Conheça quais são os melhores alimentos e quais devem ser evitados na hora de montar um programa nutricional para pacientes com diabetes
No texto anterior, Qual o papel da Nutrição no tratamento da diabetes? – parte 1, abordamos assunto de interesse do profissional de Nutrição e paciente, destacando a importância de cada etapa no atendimento ao diabético, principalmente em caso de diagnóstico recente. Mas após toda a avaliação feita, é preciso que o profissional tenha conhecimento dos alimentos ideais para o paciente nessas condições e consiga traduzir em uma dieta prática e adequada, de forma que a alimentação contribua para o controle da doença, mas também seja agradável.
Para isso, elaborei algumas informações sobre os alimentos com enfoque no programa nutricional. Mas antes de começarmos a falar dos alimentos em si, é importante reforçar alguns conceitos essenciais para o paciente com diabetes e que vão ser centrais no atendimento do nutricionista. Vamos abordar o conceito de índice glicêmico, carga glicêmica, fibras que fazem parte da composição nutricional de cada grupo de alimentos:
- Índice glicêmico: Capacidade do alimento em elevar a glicemia acima do padrão em razão do tempo após o consumo. Pode durar pouco tempo dependendo da carga glicêmica. Exemplo: a melancia tem alto índice glicêmico e pouca carga glicêmica.
- Carga glicêmica: Quantidade de carboidrato (açúcar) que o alimento tem. Também pode elevar a glicemia na linha do tempo e quanto maior a carga maior será o tempo de elevação. Exemplo: a batata inglesa tem alto índice glicêmico e alta carga glicêmica.
- Fibras: Composição dos alimentos que diminuem o índice glicêmico de outros alimentos, mas não diminuem a carga glicêmica. Exemplo: suco de melancia com couve e limão (a couve tem fibras e abaixa o índice glicêmico da melancia); da mesma forma, as saladas verdes, quando consumidas com batata inglesa, podem diminuir o índice glicêmico da batata, porém não vão reduzir a quantidade de açúcar presente na batata.
Muitos alimentos não são consumidos sozinhos e a presença das fibras nas refeições pode auxiliar a diminuir o índice glicêmico de outros alimentos. Isso é vantajoso no tratamento da diabetes, mas não é a solução de tudo, já que não diminui a quantidade de açúcar da comida. Por isso, aqueles que têm alta carga glicêmica, mesmo quando consumidos com fibras, devem ser controlados. É o caso, por exemplo, do pão integral e do arroz integral.
Grupo 1 – Alimentos de folhas, entre elas verdes escuras, verdes, brancas ou roxas
Podemos citar a alface, couve, almeirão, espinafre, rúcula, taioba, chicória, brócolis, repolho branco, repolho roxo, acelga, bertalha, salsão, agrião, couve de Bruxelas, pimentão, pepino, dentre outras. Esses alimentos têm baixíssimo índice glicêmico (não elevam o açúcar no sangue de uma vez), baixa carga glicêmica (contêm pouco açúcar em sua composição e, portanto, não elevam o açúcar no sangue) e têm fibras, (atuam diretamente na redução do açúcar no sangue). Essas qualidades nutricionais qualificam os alimentos mencionados como excelentes para os diabéticos. As de folhas verdes escuras, além de terem baixo índice glicêmico, baixa carga glicêmica e possuírem fibras, ainda são ótimas fontes de acido fólico (a vitamina B-9), que é essencial para combater a inflamação das artérias e veias provocadas pelo excesso de açúcar no sangue.
Fica claro então que essas folhas devem fazer parte do cardápio do diabético diariamente e sem restrição de quantidades, seja na forma de salada ou suco verde, combinadas com hortaliças e frutas.
Grupo 2 – Hortaliças
Podemos citar a cenoura, beterraba, nabo, couve flor, berinjela, rabanete, chuchu, abóbora, abobrinha, moranga e tomate. A grande maioria desses alimentos tem baixo índice glicêmico, baixa carga glicêmica e fibras. Já algumas, como a cenoura, têm alto índice glicêmico, média carga glicêmica e o beta caroteno (importante antioxidante no combate à inflamação das artérias provocadas pelo aumento do açúcar no sangue). Lembrando que é importante o consumo desses alimentos sob controle, através da prescrição do nutricionista. Porém, essas hortaliças devem fazer parte do consumo diário de alimentos pelo diabético, sem muita restrição a quantidades.
Grupo 3 – Tubérculos e raízes
Cará, batata inglesa, batata doce, mandioca, inhame, mandioquinha ou cenoura amarela. Esses alimentos têm alto incide glicêmico (aumentam rapidamente a glicemia), alta carga glicêmica (aumentam a glicemia por muito tempo) e só alguns têm fibras, como a batata doce e mandioca. O consumo desses alimentos deve ser controlado e orientado por nutricionistas, já que os índices glicêmicos e carga glicêmica elevada, juntamente com as poucas fibras, colocam esses alimentos como possíveis agressores ao diabético quando consumidos fora do limite de tolerância. Não é recomendável o uso de dois alimentos desse grupo no mesmo cardápio e nem como acompanhamento do arroz ou pão.
Grupo 4 – Pães
Todos os pães têm alto índice glicêmico, alta carga glicêmica e sem fibras. O consumo desses alimentos deve ser controlado e orientado por nutricionistas, já que os índices glicêmicos, carga glicêmica elevada e as poucas fibras podem prejudicar o diabético se ingeridos de forma descontrolada. Não é recomendável o uso de dois alimentos desse grupo no mesmo cardápio e nem como acompanhamento do arroz, tubérculos ou raízes.
Nesse grupo entram os pães, que são adicionados de fibras ou sementes e se tornam alimentos integrais. Os pães integrais são melhores que os pães brancos, pois a adição de fibras ou sementes melhora consideravelmente o seu valor nutricional. No entanto, não diminui ou reduz muito pouco a carga glicêmica, ou seja, esses alimentos, mesmo que sejam integrais, ainda são potencialmente agressivos aos diabéticos. Por essa razão, o seu consumo deve ser controlado e não deve ser acompanhado de arroz, tubérculos ou raízes.
Grupo 5 – Leguminosas
Feijões de todo tipo, ervilhas, lentilhas, vagem e grão de bico. Esses alimentos têm médio índice glicêmico, média carga glicêmica e muitas fibras, além de terem vitaminas e minerais em sua composição nutricional. Apesar de terem um índice glicêmico médio e carga glicêmica média, esses valores são compensados pela boa quantidade de fibras e proteínas presentes entre os seus nutrientes. Essas qualidades fazem desses alimentos fortes aliados no controle da glicemia. Se possível, devem fazer parte do cardápio diário sem muita restrição na quantidade consumida.
Restrições a esses alimentos podem acontecer quando se tem a necessidade de redução de potássio na dieta do paciente como, por exemplo, no caso de um diabético com insuficiência renal.
Grupo 6 – Cereais refinados, derivados de cereais e féculas
Os mais comuns são arroz branco, farinha de trigo, fubá, macarrões diversos, amido de milho, féculas de batata e polvilho. Esses alimentos têm alto índice glicêmico, alta carga glicêmica e pouca ou nenhuma fibra. Por isso, o consumo sem controle é agressivo ao diabético.
Grupo 7 – Cereais integrais
Os mais conhecidos são arroz integral, centeio, cevada, milho, quinoa, farelo de trigo, gérmen de trigo, trigo sarraceno (trigo sem glúten), chia e aveia. Eles têm muitas vantagens sobre os refinados, como menor índice glicêmico, menor carga glicêmica, mais vitaminas e mais fibras, sendo o substituto ideal para os cereais refinados. Ressalvamos que, mesmo com todas as vantagens em relação aos cereais refinados, esses alimentos continuam tendo a sua carga glicêmica original, que é alta mesmo esses sendo alimentos integrais. O seu consumo, seja na forma original ou como componente de outros alimentos, também deve ser controlado.
Grupo 8 – Laticínios e derivados
Leite, iogurtes e queijos frescos de uma forma geral têm médio índice glicêmico e média carga glicêmica e não têm fibras. São alimentos que podem elevar a glicemia de acordo com a quantidade consumida. Mesmo assim, esses alimentos devem ser consumidos de forma controlada porque são essenciais para suprir a recomendação de cálcio, mineral importante na queima das gorduras para produção de energia e prevenção da osteoporose. Já os queijos e requeijões têm baixo índice glicêmico e baixa carga glicêmica, além de não possuírem fibras. Mas o seu consumo deve ser muito controlado em razão do alto conteúdo de gorduras saturadas e colesteróis agressores que causam a inflamação das artérias, podendo formar placas e ateroma nas artérias que aumentam consideravelmente as neuropatias diabéticas e os riscos cardiovasculares.
Grupo 9 – Oleaginosas e a semente de linhaça
Nozes, castanhas, amêndoas, pistache, macadâmia, avelã e linhaça são alimentos com baixo índice glicêmico e baixa carga glicêmica, sendo que alguns têm pequenas quantidades de fibras. São alimentos protetores das artérias e veias por conterem em sua composição nutricional antioxidantes como selênio, VIT E (vitamina E), gorduras poliinsaturadas e monoinsaturadas, além de algumas fontes de ômega 3, protetores do sistema cardiorrespiratório e vascular. Essas qualidades nutricionais tornam esses alimentos essenciais para o tratamento dos diabéticos. No entanto, as quantidades consumidas devem ser controladas em razão do alto poder calórico desses alimentos, que podem contribuir para o aumento de peso, algo que no caso do diabético não é recomendável.
Grupo 10 – Frutas
A maioria tem médio índice glicêmico e média carga glicêmica com boa fonte de fibras. O açúcar desses alimentos é a frutose açúcar que não depende da insulina para entrar na célula e ser metabolizada. Por essa razão, o seu consumo deve ter um limite de tolerância porque pode servir como poupador da glicose (açúcar) e resultar em um aumento da glicemia. A frutose também é substrato primário para a produção de triglicerídeos, cujo aumento não é recomendável para o diabético. Na forma de suco coado ou centrifugado, as frutas têm alto índice glicêmico e alta carga glicêmica e também não é recomendado o consumo dessa forma. Para minimizar essa situação, o uso do liquidificador é mais recomendado por possibilitar o aproveitamento das fibras e também pelo fato de que a casca da frutas pode trazer melhores resultados no tratamento.
Observamos que as bananas e as uvas têm alto índice glicêmico e alta carga glicêmica. Portanto, deve ser estipulado um limite de tolerância mais rígido para essas frutas, cabe ao nutricionista determinar os controles de consumo para as demais.
Grupo 11 – Óleos de cozinha/azeite; margarina/manteiga/gorduras trans/gordura animal /gordura vegetal /óleos de peixe
Todos têm baixo índice glicêmico, baixa carga glicêmica e não têm fibras. Porém, todos têm alta carga energética e esse atributo os torna alimentos cujo consumo deve ser controlado.
- Óleos de cozinha: De preferência, o óleo de canola e milho. Eles possuem maior conteúdo de ácidos graxos monoinsaturados protetores do sistema vascular e cardiorrespiratório.
- Azeite extra virgem: O melhor protetor vascular e cardiorrespiratório.
- Margarina: Origem pela saturação de óleos, algumas com gorduras trans. Podem estimular a formação de placas de ateromas nas artérias e a diminuição do colesterol bom.
- Manteiga: Pode estimular a formação de placas de ateromas nas artérias em razão do alto conteúdo de colesterol.
- Gorduras trans: Estimulam a formação de placas de ateromas nas artérias, contribuindo para a inflamação vascular. Observamos que podem fazer parte de vários produtos industrializados.
- Gordura animal: Pode estimular a formação de placas de ateromas nas artérias em razão do alto conteúdo em colesterol.
- Gordura vegetal: Origem pela saturação de óleos, algumas com gorduras trans. Podem estimular a formação de placas de ateromas nas artérias e a diminuição do colesterol bom.
- Óleos de peixe: Rico em ômega 3 DHA e EPA, protetores de todo o sistema cardiovascular.
Grupo 12 – Carnes bovina/suina/aves/peixes/ovos
Todas têm baixo índice glicêmico, baixa carga glicêmica e não possuem fibras. Porém, todos têm alta carga energética. Algumas podem ser fontes de colesterol e gorduras saturadas e esse atributo faz com que sejam alimentos que necessitam de um consumo controlado.
Observamos que os peixes e aves sem pele são as alternativas mais recomendadas por apresentarem um menor conteúdo calórico e de gorduras saturadas. Além disso, alguns peixes são ricos em ômega 3 DHA e EPA.
Grupo 13 – Açúcares/doces/mel
Possuem alto índice glicêmico, alta carga glicêmica e não têm fibras. São os alimentos mais agressivos à diabetes e o ideal é não consumir.
Grupo 14 – Diet
Os alimentos diet não podem ter açúcar. Mesmo assim, podem apresentar uma elevada carga glicêmica proveniente de outros carboidratos como maltodextrina ou amido de milho. A frutose, xarope de milho e outros como o de chocolate amargo podem ter elevados conteúdos de ácidos graxos saturados. Cuidados especiais devem ser tomados na avaliação dos rótulos desses alimentos e na composição nutricional antes do consumo.
Grupo 15 – Light
Essa determinação é usada para todos os alimentos industrializados que têm menos de 25% das calorias do seu original. Podem ter elevadas cargas glicêmicas ou elevados conteúdos em ácidos graxos saturados. Por isso, o seu consumo deve ser feito de forma controlada após a avaliação ou recomendação do profissional nutricionista.
Grupo 16 – Os adoçantes
O ideal é que sejam consumidos aqueles cuja composição não é energética. Em outra oportunidade iremos analisar cada um deles.
Grupo 17 – Sal
O sal já deve ser reduzido na dieta independente da presença ou não da hipertensão. A diminuição serve como medida preventiva da hipertensão e para as neuropatias e também tem a função protetora dos rins. Cuidados especiais devem ser tomados quanto aos alimentos industrializados, enlatados e aos adoçantes.
Concluindo, o programa alimentar do diabético requer acompanhamento de um profissional especializado em nutrição clinica e com habilidade para orientar a dieta adequada, prática, agradável e variada, além de fracionada em várias refeições e com horário e quantidade definida de alimentos.
Como coordenador da Pós de Nutrição Hospitalar e ao Paciente Crítico da FacRedentor no IESPE, posso afirmar que o profissional especializado faz a diferença no atendimento a esses pacientes. De preferência, devem ser consumidos alimentos de baixo índice e carga glicêmica e com restrição ao consumo de sal e açúcar. Todas as refeições devem ter um alimento que seja fonte de fibras, restrição a alimentos com gorduras saturadas, uso de adoçantes não energéticos, restrição de alimentos industrializados e acompanhamento constante dos resultados dos exames bioquímicos.
Espero que o texto tenha esclarecido sobre o atendimento nutricional ao paciente com diabetes e estou à disposição caso tenha qualquer dúvida.
Até logo,
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