Entenda os motivos que fazem do Spinning uma modalidade cheia de benefícios para clientes e profissionais de Educação Física
Por incrível que pareça, quando mais novo não praticava exercício físico algum, a não ser andar de bicicleta na rua com os amigos. Todavia, comecei a praticar karatê na adolescência e daí a minha preferência por exercício físico se tornou cada vez maior e extremamente influente na minha escolha do vestibular.
Formado em Educação Física há mais de 16 anos pela UFJF, hoje sou personal trainer e professor com duas pós-graduações em minha estrada, conseguindo unir essas duas atividades físicas através de duas certificações internacionais em ciclismo estacionário (Black Card JGSPINNING e a ICG) e da faixa preta 2º dan de Karate-do pela ITKF.
Sendo assim, após a graduação eu já trabalhava na área de musculação e em algumas atividades coletivas em uma academia e, no final do ano 2000, chegou uma nova atividade em Juiz de Fora (MG). O spinning logo ficou famoso em minha cidade, e por gostar muito de música e de bicicleta, comecei a me interessar pela modalidade.
De lá para cá são mais de 20 cursos de atualização realizados, ministrados e organizados, além de introdução da modalidade em uma empresa de fitness da cidade, coordenação de algumas academias e uma paixão e envolvimento eterno com a modalidade. Hoje me envolvo em uma empresa de Fitness como coordenador geral dessa atividade. Lembrando que “ciclismo estacionário” ou “ciclismo em academia” é o real nome da modalidade, já que “spinning” é como se chama o programa mais famoso da área (original que deu origem a vários outros, que em sua maioria são cópias do original).
Cuidados e restrições para garantir os benefícios do spinning
Vale ressaltar que o ciclismo em academia ou ciclismo indoor (termo que não gosto muito de utilizar, por misturar a língua portuguesa e inglesa), é uma atividade cardiorrespiratória e, ao contrário do que algumas pessoas leigas imaginam e, inclusive, alguns professores, sua maior responsabilidade não é o trabalho de membros inferiores e sim um trabalho cardiopulmonar bem realizado. As adaptações de ganho de volume são baixas, promovendo na realidade um enrijecimento de membros inferiores. Assim, a alteração de sua simples biomecânica pode comprometer articulações importantes, podendo gerar lesões significativas.
Alguns estudos demonstram que o maior índice de lesão nas aulas está relacionado aos ajustes irregulares ou fora dos pontos de referência de uma melhor biomecânica (altura e distância de banco e altura de guidom) e técnicas inapropriadas, por sobrecarregarem as articulações e seus sistemas em conjunto. Mas quando realizado da forma correta, ele não só traz muitos benefícios como também é recomendado para uma grande variedade de públicos. Até pessoas com problemas na articulação do joelho podem fazer o spinning, desde que não haja dor ou outros sintomas negativos como inchaço. Restringem-se sim algumas técnicas mais avançadas, que podem sobrecarregar as articulações ali exigidas.
E dentro de suas restrições, o maior problema seriam as crianças, pois a maioria das bicicletas não possuem ajustes para tal público. Mas já se tem relatos de alunos de 12 anos de idade, bem como o outro extremo, alunos com 80 anos praticando essa modalidade que se manteve firme dentro das academias, dentro de suas possibilidades, é claro, e desde que o profissional ajuste suas aulas de forma flexível a seu público ou variação de público.
Ainda nesse quesito de lesões, temos alguns professores ou empresas que negligenciam alguns princípios do treinamento desportivo aplicados a essa modalidade, ou ainda a capacidade de seus alunos/clientes de se recuperarem. Assim, não tomam uma medida importante: a organização do treinamento (que damos o nome de periodização) para sua prática diária, através de alterações de volumes e intensidades de forma segura, condizente e conscientemente embasada.
Existem preocupações maiores por parte de um profissional do que somente um gasto calórico mais alto, como, por exemplo, a saúde de quem pratica o exercício todos os dias, de segunda a sexta ou até mesmo de segunda a segunda. Equilibrar esses sistemas ajuda inclusive a fidelizar os alunos/clientes nas aulas e na empresa em que eles se encontram matriculados, garantindo satisfação no praticante, no professor que ministra as aulas/treino e no empresário que vê a sua empresa sendo preservada.
Portanto, a periodização do treinamento deve ser aplicada de forma sistemática, mesmo que a empresa tenha uma rotatividade relativamente alta nas aulas, até mesmo para justificar a presença constante do aluno/cliente. Mas é também importante promover treinamentos mais intensos em alguns dias de forma ativa e garantindo que esse praticante tenha mais um dia de treino para uma melhor recuperação. Assim, ele consegue vencer um dos maiores inimigos da atualidade: o “sofá” ou qualquer outro objeto metafórico que possamos colocar para essa situação de inércia.
Quais são os maiores benefícios que os alunos procuram no spinning?
Dentro dos objetivos dos praticantes do ciclismo estacionário, está em maior parte o emagrecimento associado ao gasto calórico elevado que a atividade pode promover, e, ainda, à melhora do condicionamento cardiopulmonar. Existem também os que buscam melhora dos aspectos psíquicos, autoestima, diminuição do estresse, dentre outros fatores.
E, por incrível que pareça, já foram publicados estudos sólidos demonstrando a melhora das respostas pressóricas (pressão arterial) para hipertensos, melhora no quadro de glicemia para diabéticos e respostas positivas para pessoas que tiveram algum tipo de evento cardíaco. É lógico que tudo isso com suas restrições, de acordo com a referência de seus médicos ou o embasamento do Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM).
Mas ainda existem os praticantes que buscam uma atividade que saia dos padrões “normais” que uma empresa de fitness oferece, pois, diferentemente da maioria das outras atividades coletivas, o ciclismo indoor disponibiliza aulas em que se pode trabalhar qualquer tipo de ritmo e estilo musical. Podem ser usadas músicas que vão do erudito (popularmente chamado de clássico) ao rock n roll, do eletrônico ao new age, das trilhas sonoras épicas de vários filmes aos ritmos mais variados brasileiros (ou de qualquer outra nacionalidade que o profissional buscar e que cair no gosto dos seus “seguidores” diários).
E como podemos trabalhar com uma variedade tão grande de públicos, muitas vezes na mesma aula? Simples: as intensidades são dadas através de percentuais de esforços, que, entre outros parâmetros, inclui a frequência cardíaca, escalas subjetivas de esforço e percepções respiratórias. Contudo, é necessário que o professor esteja preparado para isso, com um conhecimento apurado também em fisiologia do exercício, biomecânica, treinamento desportivo geral e aplicado à modalidade.
Já tive dentro da mesma sala um cardiopata, um hipertenso, um idoso um atleta de ciclismo amador e também pessoas do nosso dia-a-dia, como mães, pais, juízes, advogados, médicos, educadores físicos, arquitetos, “donas de casa”, estudantes e pessoas com os mais variados perfis. Inclusive, tive uma cliente gestante que fez aula até uma semana antes de seu parto marcado.
Porém, para cada caso especial, é necessário muito profissionalismo e cuidado, e em algumas situações inclusive orientar a procura do médico, um fisioterapeuta ou outro profissional antes de continuar a atividade ou de voltar a uma aula, para se manter a integridade do praticante.
“Por que fazer o spinning se eu posso pedalar na rua?”
Um ponto positivo para a prática da modalidade indoor, relacionado ao ambiente outdoor é a segurança, pois a maioria das cidades não possui um bom local para se treinar e praticar de forma segura um ciclismo nas mais variadas modalidades (estrada ou asfalto, a mountain bike, downhill…). Dentro da sala, a segurança está garantida se compararmos com o que o trânsito externo pode oferecer.
Além disso, a conciliação do ambiente fechado e do ambiente aberto é complementar em vários aspectos, o que, inclusive, está presente na história do criador da modalidade de spinning, Johnny G. Ele é um ultramaratonista de ciclismo que para concluir uma das provas mais desgastantes do esporte no mundo, a Race Across America (RAAM), treinou em uma bicicleta estacionária, criada por ele mesmo de forma artesanal, a qual posteriormente veio a ser associada com músicas e a se espalhar por todo o globo, com mais de 80 países e seu programa pioneiro, o “SPINNING” original.
A grande sacada de Johnny G. foi justamente equalizar músicas dos mais diferentes estilos com uma atividade em grupo, promovendo uma sociabilização importante no mundo atual, onde a maioria das pessoas está presa a telas e suas “solidões acompanhadas” (computadores, tablets, smartphones).
Ainda nesse sentido, a motivação se torna ainda maior, pois além das mais variadas formas motivacionais que um professor pode trabalhar, sendo insubstituível se comparado com uma máquina, trabalha-se com movimentos simples, combinações de formas infinitas nos planos de aula ou treinos coerentes com que a ciência promove de conhecimento para tal. O professor tem a capacidade de envolver seus alunos nas mais diferentes “estradas” imaginadas e criadas nas aulas, simulando planos e subidas em variadas cadências e intensidades.
A importância de se especializar na área
Percebe-se nesse sentido que a gama de conhecimento de um profissional que queira trabalhar com a modalidade de ciclismo deve ser a mais variada possível, e com uma constante procura de atualização. É algo que estou sempre passando para meus alunos no módulo sobre Ciclismo Estacionário (Ciclismo Indoor ou Bike Indoor) na Pós-graduação de Ciência do Exercício Aplicada ao Fitness da FacRedentor no IESPE. Afinal, a especialização já se tornou um pré-requisito para profissionais que desejam entrar ou se manter no mercado de trabalho.
Eu mesmo, para atualizar meu conhecimento e para me manter constantemente desafiado a isso, busco trazer sempre um curso por ano para a cidade, como uma forma de educação continuada. Nesses cursos, trago grandes nomes do território nacional dentro da modalidade e busco ainda em algum momento futuro começar a trazer também referências internacionais, e ainda ministro cursos sobre a modalidade também.
Como coordenador de uma rede de academias em Juiz de Fora (MG), também procuro promover atualizações para minha equipe e mais, promover a modalidade e atualizações para possíveis futuros profissionais que possam vir a fazer parte de minha equipe, sejam já professores formados ou estagiários em sua formação.
Dentre esses cursos que ministro, organizei nos dias 29 e 30 de outubro de 2016 a “2ª Clínica Nacional de Ciclismo em Academia (Ciclismo Indoor)”, com quatro grandes nomes da modalidade ligados à equipe brasileira do criador do spinning, além de professores que já deram ou ainda ministram aulas nos mais diversos congressos e encontros sobre a modalidade.
É se atualizando constantemente que o profissional de Educação Física consegue cada vez conquistar mais alunos e clientes, obtendo principalmente resultados importantes na vida e saúde dessas pessoas. Por isso, espero que o texto tenha ajudado você a ficar mais atualizado nessa atividade tão dinâmica e importante que é o ciclismo de academia ou spinning.
Abraços,