Quais são os desafios enfrentados pelo idoso?

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Aprenda sobre as síndromes geriátricas e como fazer para ajudar a população de idosos a vencer as dificuldades atuais

Existe uma pauta que precisa ter a atenção dos países e das cidades em geral, e que é crucial em nosso tempo presente: o envelhecimento da população mundial e o de nossos municípios. Comentei sobre essa questão no meu post anterior, “Gerontologia é um assunto só para velhos?“. Mas agora que sabemos que esse será o nosso futuro, é importante perguntar: quais são as necessidades dos idosos e o que deve ser feito para atendê-las?

Ninguém pode ter dúvidas de que o período histórico em que estamos situados é marcado por diversas transformações societárias, e que afetam diretamente o conjunto da vida social em qualquer canto do globo terrestre. O aumento do número de pessoas idosas constitui-se em uma realidade inexorável. Não há em nenhuma parte de nosso ambiente geográfico que, em alguma medida, não esteja vivenciando a presença cada vez maior de demandas postas pelo envelhecimento humano. Mas será que essas demandas estão sendo atendidas pelos governos e cidadãos?

Se preocupar com essa questão é muito importante, porque esse envelhecimento não só é real, mas vem acontecendo com rapidez. Nas palavras de Alexandre Kalache, médico brasileiro e sanitarista, referência da geriatria e gerontologia nacional e internacional, estamos em plena “revolução da longevidade”. O que significa dizer que, no Brasil, o nosso envelhecimento vem se dando a passos largos e rápidos, em um ritmo que requer soluções urgentes e imediatas das diferentes instituições sociais e políticas para as necessidades e interesses das pessoas idosas.

pequena-quais-sao-os-desafios-enfrentados-pelo-idoso-1Mesmo assim, a resposta para a pergunta feita anteriormente costuma ser negativa: as demandas dessa população não vêm sendo atendidas no Brasil. Tudo nos leva a crer que envelheceremos primeiro para depois “distribuirmos o bolo”, ou seja, seremos um país de idosos antes mesmo de nos tornarmos uma nação mais justa socialmente.

Infelizmente, se por um lado é muito bom observarmos que estamos vivendo mais, por outro lado, essa longevidade não vem acompanhada de ações públicas e de políticas que assegurem dias melhores para o futuro das pessoas na velhice. Essa informação é verdadeira principalmente se considerarmos a melhoria da qualidade de vida e o tratamento social dispensado a elas. Pode se tratar de uma equação óbvia e muito simples: o que desejamos é viver mais e melhor!. E o que isso significa? Implica em afirmar que a conquista do aumento do tempo vivido – que sempre foi uma grande aspiração e desejo de toda humanidade – deve também acrescentar vida aos anos.

Quais as necessidades dos idosos e como podemos ajudar?

Para que o problema apresentado seja realmente resolvido no nosso país, o envelhecimento de nossa população, que é uma demanda da contemporaneidade, deverá incidir, com robustez, na formação profissional de acadêmicos(as) e/ou estudantes universitárias(as) em suas respectivas áreas de intervenção, suportes de conhecimentos e funcionalidades. A presença cada vez maior de pessoas idosas em nosso meio exige no mercado de trabalho profissionais qualificados para essa atuação crescente no campo da Geriatria e da Gerontologia, seja da Medicina, Enfermagem ou de outra área da saúde. O médico ou médica geriatra deverá se ocupar em promover  e/ou reabilitar a saúde da pessoa idosa, enquanto que o profissional da Gerontologia será responsável por propor ações e atividades para os idosos que contribuirão para um envelhecimento ativo e saudável. Com essa visão em mente, coordeno a pós-graduação em Gerontologia e Qualidade de Vida no IESPE.

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Mas não é necessário ser um profissional da área para auxiliar na melhora da assistência a essa população. As informações trabalhadas na Gerontologia servem para compreender o que os idosos precisam e como a atitude de cada cidadão é importante para um futuro mais justo e agradável para essas pessoas.

Um grande exemplo são os casos para a  atuação dos geriatras e gerontólogos. Nas composições de “síndromes geriátricas”, esse trabalho se faz imprescindível para não comprometer a autonomia e independência de alguns idosos.

Esses episódios típicos do avançar da idade e que precisam ser vistos por profissionais da área, indicam quais as necessidades da velhice e nos ajudam a criar um comportamento que ajude essa população a aumentar sua qualidade de vida. Vejamos a seguir, de forma resumida, quais são as cinco principais características dessa fase da vida que exigem cuidados:

1-Incontinência Urinária

É definida como a perda de urina objetiva e involuntária pela uretra, em quantidade suficiente para  ser considerada um problema médico e social (RODRIGUES, C.M.);

pequena-quais-sao-os-desafios-enfrentados-pelo-idoso-32-Imobilidade

Trata-se de uma síndrome que é representada por um conjunto de alterações que podem ocorrer no idoso, devido à uma imobilização por período prolongado e cujas complicações poderão comprometer em muito a saúde, a qualidade de vida e a autonomia da pessoa idosa (FORTES, N.H.);

3- Incapacidade Cognitiva

Toda pessoa idosa com queixas cognitivas deve ser submetida a uma avaliação, se o aparecimento tiver sido súbito. Deve-se pensar em “delirium” (estado de confusão mental), afastar e tratar as  causas precipitantes e, em quadros mais graves, deverá ser realizada uma avaliação minuciosa e abrangente para demência, depressão e distúrbio cognitivo leve (SALDANHA, A.L.);

4- Instabilidade Postural/Quedas

pequena-quais-sao-os-desafios-enfrentados-pelo-idoso-4Os mecanismos responsáveis pelo equilíbrio postural são principalmente a visão, o sistema vestibular (parte do ouvido responsável pelo equilíbrio), o sistema proprioreceptivo (tato, que informa como e onde estamos pisando) e o aparelho locomotor composto por ossos, músculos, tendões e articulações. A característica multifatorial das quedas, exige vários níveis de atenção – tanto nos seus aspectos clínicos, como psicológicos, sociais, comportamentais – exigindo uma estratégia que deve ter a participação de equipes de profissionais habilitados para lidar com o idoso. (BUSKMAN, S.; VILELA, A.L);

5- Iatrogenia

Refere-se a todo malefício provocado no paciente idoso, decorrente do seu tratamento, seja ele medicamentoso ou simplesmente no âmbito das relações humanas. Os procedimentos iatrogênicos podem ser classificados, de acordo com a sua natureza:

pequena-quais-sao-os-desafios-enfrentados-pelo-idoso-5Iatrogenia da palavra ou conceitual: é fruto de atitudes preconceituosas em relação à velhice e ao idoso, que é visto como ser inútil, excluído socialmente;

Iatrogenia do cuidado: decorre, na maioria das vezes, de negligência no cuidado cotidiano, principalmente de idosos dependentes. Muitas vezes, são vítimas de maus tratos e exploração financeira, por parte de filhos, netos e até mesmo de cuidadores formais;

Iatrogenia dos medicamentos: além de efeitos colaterais decorrentes de doses inadequadas, metabolismo diferenciado ou apresentações atípicas de várias doenças, a pessoa idosa está mais propensa a iatrogenia pela multiplicidade de patologias que podem apresentar. O uso de várias drogas ao mesmo tempo pode levar a interações nocivas das substâncias entre si.

Qual o futuro do idoso no Brasil?

Para o trabalho com as pessoas idosas ser realizado da forma correta, é fundamental o preparo e a qualificação dos profissionais da Geriatria e da Gerontologia, pela natureza dos pacientes idosos e os cuidados de seus familiares. Mas é muito importante que o tratamento ao idoso seja mudado em todas as esferas.

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Sabemos que, infelizmente, a violência contra a terceira idade sempre existiu, desde que o mundo é mundo. As evidências dessa realidade podem ser expressas de diversas maneiras: uma agressão que marca o corpo da pessoa, como os braços e o rosto, por exemplo, e também as que não vemos, que não aparecem à primeira vista. São as silenciosas, que estão grudadas na alma. São palavrões vindos de casa, carregados de intolerância de um familiar, com acúmulo de frustrações diante da vida em seus projetos pessoais e profissionais, o que reproduz uma convivência familiar extremamente desequilibrada.

Como denunciar às autoridades as agressões sofridas por um(a) filho(a), por neto(a) ou sobrinho(a)? É nesse contexto de relações mais próximas que as violências contra as pessoas idosas acontecem. O inimigo não mora ao lado. O inimigo dorme com você! Estudos gerontológicos apontam essa realidade. É principalmente em suas relações domésticas que ganha forma a violência contra os idosos e idosas.

Mas não é só em casa que essas pessoas são agredidas. Vemos isso também no convívio diário com a cidade. No atendimento mensal, em algumas agências bancárias, para recebimento de seus benefícios previdenciários, sob sol e chuva, enfrentando enormes filas e à mercê da sorte alheia. E também em alguns ônibus do transporte coletivo urbano, quando falta educação em alguns passageiros, na garantia do assento preferencial destinado às pessoas idosas. Ou aquele motorista, desavisado e despreparado, que acha que não vai envelhecer, que não para no ponto para a pessoa idosa acessar o interior do ônibus. Violências são muitas. E estão em toda parte.

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Mas o que nós, cidadãos, podemos fazer para combatê-las? Ter paciência e compreensão com um familiar idoso é fundamental. Contribuir para que os idosos tenham um bom tratamento e qualidade de vida, fazendo a nossa parte na hora de interagir com essas pessoas no dia-a-dia e/ou contribuindo com políticas públicas também é de muita importância para o futuro do país.

Felizmente, apesar da dificuldade que essa faixa etária enfrenta no Brasil, existem belas iniciativas que mostram que ainda existe esperança para a terceira idade. Podemos citar, por exemplo, o Projeto Velho Amigo que oferece serviços em diversas áreas, como saúde, educação e atividade física para a inclusão dos idosos na sociedade.

Acredito que ainda vai demorar um tempo para aumentar nossa educação e cultura cívica em relação ao respeito e atenção às pessoas idosas. O envelhecimento humano diz respeito a toda sociedade. Mas se desejamos  ter cidades solidárias e com um alto grau de civilidade, comecemos o quanto antes a dirigir ações, projetos e programas para a população que mais cresce no mundo, no Brasil e em Juiz de Fora: a população dos que tem 60 anos ou mais.

Autor:

José Anísio Pitico
Assistente Social
Coordenador da Pós-Graduação em Gerontologia e Qualidade de Vida da FacRedentor no IESPE; Assistente Social; Mestre em Serviço Social (UFJF); Especialista em Gerontologia (SBGG); Especialista em Gestão Estratégia Pública; Integrante do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa

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Jose Anisio Pitico

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