Entenda os fatores neurobiológicos da atividade física e a importância do trabalho de educadores físicos e nutricionistas para a saúde da população
Que a prática regular de atividade física é capaz de melhorar nosso corpo todos já sabem. Mas o mais difícil para um profissional de Educação Física e de Nutrição é entender como isso ocorre.
Você deve estar se perguntando por que eu mencionei também o profissional de Nutrição. Simples! Os nutrientes alimentares também conseguem ativar vias metabólicas melhoradas pelo exercício físico. Por mais que algumas sejam mais potencialmente melhoradas com o nutriente em si do que com a contração muscular( e vice-versa), a união de ambas é considerada o principal pilar para o melhoramento do metabolismo, e, consequentemente, para a promoção dos desfechos saudáveis principais: emagrecimento e ganho de massa muscular. Por isso, já escrevi alguns textos aqui para o Blog do IESPE tratando da união entre esses dois recursos seja em relação à dose correta, contribuição para o emagrecimento ou importância nas diferentes fases da vida.
Importante lembrar que tanto a atividade física quanto a dieta necessitam de uma base biológica, psicológica e social, ou seja, para se engajar em um estilo de vida ativo e saudável é preciso entrelaçar o ambiente, a mentalidade e o comportamento adequado. Assim , o indivíduo conseguirá aderir à práticas dietéticas saudáveis e principalmente ao movimento humano através da contração muscular do exercício físico, independentemente da modalidade praticada.
A figura acima foi retirada de uma publicação científica realizada pelo estudioso do exercício Rod K. Dishman e colaboradores, e mostra a incrível e complexa gama de interações fisiológicas estimuladas pela atividade física.
Praticamente todos os sistemas fisiológicos de nosso corpo são dinamicamente modulados para fornecer um ambiente propício para as adaptações agudas. Elas são desencadeadas pela atividade neurobiológica e, a longo prazo, são reprogramadas e evoluídas de acordo com o grau de aderência à prática.
O efeito neurobiológico da atividade física no cérebro
O exercício físico inicialmente precisa ser “pensado” e “executado” pelo sistema nervoso central antes de desencadear um estímulo neural motor Isso significa que o lobo frontal, mais precisamente o córtex-frontal (situado em uma área que também chamamos de pré-motora), precisa ser excitado pelo envio de sinapses neurais advindas da área somatossensorial que planeja e “pensa” o movimento corporal.
A partir desse estímulo cognitivo, retroalimentado por impulsos aferentes neurohumorais (que potencializam o controle cognitivo, executor e emocional do movimento), a propagação dos sinais nervosos eferentes são trafegados pela medula espinhal até chegar na junção neuromuscular. Esses potenciais de ação estimulam a entrada de cálcio nas vesículas, que liberam os neurotransmissores excitatórios. Assim, eles acionam sua liberação na placa motora, produzindo a excitabilidade da célula muscular e consequente contração muscular das miofibrilas.
A contração voluntária do músculo esquelético exercitado é, portanto, acionada por estímulos neurohumorais, tanto pelo sistema nervoso quanto por hormônios liberados por glândulas do sistema endócrino.
Paralelamente, os músculos exercitados necessitam de combustível para manter a contratilidade muscular. E os nutrientes fornecem essa demanda. O acionamento energético em si é proporcionado pelos macronutrientes carboidratos, gorduras e em alguns casos pelas proteínas dietéticas.
Além disso, é de suma importância o consumo adequado de micronutrientes, tais quais vitaminas e minerais. Embora não exerçam condições energéticas, são imprescindíveis para a ativação das reações metabólicas (que também necessitam de água e oxigênio) para utilizar adequadamente os substratos energéticos advindos das reservas musculares e adiposas sintetizadas a partir do consumo equilibrado dos alimentos.
Efeitos da atividade física no sistema cardiovascular
A retroalimentação da atividade metabólica exigida pela contração muscular repercute nos diversos sistemas de nosso corpo.
No sistema cardiovascular, os vasos precisam dilatar ou constringir, para modular o quanto o sangue será perfundido em outros tecidos, inclusive no próprio coração, através das artérias coronárias. O maior aumento do fluxo sanguíneo provocado pela demanda energética da atividade física faz com que o coração necessite contrair mais rápido e mais forte. Com o débito cardíaco aumentado em até 5 vezes, há uma maior entrega dos nutrientes que estão no sangue para os tecidos alvos, em especial os músculos esqueléticos.
Entre esses nutrientes, quanto maior for a entrega de oxigênio aos tecidos, maior será a metabolização dos substratos energéticos. Contudo, o grau de oxidação dos nutrientes é modulado pelo quão eficiente é a capacidade da célula em metabolizá-los.
Para isso, é importante que essa célula apresente um bom conteúdo de enzimas e proteínas que possam acionar e coordenar a metabolização dos substratos energéticos. Além disso, é necessário que ela tenha uma concentração adequada de organelas que promovam o anabolismo e catabolismo integrativo dos tecidos, a partir do número e atividade das estruturas celulares presentes num dado sistema orgânico. Como exemplo de organelas essenciais para o metabolismo citamos as mitocôndrias e os ribossomos, responsáveis respectivamente pela respiração celular e síntese de proteínas.
A importância da atividade física
A atividade metabólica é considerada o principal mediador do ganho/perda de peso e massa muscular, que no âmbito do Fitness são os principais objetivos pelos quais as pessoas procuram os serviços de professores de educação física.
A comunicação entre os principais tecidos que coordenam a utilização e metabolização dos nutrientes é um dos grandes pilares para a modulação dos desfechos desejados pelos clientes. Por isso, o profissional que procura estudar e adquirir cada vez mais conhecimento consegue garantir com mais confiança esses resultados, no âmbito geral de Fitness e no atendimento especializado a Grupos Especiais.
Um sistema musculoesquelético eficiente possibilitado por esse trabalho reflete em um bom funcionamento do fígado e do tecido adiposo, outros principais sistemas responsáveis pela saúde metabólica e balanço energético que coordenam o anabolismo/catabolismo tecidual.
Uma ineficiência no funcionamento desses órgãos pode desencadear um desequilíbrio entre a atividade hormonal e também inflamatória, ambas sistêmicas.
Um outro órgão de grande importância metabólica é o gastrointestinal. Ora, se eu não consigo digerir e absorver adequadamente os nutrientes, eles não chegarão ao sangue e, consequentemente, não serão distribuídos. Além disso, uma absorção comprometida leva ao prejuízo da atividade hormonal e inflamatória, o que repercute negativamente no controle imunológico dos diversos sistemas e leva ao aumento do estresse oxidativo celular e produção de radicais livres. Tudo isso traz prejuízos ao trânsito intestinal e eleva a constipação intestinal, além de aumentar as chances do indivíduo desenvolver diversos tipos de câncer.
Embora a atividade física seja capaz de melhorar todos esses aspectos, ele deve ser feito para o resto da vida, pois a incorporação e aprendizado das funções fisiológicas executadas pelas células depende dos comandos gerados pelo seu DNA .
Embora o componente genético inato seja herdado pelos pais, existe uma condição que é capaz de modular o quanto nossos genes podem ser positivamente influenciados a trabalhar melhor. Os fatores epigenéticos aumentam o grau de metilação e outros impulsos sobre a cromatina do DNA celular, aumentando ou reduzindo a responsividade à uma determinada função, como a de coordenar a síntese de novas proteínas.
Ou seja, a prática regular de exercícios físicos faz com que o DNA da célula fique acostumado a funcionar melhor e mandar um volume maior de informações para que ela produza mais componentes orgânicos. Essa produção melhora a atividade biológica dos sistemas, aperfeiçoando o metabolismo como um todo e permitindo que as informações sejam sempre programadas a funcionar mais eficientemente. Reduzindo a geração de comprometimentos metabólicos, esse processo aumenta as chances da memória celular adquirida ao longo de uma vida ativa ser propagada aos descendentes, o que pode estimular uma carga genética “saudável” para os filhos.
Portanto, nunca deixe de investir na atividade física, independentemente da fase da vida, visto que as adaptações são adquiridas nos diversos períodos de crescimento e desenvolvimento humano.
Em contrapartida, é necessário avaliar e prescrever adequadamente os diversos tipos de exercício físico, no intuito de desenvolver estratégias seguras e planejadas que respeitam a individualidade biológica de quem a pratica e garantem a efetividade ao longo da periodização incremental das cargas de treino durante os anos de treinamento.
Isso demonstra o quão importante é a capacitação dos profissionais de educação física e nutricionistas esportivos que irão atuar nesse nicho de mercado. Portanto, não perca a oportunidade de evoluir fazendo uma pós-graduação para que você desenvolva essas condições e alcance a excelência profissional.
Referências:
Dishman R.K. et al. Neurobiology of Exercise. Obesity, 2006, v.14, n.3, Mar.
Santiago Tavares Paes et al. Metabolic effects of exercise on childhood obesity: a current view. Rev Paul Pediatr, 2015, v.33, n.1: 122–129.
Santiago Tavares Paes et al. Childhood obesity: a (re) programming disease? Journal of Developmental Origins of Health and Disease, 2016,.v.7,n.3, p. 231-236.