Qual a relação do HPV com o câncer?

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Entenda o impacto do HPV e sua influência no surgimento do câncer, especialmente o de colo de útero

 

O câncer é uma doença temida por todos por estar relacionada à morte. Mas o conhecimento sobre as suas possíveis causas permite melhores medidas preventivas e de tratamento e, por isso, vamos focar neste texto em como essa realidade pode afetar a saúde das mulheres. Um dos fatores importantes e que vamos debater a seguir é a relação do vírus HPV com o surgimento do câncer, especialmente o de colo do útero.

 

Antes de nos aprofundarmos nessa questão específica, é preciso entender quais as maiores causas dessa doença. São inúmeros os fatores que podem causar o câncer, como a herança genética (representa 5 a 10%), o tabagismo (90% dos casos de câncer no pulmão), etilismo (aumenta em 5% a incidência de câncer de mama) e contato com substâncias potencialmente tóxicas. Os pesticidas e inseticidas, o contato da pele com o alumínio, a exposição excessiva ao sol, alguns cosméticos que possuem o conservante “parabeno” e produtos de limpeza são exemplos de substâncias que podem desencadear o surgimento da doença.

 

pequena-hpv-e-cancer-1Ou seja, o jeito como vivemos e comemos aumenta a incidência do câncer. Mudar a dieta e praticar exercícios físicos pode ser uma alternativa tanto como prevenção, como parte do tratamento após o diagnóstico, como já foi abordado aqui no Blog do IESPE pelo Mestre Raphael Soares nos textos Prescrição de exercício e câncer – parte 1 e parte 2. Uma vida mais saudável e disciplinada fortalece o corpo, pois ajuda o sistema imunológico a se fortalecer.

 

A OMS avaliou que o número de mortes por câncer, em 2030, chegará a 17 milhões por ano. O envelhecimento da população pode ser um dos fatores que irá colaborar para que ele se torne uma doença crônica, como o diabetes ou a hipertensão arterial. E a mulher moderna, exposta ao estresse e à dupla jornada (trabalhar em casa e no emprego), com hábitos sociais do tabagismo e em uso de contraceptivos hormonais (com o não uso de preservativo masculino e ou feminino nas relações sexuais), está exposta a fatores de risco para o câncer do colo do útero (OMS, 2010).

 

 

O que é HPV e qual a sua relação com o câncer?

 

O câncer do colo do útero é o terceiro mais incidente na população feminina brasileira. Sabe-se que existem 13 tipos de HPV oncogênicos, com um maior risco ou chance de provocar infecções e lesões precursoras do câncer. Está associado à infecção persistente por subtipos oncogênicos do vírus (que também é chamado de Papilomavírus Humano), especialmente o HPV-16 e o HPV-18, responsáveis por cerca de 70% dos cânceres cervicais (OMS, 2010).

 

pequena-hpv-e-cancer-2O Papilomavírus humano (HPV) é um vírus da família Papilomaviridae capaz de infectar células epiteliais, causando lesões na pele ou mucosas. A infecção é altamente prevalente, sendo detectada em aproximadamente 10 a 20% da população sexualmente ativa, entre 15 e 49 anos de idade.

 

A infecção por esse vírus é muito frequente, regredindo espontaneamente na maioria das vezes. Nos casos nos quais a infecção persiste é devido ao tipo viral oncogênico, ou seja, que tem potencial para causar o câncer. Como coordenadora adjunta da Pós de Enfermagem Obstétrica e pesquisadora na área, posso afirmar que no caso do câncer na mulher o efeito é preocupante, mas precisamos estar atentos para o risco em ambos os gêneros. Isso porque podem desenvolver através desse tipo viral oncogênico lesões precursoras, que se não forem identificadas e tratadas, têm a possibilidade de progredir não só para o câncer no colo do útero, mas também para o na vagina, vulva, ânus, pênis, orofaringe e boca.

 

A transmissão do vírus se dá por contato direto com a pele ou mucosa infectada. Porém, a via sexual ainda é a principal forma de contágio, que inclui contato oral-genital, genital-genital ou mesmo manual-genital. Assim sendo, o contágio com o vírus pode ocorrer mesmo na ausência de penetração vaginal ou anal. Além disso, pode haver transmissão durante o parto.

 

 

Prevenção do HPV

 

pequena-hpv-e-cancer-3A estratégia de prevenção se dá através da vacinação em meninas na faixa etária entre 9 a 13 anos e o rastreamento pela citologia oncótica, mais conhecida como “Exame de Papanicolaou”, em mulheres na faixa etária entre 25 a 64 anos. Ambas as ações estão disponíveis na rede de serviços de saúde pública do município de Juiz de Fora e em várias outras cidades do país. Vale destacar que a faixa etária inferior a 25 anos e superior a 64 anos deve fazer o rastreamento anual. Recentemente, o governo brasileiro também introduziu a vacinação contra o vírus para meninos, que entrará em vigor em 2017.

 

Parte da prevenção de uma doença está no acompanhamento de saúde feito com a população envolvida, principalmente no caso das DST’s, como bem descreveu a minha colega enfermeira Wilma Lucia no texto O que faz o enfermeiro na ESF- Estratégia Saúde da Família. Mas para que a prevenção e tratamento possam ser eficientes, é importante estar sempre pesquisando essas enfermidades. Para se conhecer um pouco mais sobre o perfil das mulheres supostamente portadoras do HPV e em risco de desenvolverem o câncer, o Departamento de Parasitologia, Microbiologia e Imunologia do ICB da Universidade Federal de Juiz de Fora iniciou a pesquisa “Estudo Sócio-Demográfico de Mulheres com Atipias Celulares Cervicais na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais”.

 

pequena-hpv-e-cancer-4A pesquisa teve início em 2015, em parceria com o Serviço de Ginecologia do Departamento de Saúde da Mulher da Prefeitura de Juiz de Fora, com o objetivo de avaliar características sociodemográficas e aspectos clínicos de pacientes atendidas no serviço de ginecologia da Prefeitura Municipal de Juiz de Fora, com exame citológico preventivo sugestivo da presença de atipias celulares cervicais.

 

Os resultados dos dados epidemiológicos de mulheres integrantes na pesquisa e que possuíam exames citológicos alterados, foram: maioria afro-descendentes, tabagistas por mais de 10 anos, com vida sexual ativa, que não fazem uso do preservativo masculino ou feminino nas relações sexuais e com histórico de mais de um parceiro sexual ao longo da vida. O uso de contraceptivo hormonal por mais de 10 anos foi frequente, a maioria com a idade superior a 35 anos, com baixa escolaridade (ensino fundamental incompleto), casada ou em união estável.

 

pequena-hpv-e-cancer-5Sabe-se que o HPV tem uma relação direta com a carcinogênese no colo do útero. E dentro desse contexto, alguns co-fatores principais para a gênese do carcinoma espinocelular da cérvice uterina são: fatores imunológicos, infecção pelo Papilomavírus humano, fatores genéticos (polimorfismo da proteína p53), tabagismo e o uso de contraceptivo oral. Vale ressaltar que a lesão de alto grau e as atipias de células escamosas de significado indeterminado (ASC-H) estavam presentes em 50% das mulheres investigadas.

 

Como citei anteriormente, a maioria das infecções pelo vírus é assintomática e regride espontaneamente. Mas o maior risco está no fato de que tanto o homem quanto a mulher podem estar infectados pelo vírus sem apresentar sintomas. As infecções pelo vírus se apresentam como lesões microscópicas ou não produzem lesões e, por essa razão, fazer o Papanicolaou anualmente é uma boa estratégia. Quando não vemos lesões, não é possível garantir que o Papilomavírus humano não está presente, mas apenas que não está produzindo doença.

 

Espero que o texto tenha contribuído para os conhecimentos técnicos sobre o HPV e câncer e auxiliado na consciência de prevenção, que é a maior arma que temos contra ambas as doenças.

 

Abraço,

 

 

 

 

 

Referência

OMS Information Centre on Human Papilloma Virus (HPV) and Cervical Cancer. Human papillomavirus and related cancers in Brazil. Disponível em: < www.who.int/hpvcentre>. Acesso em: 20 jul. 2010. (Summary Report 2010).

 

Picture of Ana Claudia Sierra Martins

Ana Claudia Sierra Martins

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