração da percepção do sabor de alimentos. Pode ocorrer em até 70% dos pacientes e em casos extremos levar à redução drástica da ingestão calórica, com consequente emagrecimento (desnutrição). Nessa situação, o nutricionista deverá evitar alimentos com odores fortes, priorizar condimentos leves (azeite, ervas desidratadas e limão), além de estimular consumo de alimentos com sabor umami como peixes, queijos e tomate, uma opção que ativa receptores específicos de glutamato e derivados, estimulando a percepção do gosto.

 

  • Xerostomia: 

Consiste na queixa subjetiva de boca seca, que pode resultar na redução na produção de saliva. Nesses casos, é indicado ingerir pequenas quantidades de líquidos de forma mais frequente, estimular o consumo de balas mentosas ou de limão e ofertar dietas úmidas (com caldos, molhos e sopas).

 

  • Odinofagia: 

Consiste em dor ao engolir e está relacionada à presença de úlceras ou erosões no esôfago provocadas por processos inflamatórios de origem infecciosa ou química. Recomenda-se evitar alimentos que irritam a mucosa, como bebidas gaseificadas, alimentos ácidos e duros/secos, além de evitar os extremos de temperatura (quentes e gelados).

 

  • Diarreia: 

Controlar a ingestão de lactose, sacarose (doces) e alimentos gordurosos (frituras, fast foods, biscoitos, cookies, sorvetes etc.), além de adequar a reidratação e utilizar bebidas isotônicas.

TCTH

Cuidados adicionais no TCTH

Sobre as restrições na dieta nas fases pré e pós-transplante, não há um consenso na literatura sobre os benefícios do uso da dieta para neutropênicos. Seu uso foi instituído na década de 1980, para prevenir infecções do trato digestório, e sua característica principal era a restrição de alimentos que pudessem funcionar como vetores de microrganismo patogênicos. 

 

Até 2006 a literatura trazia estudos com dietas que restringiam vegetais crus, frutas frescas e secas, castanhas, iogurtes, ovos e carnes mal passadas. Porém, estudos recentes compararam essas dietas restritivas com as normais e foi constatado que a neutropênica não protegia os pacientes. Em alguns deles, ela estava relacionada inclusive com um maior número de complicações. 

 

É ainda de extrema importância focar no procedimento de higienização, armazenagem e preparo dos alimentos. A sanitização de frutas e hortaliças deve ser realizada de forma segura e adequada, com possibilidade de uso de soluções à base de cloro. Devo destacar o hipoclorito com 200ppm de cloro ativo, que garante ótimo poder antimicrobiano e é livre de ação corrosiva.

 

O nutricionista é o profissional apto para orientar os pacientes e familiares sobre a condução da terapia nutricional. E agora você já sabe como um acompanhamento periódico está relacionado com a melhora do prognóstico e da qualidade de vida, tanto na fase pré quanto pós-TCTH.

 

Ainda restam dúvidas? É só perguntar nos comentários :). Estou à disposição para responder. 

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Aricia Mendes

Nutricionista clínica em Unidade de Terapia Intensiva. Preceptora de estágios em nutrição. Professora da UNICSUM) para cursos de graduação em nutrição, enfermagem e farmácia. Especialista em Fitoterapia pelo GANEP. Especialista em Terapia Nutricional em Pacientes Graves - Hospital Albert Einstein. Membro associado AMIB.

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