Os desafios do APH – Atendimento Pré-Hospitalar

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Conheça a rotina do enfermeiro emergencista no APH – Atendimento Pré-Hospitalar

Você tem o que é preciso para ser um enfermeiro emergencista? O Atendimento Pré-Hospitalar é a especialização certa para você? Como é feito o APH?

Se essas perguntas já passaram pela sua cabeça ou até te deixam ansioso, o primeiro conselho é que fique tranquilo porque é muito comum ter dúvidas no momento em que se escolhe a profissão de enfermeiro. E, normalmente, a principal delas é saber que área seguir e qual tipo de trabalho se enquadra em seu perfil.

Como enfermeira intensivista escrevendo o primeiro post para o Blog do IESPE, penso que a melhor maneira de passar a minha paixão pela profissão e te ajudar a saber se deve tomar essa decisão é começar do zero: afinal, o que é APH?

Se fosse preciso definir o que é esse trabalho em uma frase, poderíamos dizer que: o APH – Atendimento Pré-Hospitalar é aquele ofertado a pessoas em situação de urgências e emergências, sendo realizado antes da chegada do paciente ao hospital, ou seja, no local do ocorrido e na ambulância.

Por mais que essa definição seja correta, ela sozinha não é suficiente para entender a importância e os desafios do dia a dia desse trabalho. Principalmente porque a equipe de saúde que tripula uma ambulância deve estar preparada para atuar em casos clínicos agudos, bem como traumas que envolvem impactos e troca de energia. A partir do momento em que o profissional chega ao local do acidente, todos os esforços contra o tempo seguem em função de um objetivo que parece simples: estabilizar o paciente, dando ao organismo condições de compensar os danos até que o tratamento definitivo seja estabelecido. Mas não só atingir essa meta exige muito esforço e cooperação da equipe, como também o profissional pode se deparar com situações graves que vão ao encontro de suas experiências pessoais e geram uma reação emocional.

   

História e procedimentos do Atendimento Pré-Hospitalar

Tudo começou no fim do século XVIII, quando o Barão Dominick Joan Larrey, cirurgião-chefe militar de Napoleão, estabeleceu a teoria de atendimento pré-hospitalar utilizada até os dias atuais, que institui como base a “ambulância voadora”.

Naquela época, porém, o atendimento consistia em uma carruagem puxada a cavalos que era deslocada até o “front de batalha” para o atendimento dos soldados feridos de guerra em um sistema em que a assistência ia até a vítima. O que foi padrão desde o começo desse trabalho foi o tratamento adequado dos profissionais médicos que faziam o controle de hemorragias no local do trauma e também atendiam as vítimas durante o transporte para o hospital mais próximo.

APH
A “ambulância voadora” do Barão Dominick Joan Larrey

Ainda falando de contexto histórico do APH – Atendimento Pré-Hospitalar, é importante ressaltar a criação do ATLS – Advanced Trauma Life Support (Suporte Avançado de Vida no Trauma), sistema de capacitação para o atendimento em ambiente intra-hospitalar de doentes traumatizados. O procedimento foi gerado em 1978, dois anos após um cirurgião ortopédico, a esposa e seus quatro filhos sofrerem um acidente com um avião bimotor no estado de Nebraska. A esposa foi a óbito instantaneamente e os filhos foram gravemente feridos, sendo os últimos transportados sem qualquer imobilização para o hospital mais próximo, onde receberam os primeiros atendimentos também de maneira inadequada.

A partir daí ficou clara a necessidade de treinamento dos profissionais bem como a implantação de um sistema para recepção dos pacientes vítimas de trauma. Após cinco anos do desenvolvimento do ATLS, se deu a concepção do PHTLS – Prehospital Trauma Life Support (Atendimento Pré-Hospitalar ao Traumatizado), sistema de capacitação para o atendimento em ambiente Pré-Hospitalar de doentes traumatizados, que se estabeleceu como referência mundial para o atendimento ao trauma em ambiente Pré-Hospitalar até os dias atuais.

O suporte Pré-Hospitalar é conhecido por salvar vidas, pois é ele o responsável por frear a evolução de danos imediatos, que possivelmente levariam à morte. Além disso, pode fazer a diferença entre a vida e a morte e entre uma sequela temporária ou permanente através das suas táticas e métodos. Algo que é sempre seguido no APH – Atendimento Pré-Hospitalar, por exemplo, é o chamado ABCDE: uma abordagem inicial de procedimentos que garantem um atendimento padronizado e eficiente. Isso significa que, após garantir que o local do ocorrido está seguro, o enfermeiro emergencista deve, nesta ordem:

A – Controlar a coluna cervical e fazer manutenção de vias aéreas pérvias

B – Avaliar o padrão respiratório e o processo de ventilação

C – Avaliar o padrão circulatório e controlar hemorragias

D – Fazer a avaliação neurológica

E – Expor as vestes da vítima nos locais lesionados e fazer a prevenção de hipotermia             

Qual é o perfil do enfermeiro emergencista?     

Os desafios do APH - Atendimento Pré Hospitalar

Dentro desse contexto, existe uma grande questão de impacto social. Afinal, o Trauma é considerado um grande problema de saúde pública, com números alarmantes: constitui a causa de morte mais comum entre 01 a 44 anos, sendo que 80% das mortes de adolescentes e 60% de mortes na infância são decorrentes de trauma. Diante desses dados, é inevitável pensar na quantidade de casos que poderiam ter sido evitados diante de um atendimento próprio. Mais ainda, é preciso estar ciente de que não é só a falta desse trabalho, mas também a sua aplicação incorreta que gera consequências gravíssimas. Os erros no atendimento inicial ao paciente grave fazem com que um grande número de indivíduos fiquem economicamente inativos por conta de limitações estabelecidas pelas sequelas.

Já deu para perceber que o dia a dia do APH – Atendimento Pré-Hospitalar é pura adrenalina e uma grande responsabilidade, não é? Por isso, lidar com pacientes em estado grave necessitando de atendimento rápido e coordenado é normalmente um trabalho que exige um perfil muito específico dos enfermeiros, mas que nem sempre é compreendido. Um erro comum, por exemplo, é pensar que só é necessário “estômago” para seguir essa carreira.

Costumamos ouvir, levianamente, que um socorrista precisa ser duro, que sensibilidade atrapalha e que bom é aquele profissional que não se abala por nada. Mas nós pensamos o contrário: quando você não se abala, quando não se emociona, quando seus olhos não se encherem de lagrimas é a hora de parar!

É claro que para atuar em situações de grande pressão e stress emocional, o autocontrole é essencial, porém a compaixão é o sentimento que nos move a fazer um bom trabalho.                                                                                                                                 

Poder ajudar é a coisa mais linda do mundo!               

                                                                    

O que é APH - Atendimento Pré-Hospitalar

No auge dos meus 20 anos, no meu estágio no SAMU Municipal de Juiz de Fora, estava em um dia calmo de plantão quando a minha equipe foi direcionada a atender uma vítima de agressão. A ambulância foi seguindo por uma estrada de chão e logo enxergamos um corpo bastante ensanguentado no meio do mato. Se tratava de um rapaz, que beirava a minha idade e que tinha sido agredido e esfaqueado. Apresentava várias feridas corto contusas na cabeça e crepitações por todo o crânio, além de algumas facadas e lacerações produzidas por toda a pele. E parecia se tratar de uma briga de tráfico, pois em sua mochila achamos um pacote de cocaína.

Os desafios do APH - Atendimento Pré Hospitalar
Quenfins Almeida – enfermeira socorrista

Durante aquele atendimento, antes de chegar a Glasgow 3, aquele menino olhava fixamente para mim e a região dos olhos era a única parte do corpo onde não havia sangue.  Eu me lembro que, naquele momento em que ele me encarava fixamente, comecei a pensar que aquele garoto era filho de alguém, que alguém estava esperando por ele em casa e imaginei se ele teria irmãos, amigos ou namorada.

Ele tinha quase a minha idade e aquele olhar fixo em mim me fez refletir que, traficante ou não, vítima de agressão ou não, aquele garoto era uma pessoa e em breve alguém ia sofrer pelo que foi feito com ele. Além disso, foi fantástico quando a minha ficha caiu e eu percebi que ele ia agonizar até a morte se não fosse a nossa ajuda!

Eu não me lembro dos parâmetros vitais, não me lembro do local e nem de maiores detalhes, mas eu nunca vou esquecer aquela sensação, não vou esquecer aqueles olhos, nem aquele dia, em que eu percebi que não se tratava somente de um atendimento, de uma ocorrência ou de uma oportunidade para a acadêmica curiosa aprender coisas novas. Ali eu percebi que os pacientes não são um corpo, que são pessoas, que tem uma história e que poder ajudar é a coisa mais linda do mundo!                                                                                                                               O que é APH - Atendimento Pré-Hospitalar                                                                                                                                              

                                                                                                                                      

Nós enfermeiros devemos ter sempre em mente que temos que oferecer segurança e eficiência a nossos pacientes que estão nas piores condições, visto que nossos doentes não nos escolhem, fomos nós que escolhemos estar ali! É exatamente isto que tentamos despertar nos alunos a cada aula: que sintam, que tenham compaixão pelo próximo, que atendam aquele “desconhecido” como se fosse um ente querido e que façam isso com responsabilidade a vida que está confiada nas mãos deles. É preciso destacar a importância de se ter um conhecimento científico da área, pois ele que vai fazer a diferença na hora em que você precisar manter a calma e saber quais diretrizes seguir para preservar a vida do paciente. Para que isso aconteça, um profissional de saúde que decide seguir essa carreira deve também desenvolver espírito de equipe e de liderança bem como boa capacidade de comunicação para atuar em situações de extrema pressão.

O que é APH - Atendimento Pré-HospitalarPosso afirmar com segurança a importância desse perfil porque ensino esses princípios no curso de extensão em atendimento pré-hospitalar do IESPE: o APH Trauma – Atendimento Pré-Hospitalar. A especialização nesse atendimento é voltada para casos decorrentes de trauma físico e pode ser feita por Técnicos em Enfermagem, graduandos de Enfermagem e condutores de ambulância. Outra opção para quem quer se especializar na área é o APH Clínico – Atendimento Pré-Hospitalar. Nesse caso, o foco são todas as outras urgências, além das decorrentes de trauma, que podem acontecer no ambiente Pré-Hospitalar por origem clínica: disfunções cardiológicas, neurológicas, respiratórias, infecciosas, entre outras. É bom ficar atento que para fazer a especialização em casos clínicos é necessário já possuir um conhecimento na área, ou seja, é ideal que seja Técnico de Enfermagem ou esteja cursando a faculdade de Enfermagem.

Nas 50 horas do curso de APH é ensinada  a ciência, fisiologia e técnicas referentes ao resgate e também trabalhado o perfil profissional de cada aluno para atuar nas situações de risco.

E, diariamente, esse é o meu maior desafio e maior prazer! Portanto, se você ainda está curioso em relação a essa área e quer se inteirar sobre as técnicas utilizadas no nosso dia a dia, fique ligado nos próximos posts.

Foto de Quenfins Almeida

Quenfins Almeida

Enfermeira graduada pela Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora. Pós-graduada em Terapia Intensiva pela UniRedentor/IESPE de Juiz de Fora. Professora e Coordenadora do Curso APH Trauma – Atendimento Pré-Hospitalar do IESPE. Enfermeira no Serviço de Urgência e Emergência da HELP Urgências Médicas. Docente e Coordenadora de aulas práticas da pós-graduação em Urgência e Emergência com Ênfase em Cardiologia e professora convidada para a especialização em Ciência do Exercício Aplicada ao Fitness da UniRedentor. Palestrante em diversos Congressos e Eventos na Área da Enfermagem e Trauma.

6 comentários em “Os desafios do APH – Atendimento Pré-Hospitalar”

  1. Atuo no atendimento de emergência e APH há mais de 18 anos, venho acompanhando todo o desenvolvendo do APH através de simpósios, cursos como os que a sua instituição ministra (que por sinal sempre recomendo), estudo continuado e outros. E sua iniciativa é muito importante para que todos conheçam a realidade dessa nobre arte que é o APH. Parabéns.

  2. Boa noite!
    Gostaria de saber quem pode ministrar o curso de APH? Alguém que já realizou o curso de APH,por exemplo, um bombeiro ele é autorizado a ministrar esse curso?

Os comentários estão encerrado.

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