Qual o papel da Nutrição no tratamento da diabetes? – parte 1

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Saiba como deve ser o atendimento do nutricionista ao paciente diabético

 

Uma pessoa que recebe o diagnóstico de diabetes às vezes nem consegue ouvir direito o que o profissional está falando, tamanho é o choque da notícia.

 

Normalmente o diagnóstico vem acompanhado de uma forma de medicação e cuidados básicos que devem ser tomados para o controle da doença. Embora essa seja uma tarefa importante de quem atende a esse paciente, é também essencial que sejam passadas informações para que ele não se desespere. Primeiro porque a diabetes pode ser controlada e não é sentença de morte. Por exemplo: ao chegar em casa, a pessoa deve falar com seus familiares sobre o assunto. Se não for possível ter essa conversa no mesmo dia, não é bom que depois esconda a doença, pois o melhor é falar sobre isso o mais rápido possível. Até porque, o tratamento também é imediato e vai envolver a família.

 

pequena-nutricao-diabetes-5No dia seguinte, esse paciente já deve procurar ajuda profissional em relação à nova dieta que será seguida, pois nesse caso o seu tratamento está intimamente relacionado com a qualidade da sua alimentação. É então que começa o importante trabalho do nutricionista para garantir que uma pessoa nessas condições possa controlar a sua doença.

 

Como coordenador da Pós de Nutrição Hospitalar e ao Paciente Crítico, posso afirmar que um tratamento específico no caso dessa doença é complexo, mas pode trazer ótimos resultados para a saúde e qualidade de vida do paciente, principalmente com orientação especializada por parte do nutricionista e execução adequada da dieta por parte do paciente.

 

Como o tema é extenso, vamos tratar do papel da Nutrição na diabetes neste momento em duas partes e, nesta ocasião, serão abordados os estágios de atendimento do nutricionista no caso de um paciente diabético. Esse é um trabalho que é desenvolvido através das seguintes fases:

 

 

1- Fase da anamnese:

 

Toda assistência nutricional será iniciada com uma visita do paciente ao nutricionista.  Nesse momento, é importante o levantamento dos dados e o encontro do profissional com o diabético para estabelecer uma relação de confiança que será muito importante no tratamento.

 

pequena-nutricao-diabetes-2Essa fase inclui registros antropométricos (peso, altura, circunferências abdominais e outras medidas do corpo do paciente que o profissional julgue necessário). Também será importante selecionar no hábito alimentar dessa pessoa os alimentos preferidos e os não preferidos, além da quantidade desses alimentos, número e horário das refeições.

 

É necessário que as informações estejam o mais próximo possível da realidade, garantindo que não sejam acrescentadas ou omitidas de forma a confundir o profissional. Também é preciso que o nutricionista observe o estado físico do paciente, procurando detectar palidez, condição de elasticidade da pele, presença de tecido adiposo ou perdas, presença de edemas ou inchaço em qualquer parte do corpo, de pequenas feridas, dormências ou cãibras de alguns membros.

 

Além disso, o profissional deve ficar atento à condição dos cabelos e unhas, dentição, capacidade de mastigação, condição da sua força para andar, ânimo para fazer as coisas, possíveis queixas de fraquezas, enjoos, presença de vômitos, diarréias ou constipação. Aqui também devem ser registradas as taxas de alguns exames bioquímicos como, por exemplo: glicemia, hemograma, taxas de colesterol e frações, creatinina, uréia, acido úrico, sódio, potássio, além de taxas de algumas enzimas como GGT, TGP etc. No caso da pessoa possuir algumas outras doenças ou comorbidades já presentes, os tipos de medicações prescritas com seus respectivos horários devem ser mantidos. Nessa fase a habilidade do profissional nutricionista para coletar os dados tem extrema importância.

 

 

2- Fase de Avaliação Nutricional:

 

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Os dados coletados vão permitir ao nutricionista diagnosticar o estado nutricional, ou seja, em que grau houve prejuízo ou não da condição nutricional. Esse é o pontapé inicial do tratamento. O profissional terá acesso à necessidade nutricional do paciente em termos de calorias, proteínas e, se forem detectadas algumas carências específicas de vitaminas ou minerais, também devem ser consideradas como necessidade na alimentação. Nessa fase o conhecimento do profissional para traduzir com precisão os dados coletados na avaliação nutricional irá fazer muita diferença.

 

 

 

3- Fase de orientação do programa nutricional:

 

Nessa fase o profissional irá chegar a um acordo com o paciente sobre a alimentação. Esse consenso é um passo importante para a adesão ao tratamento e o momento em que todas as dúvidas devem ser tiradas, para fortalecer a confiança mútua.

 

pequena-nutricao-diabetes-1O programa alimentar deve ter objetivos claros como, por exemplo: manutenção da glicemia a níveis aceitáveis, estimativa de correção de peso e de carências nutricionais, auxilio para manter as taxas bioquímicas dentro da normalidade e outros objetivos traçados em comum acordo entre paciente e profissional.

 

Nesse momento vai pesar muito o conhecimento e a experiência do profissional para que possa ser criado um programa executável e que motive o paciente para que ele faça o que tem que ser feito e realize um tratamento adequado.

 

Para garantir a execução do programa, o diabético deve receber do nutricionista alguns recursos que facilitam a vida do paciente:

 

 

  • Cardapio orientativo das refeições: normalmente são seis refeições e mais outras que forem oportunas (café da manhã, colação, almoço, lanche da tarde, jantar e um lanche da noite/noturno).

 

  • Horário das refeições: Normalmente as refeições devem acontecer no mínimo a cada duas horas e no máximo a cada três horas. O consumo de alimentos de acordo com os horários visa o casamento entre o pico de eficiência dos medicamentos insulina ou hipoglicemiantes para otimizar o uso dos remédios e também evitar uma das intercorrências mais graves no tratamento da diabetes que é a hipoglicemia. Uma atenção especial deve ser dada a paciente insulinodependente, principalmente em relação aos horários e tipos das refeições noturnas.

 

  • Definição dos alimentos: é feito de acordo com a condição nutricional do paciente e a refeição ao qual é destinado.

 

  • Per capitas dos alimentos: é feito de acordo com a refeição, se possível em per capitas prontas ou quantidades prontas e cabe ao profissional traduzir as orientações com maior facilidade possível para execução. As referências em gramagem pronta, juntamente com medidas caseiras para cada porção dos alimentos a serem consumidos, tem facilitado o entendimento do paciente sobre a sua dieta.

 

 

4- Fase de execução do programa nutricional:

 

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Essa é uma das fases mais difíceis do tratamento porque é nesse momento que vão acontecer as mudanças de habito, rotina e comportamento. Será colocado em cheque o que tem que ser feito e o que se fazia entes, de forma que a realidade da doença vai “bater à porta”. Por isso, essa é uma fase altamente interativa com a família.

 

Muitas vezes o paciente é o único diabético da família e a separação dos alimentos na casa se torna difícil, mas a boa notícia é que um programa nutricional feito para o diabético é altamente saudável e pode ser aproveitado pelo resto da família, resultando em uma alimentação benéfica para todos. Nesse momento é preciso que haja muita confiança entre paciente e profissional e cabe ao nutricionista conduzir as orientações com seus conhecimentos e experiência.

 

 

5- Monitoramento dos resultados do programa nutricional:

 

Cabe ao profissional criar indicadores de avaliação para medir a eficácia do programa nutricional e acompanhar a evolução do estado nutricional do paciente. Alguns deles são:

 

  • Medição periódica do peso.

 

  • pequena-nutricao-diabetes-6Medição periódica da glicemia diária pelo menos três vezes – uma medição no jejum, outra duas horas após o almoço e uma medição 30 minutos antes de dormir.

 

  • Exames bioquímicos devem ser feitos pelo menos a cada dois meses. Se for apenas para acompanhar outras solicitações, podem ser feitas de acordos com critérios dos profissionais que acompanham o paciente, entre eles: hemograma, glicemia, uréia, creatinina, sódio e potássio.

 

  • Acompanhamento nutricional com periodicidade a ser combinada entre o profissional nutricionista e paciente.

 

 

Objetivos gerais do programa nutricional para diabetes:

 

  • Controle de peso e redução quando o caso requer.

 

  • Controle da glicemia.

 

  • Evitar ou minimizar as comorbidades (Lesão renal, neuropatias diabéticas, retinopatias, pés diabéticos, gangrena de membros inferiores, úlceras de pressão, hipertensão, osteoporose, dislipidemias, obesidade, distensão abdominal, vômitos, diarréias, cansaço, AVC, dentre outros).

 

 

Espero que tenham gostado deste texto. Não deixe de conferir a segunda parte, em que você vai conhecer os alimentos ideais e outros cujo consumo deve ser controlado para uma dieta saudável e saborosa no caso do paciente diabético.

 

 

 

Até logo,

 

 

Foto de Augusto Gonzalez Martinez

Augusto Gonzalez Martinez

2 comentários em “Qual o papel da Nutrição no tratamento da diabetes? – parte 1”

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