Em entrevista exclusiva, Marcos Schlinz, o primeiro mineiro a ocupar o cargo na Associação de Medicina Intensiva Brasileira, fala sobre os desafios de promover a unidade da Enfermagem no Brasil.
Desde a década de 80, a AMIB – Associação de Medicina Intensiva Brasileira vem sendo a maior organização de referência em cuidados intensivos do país. Muito além de reger a profissão de milhares de enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, e outros profissionais envolvidos nas UTI, a entidade, que representa a classe com maestria, já conquistou legitimidade mundo afora, sendo reconhecida em toda América Latina, nos USA e Europa. Mas, agora, mais do que nunca, a associação é motivo de alegria, tudo porque um supervisor do IESPE é nomeado diretor da AMIB.
Conquistar um espaço nessa organização é uma tarefa que exige muito profissionalismo e seriedade, por isso, a cada dois anos, os membros associados são convocados para eleger uma nova Diretoria Executiva para a AMIB e, fica a cargo desta gestão, a escolha de sua equipe de trabalho por meio de indicação de consultores.
Em sua estrutura organizacional, a instituição conta com uma divisão de setores profissionais que a entidade representa, por exemplo, Departamentos de Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição, Fonoaudiologia, entre outros. Cada uma dessas seções têm um presidente e sua equipe de diretores, que ficam responsáveis por representar o setor diante da AMIB, propor melhorias no próprio desempenho da instituição, além de promover a organização para membros associados e profissionais que ainda não se ingressaram por meio de uma série de iniciativas, principalmente, educacionais.
O Supervisor de Ensino do IESPE, Marcos Paulo Schlinz e Silva, é o primeiro mineiro a ocupar o cargo de Diretor no Departamento de Enfermagem na AMIB e, em entrevista inédita, conta como foi o processo de escolha e os desafios que terá como gestor. Confira:
IESPE: A AMIB – Associação de Medicina Intensiva Brasileira é a maior instituição em referência em Medicina Intensiva do país, qual é o papel desta instituição no Brasil?
Marcos Schlinz: A AMIB – Associação de Medicina Intensiva Brasileira é quem representa os profissionais que trabalham dentro das Unidades de Terapia Intensiva em território nacional e, além disso, é ela quem dita as regras na Medicina Intensiva no Brasil, inclusive na parte de legislação, por exemplo. São eles quem decidem o funcionamento das UTI, as formas de se obter a titulação de médicos e enfermeiros intensivistas, enfim, sai tudo por essa associação.
IESPE: E como é a estrutura organizacional da AMIB?
Marcos Schlinz: Bem, a AMIB é soberana e ela tem uma diretoria executiva que é eleita nacionalmente, onde todos os associados participam, se candidatando e/ou votando. Quem assumiu agora, em Janeiro de 2016 foi a Dra. Mirella Oliveira, que está com a gestão 2016/2017, ela foi eleita em 2015 porque a votação ocorre sempre um tempo antes de o presidente assumir. Enfim, dentro da AMIB, abaixo da Diretoria Executiva, que são as autoridades máximas da instituição, existem os departamentos de Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia, enfim, as áreas que atuam dentro dos CTI pelo Brasil; esses departamentos contam com um presidente e seus diretores.
IESPE: O que o Departamento de Enfermagem geralmente faz?
Marcos Schlinz: O Departamento de Enfermagem tem voz ativa lá nas decisões da AMIB e, em certo grau, tem o papel de representação da classe para a instituição e o contrário também acontece, o Departamento é que é o principal responsável por representar a instituição para os membros associados e os que ainda não se juntaram, buscando sempre a profissionalização com cursos, palestras, enfim, estimulando o especialista que atua nas UTI.
IESPE: E como foi a sua eleição para Diretor deste Departamento?
Marcos Schlinz: No Departamento de Enfermagem, os membros são escolhidos através de indicação da Diretoria Executiva, através de uma consultoria. Nessa última eleição, a consultoria ficou a cargo da enfermeira Renata Pietro, que já conhecia o nosso trabalho. Ela, junto com a Diretoria Executiva, escolheu quem seriam os membros: a presidente escolhida foi Nara Azevedo (RS), e os diretores somos eu, Marcos Schlinz (MG), o primeiro mineiro a compor essa Diretoria, Ayla Mesquita (RJ), Melquíades Ramalho (PB).
IESPE: O que vocês planejam fazer ao longo da gestão?
Marcos Schlinz: A gente já está elaborando desde janeiro um cronograma de atividades, cursos, capacitações que o departamento faz no Brasil inteiro e a gente que define os temas e define quem vai oferecer esses cursos. Na verdade, o departamento promove esses cursos para os líderes, alguns multiplicadores para que eles se encarreguem de transmitir o conhecimento, entendeu? A ideia total é promover atualização para os enfermeiros intensivistas que são associados e, claro, fomentar a entrada de mais membros, porque quanto mais associados, mais força política a gente tem. A Enfermagem é a segunda cadeira de força dentro da AMIB. Os congressos nacionais e regionais que têm geralmente a enfermagem é o maior público, ela tem salas lotadas, mesmo, mas ainda temos mais a crescer e somar, mesmo que, nos últimos anos, tenhamos aumentado 50% do número de associados. Nosso projeto, da nossa gestão agora, é fazer com que isso dobre, mesmo, para a gente ter uma representatividade legal.
IESPE: Vocês fazem o trabalho de fiscalização dentro dessa diretoria ou não?
Marcos Schlinz: Não, não existe fiscalização. O que existe mais é orientação. Um dos projetos que a gente está entrando é fortalecer as regionais. Então, o pessoal do Nordeste, do Norte, Sul, Sudeste que vai estar trabalhando essas regionais, eles estarão divulgando a AMIB, o departamento, e levando cursos, capacitações para fomentar a entrada de mais associados. A gente está apostando na regionalização. E alguns eventos, alguns fóruns, a partir de Maio, agora, já tem debates acontecendo na Paraíba; Junho, Julho tem no Acre, Fortaleza e esses fóruns, nós, da diretoria sempre estaremos lá, levando alguma atualização. Eu já recebi dois convites, e aceitei: um é para Fortaleza, no final de Junho e, no início de Junho, no Acre. Eu pretendo ir para lá e levando as novas diretrizes de atendimento a PCR que saíram agora no final de 2015, então eu pretendo contribuir com a classe não só dando essa palestra mas também ajudando na organização dos profissionais. A gente acaba prestando também uma consultoria nas regionais do que seria os melhores temas para abordarem e fortalecerem a AMIB onde quer que ela esteja.
IESPE: Há quanto tempo você já é um associado AMIB?
Marcos Schlinz: Ah! Já deve ter uns seis anos.
IESPE: Por que você decidiu se associar?
Marcos Schlinz: Assim, um dos motivos que me fez associar foi a minha coordenação de curso de pós-graduação da Faculdade Redentor aqui no IESPE, então, quando eu já estava começando a namorar este negócio de coordenar cursos, eu já dava aula na Universidade Federal de Juiz de Fora, na especialização de UTI e eu senti necessidade de estar lincado com quem rege, com quem traz novidades para o nosso país. Aí eu entrei, me associei, comecei a conhecer algumas pessoas, ajudar de uma forma despretensiosa, assim, de coração, de forma voluntária, eu sempre participei. Já tenho 4 ou 5 anos que eu vou em todos os congressos nacionais e mais alguns regionais. No Rio de Janeiro já fui, ajudei e dei palestra. Aqui em Minas Gerais eu estou todo ano, sou sempre convidado a colaborar. Então, assim, para mim, participar como associado eu só ganho e acabou vindo esse convite que foi uma surpresa enorme, porque no meio de tanta gente super renomada, altamente titulada, tem doutores que estão lá no meio desse contexto, eu nunca imaginava participar da diretoria, eu sempre ajudei de forma despretensiosa e, felizmente, eu caí nas graças do povo lá e eles queriam que eu tivesse de uma forma efetiva.
IESPE: Como você se sente, sendo nomeado?
Marcos Schlinz: Muito orgulhoso, muito feliz. Eu acho que é um degrau na carreira de um intensivista, assim, inimaginável. A gente não se imagina participar num nível tão alto. Eu não sei se eu sou merecedor disso, mas estou trabalhando pra caramba para corresponder às expectativas. Estar lá para mim é muito bom e bom também para a Especialização em Cuidados Intensivos (saiba mais) que eu coordeno aqui em Juiz de Fora. É um status bacana para o curso, porque eu consigo trazer mais professores ainda de alto nível. Antigamente eu pedia e era um pouco difícil, agora, assim, nessa condição de estar na diretoria, na hora que eu peço, os professores e professoras chegam a se sentir honrados ‘nossa, que legal, o coordenador do curso, que é da diretoria, me convidou, vou dar aula, sim’, as portas se abriram ainda mais, então e, com certeza, a nossa pós-graduação vai ser impactada diretamente para melhor, claro.
IESPE: Na sua opinião, qual vai ser o seu maior desafio nessa gestão?
Marcos Schlinz: Agora nós já entramos na brincadeira, então, não tem como voltar atrás (risos), mas o maior desafio que eu consigo enxergar é a nossa disponibilidade de ir em determinados lugares que a gente não pensava em ir, de participar de alguns eventos e decisões, conseguir estar presente em outros lugares, para mim é um desafio.
IESPE: O trabalho do Departamento de Enfermagem na AMIB contribui para estabelecer a área como ciência?
Marcos Schlinz: Sim, primeiro que quase todos os membros da diretoria e outros associados que nos ajudam são professores ou coordenadores de cursos de especialização, ou seja, o que é discutido nesses níveis é levado para dentro da sala de aula, então, a gente está cada vez mais estimulando a produção científica. Não é o aluno fazer um TCC por obrigação, é fazer um tema que precisa ser estudado, é levar para os congressos porque isso é o que possibilita o crescimento da profissão.
IESPE: Como você espera finalizar sua gestão?
Marcos Schlinz: Olha, eu espero estar com um número muito grande de associados; um dos motivos que eles me convidaram é porque eu gosto de promover uma integração, então, todo evento que eu vou, eu junto o pessoal, às vezes está cada um no seu canto e todo congresso nacional eu monto um grupo, boto todo mundo para almoçar junto, para sair junto, para se falar, para trocar e-mail, então, assim, eu quero chegar no final da minha gestão com essa integração nacional mais consolidada ainda. Eu já tomei susto porque eu voltei da Bahia [do Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva] e em um mês a gente já conseguiu reunir gente de todo o canto do país. Hoje a gente administra um e-mail da diretoria e um grupo de WhatsApp também, onde enfermeiros do Brasil inteiro, intensivistas, que a gente já está discutindo alguns fóruns e ajudando a desenvolver algumas coisas regionais, por isso eu quero chegar no final com essa integração bem mais consolidada. As pessoas entendendo, sabendo o que é a AMIB porque tem gente que vai nos congressos e não sabe nem o que significa, muito menos os benefícios que ele ou ela tem. Então, eu queria que os intensivistas tivessem consciência do poder deles, do valor que é você ser um enfermeiro, líder de uma UTI.
O IESPE parabeniza ao supervisor de ensino, Marcos Paulo Schlinz, e deseja uma excelente gestão com muito sucesso e muitas vitórias para a enfermagem na terapia intensiva.