O temido monstro chamado linguagem matemática – parte 2

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Saiba quais partes do cérebro estão relacionadas à aptidão de meninos e meninas na linguagem matemática e quais fatores potencializam esse aprendizado

Na primeira parte deste artigo, fundamentamos os pré-requisitos no desenvolvimento do sujeito para que seja criada a aptidão e condição para adquirir a linguagem matemática. Nesta segunda parte discutiremos sobre o mapa cerebral dessa ciência, as diferenças no cérebro do menino e da menina quanto à sua aprendizagem e listaremos 6 passos para a excelência do processo ensino-aprendizagem da linguagem matemática.

Neurociência e matemática são dois campos do saber com relação bastante estreita. Em exames de ressonância magnética funcional, conseguimos detectar zonas-chave para determinadas valências dessa linguagem, mas enfatizo que aprender matemática requer trabalho de toda a rede neuronal e não está ligado a uma única estrutura cortical.

 

Linguagem matemática no cérebro                                                 

É certo dizer que para cálculos exatos (122+23=145 ou x²+2x=0) ou que requeiram precisão (cálculo da área de um campo de futebol), utilizamos prioritariamente a área frontal do hemisfério esquerdo e pequenas áreas parieto-têmporo-frontais do hemisfério direito. A primeira se ocupará do processo binário quantitativo enquanto a segunda será responsável pela linguagem, contextualização e imagem mental do processo executado.

No entanto, são os cálculos aproximados ou de valor relativo que ocupam nosso cotidiano. Quantos gramas de farinha se equivalem a um copo de requeijão, quanto dinheiro será necessário levar para comprar pães e leite na padaria, quanta força e qual trajetória usar para saltar uma poça de água, dentre tantos cálculos diários. As estruturas responsáveis são mais difusas, ou seja, estão espalhadas pelos dois hemisférios cerebrais, todavia, agora na região parieto-occipital, na parte de trás da cabeça.

O Sulco Intraparietal (marcado em vermelho abaixo) é a região do cérebro mais intrinsicamente ligada ao raciocínio e ao desenvolvimento de habilidades matemáticas. Crianças com Síndrome de Turner, por exemplo, têm dificuldade severa na linguagem matemática, e a imagem da ressonância magnética mostra que, milimetricamente, o Sulco Intraparietal de crianças que possuem essa síndrome é menor do que o daquelas não afetadas pela doença.

 

Diferenças entre meninos e meninas

Outro aspecto que causa bastante divergência entre os professores são as diferenças entre meninos e meninas na hora de aprender matemática.

Experimentos no campo das neurociências vêm demonstrando que os meninos atingem melhores escores em tarefas que envolvam raciocínio matemático puro: possuem melhor habilidade em tarefas espaciais e que envolvam rotação mental, como posição de objetos, por exemplo; também fazem cálculos mentais de precisão em relação a atingir alvos (herança filogenética: ainda trazemos memórias do homem das cavernas que precisava caçar seu alimento.); percebem melhor figura-fundo (figuras escondidas em outras ou em padrões complexos) e possuem mais habilidades mecânicas, sendo mais eficientes em atividades que envolvam trabalho manual.

Ao passo que as meninas são exímias calculistas, realizam com precisão cálculos mais complexos e tendem a ter maior facilidade em executar cálculo mental, significativa habilidade em interpretar enunciado e compreender objetivos ainda que estejam em um complexo texto e possuem invejável memória verbal dos números e conceitos, sendo muito hábeis em provas de aplicação conceitual e provas orais.

Essa diferença tende a uma escala de melhor ou pior?

A resposta é um categórico não. A razão pela qual o menino ou a menina se tornará um grande aluno em matemática se dará com a obediência a seis preceitos:

 

6 passos para a excelência no ensino-aprendizagem da linguagem matemática

1) Estimulação ambiental: Desde a tenra idade, a criança deve ser estimulada nos saberes matemáticos em todas as suas vertentes, respeitando seu desenvolvimento e prontidão.

2) Perfil da criança: Como cada estrutura cerebral se forma de modo diferente em cada indivíduo, a estimulação ambiental poderá criar habilidades específicas em algumas crianças, fazendo com que desenvolvam melhores aptidões para tratos com números, medidas e proporções. É preciso identificar essas predileções e estimular as de valências menores.

3) Habilidades cognitivas preservadas: Estamos tratando de linguagem matemática, logo, é preciso desenvolver as áreas ligadas à linguagem de um modo geral. A qualificação do pensamento ocorre pelos processos de aquisição da linguagem.

4) Influência cultural: Alguns países incentivam muito o desenvolvimento de seus alunos com a linguagem matemática, enquanto outros não dão tanta importância. No Brasil, matemática é sinônimo de inteligência e esse é um conceito distorcido, pois seleciona o bom aluno apenas entre aqueles que são bons nessa linguagem, enquanto sabemos que o conceito de inteligência hoje em dia abrange muito mais saberes. Fato é que crianças com bom nível cultural aprendem melhor a matemática.

5) Escolaridade dos pais: O reforço é fator gerador de memória. Para isso ocorrer, é necessário que os pais e tutores sejam preparados para a realização das tarefas de casa e estudos dirigidos com as crianças. A criança aprende com o exemplo.

6) Histórico afetivo e pedagógico em relação à matemática: Por ser uma linguagem de difícil compreensão e por requerer uma gama de predisposições, a matemática muitas vezes é a responsável pela primeira frustração acadêmica da criança, seja pela primeira perda de média ou até mesmo pelo primeiro zero. O acolhimento e reforço positivo-afetivo dos pais e professores será determinante para que a criança não aprenda o desamparo em relação a essa linguagem e possa tomar como desafio a ser vencido toda e qualquer dificuldade que vier. Lembre-se: se reforço gera lembrança, seja esse então um reforço edificador.

Autor:

Sérgio de Carvalho
Educador físico
Pós-graduado em Neuropsicopedagogia (UCAM) | Licenciatura plena em Educação Física (UFJF) | Professor de Pós-graduação em Psicopedagogia e Gestão Pedagógica | Diretor da Clínica MomentuM/Desenvolvimento Integral e psicomotricidade.
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Sergio De Carvalho

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