O arquiteto empreendedor

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Assumir um papel de domínio sobre todo o processo da construção gera uma responsabilidade, mas também nos produz liberdade e conhecimento

Em muitas cidades ao redor do mundo, no final do século XIX, o papel do arquiteto englobava as responsabilidades de um profissional completo que precisava ser íntegro em seu propósito e plenamente capacitado em diversas áreas que hoje consideramos “correlatas”.

O trabalho do arquiteto incluía desde a escolha e compra de terrenos para a construção, o desenvolvimento dos estudos de viabilidade, planejamento estratégico do projeto e obtenção de suas licenças para a obra, até a construção da própria obra e sua comercialização. Sim, este mesmo “super-arquiteto”, também era responsável pela venda do montante construído.

Evidentemente, ninguém melhor do que ele para conhecer todos os pormenores, tanto do processo, quanto do produto final. E assim, no papel daquele que hoje chamamos de “corretor de imóveis”, ele mesmo apresentava e vendia as unidades prontas, e já correndo com o dinheiro na mão para logo fazer a aquisição das novas terras, para os próximos projetos.

Hoje o processo mudou

Neste atual modelo, um incorporador contrata um construtor para assim ter o controle sobre o processo de construção, e este, por sua vez, indica ou contrata diretamente um arquiteto que vai desenvolver o conceito geral do design do produto que então será construído e comercializado.

Conclui-se daí que nos afastamos tanto do processo, quanto de qualquer controle sobre o mesmo. Mas por que, pergunto-me? Provavelmente, pelo próprio modelo de ensino, que preferiu dar uma abordagem mais humanista e artista ao papel daquele que intuitivamente já apresentava um pouco mais de sensibilidade com o processo de consolidação da matéria.

Não pretendemos criticar o valor desta ênfase dada a nossa profissão, até porque ela só beneficiou o processo. Mas parece-nos que estas novas dimensões tem nos seduzido tanto, que esquecemos daquelas outras, igualmente importantes. Nos “contaminamos” com umas, virando as costas para outras, que uma vez já dominamos.

Se obtivemos ganhos em termos de prazer e satisfação, quando deixamos estas velhas responsabilidades aos outros, perdemos muito em termos de conhecimento, mas também, remuneração.

Naturalmente, para recuperarmos o poder sobre o processo, precisaríamos nos incentivar em readaptar às “velhas” responsabilidades do super-profissional que um dia já éramos e retomar alguns conhecimentos sobre o processo de gerenciamento, não só de projetos, mas também de incorporação, transação imobiliária e construção.

Há toda uma gama de novos modelos de fomento à construção disponíveis hoje no mercado financeiro, que facilitariam para os arquitetos considerarem a opção de compra de seus próprios terrenos, por exemplo. Existem também as consultorias dadas, quase que de graça, àqueles que por ventura se interessassem em desmistificar as questões de viabilidade econômico-financeira de um empreendimento, avaliação e a escolha dos parceiros, seja de capital ou para a execução da obra. Existem cursos e palestras de sobra.

O que não existe é a experiência, ok. Mas esta nem teria como ser adquirida sem arregaçar as mangas e tentar.

Liberdade e conhecimento

Seria importante parar de ter esta percepção equivocada da arquitetura como um conjunto de objetos – estáticos. Acreditamos que enxergar a complexidade da dinâmica deles é muito mais interessante e importante: a dinâmica das pessoas, sua interação com os ambientes, a condição técnica, legal, ambiental, comercial, etc.

Ao assumir este papel de alguém que teria o domínio sobre o processo todo, os arquitetos teriam muito mais responsabilidade, sim, mas também, liberdade e conhecimento para executarem seus próprios projetos. Com isso garantiriam que a qualidade idealizada dos seus projetos não se perca na interpretação dos “outros” ao longo do caminho. Certamente, haveria muito menos situações inoportunas para mal-entendidos dispendiosos que comprometem a qualidade do produto final. E também aprenderíamos a projetar de forma muito mais objetiva e contextualizada.

Afinal, deixo aqui uma pergunta, a gente não deveria ser capaz de construir aquilo que desenhou?

Que fique bem claro que com isso, não estamos tentando criar aqui um novo “negócio”. Estamos apenas tentando criar a Arquitetura, mas do nosso próprio jeito; controlando cada componente do processo e conhecendo o trabalho a fundo, de tal forma que nos possibilitaria fazer aquela arquitetura que mudará as cidades para melhor.

Autor:

Nikola Arsenic
Arquiteto
Graduação em Arquitetura e Urbanismo (Abril de 2006), Universidade Federal de Juiz de Fora. Mestrado em Engenharia Civil na área de Tecnologia de Construção (Fevereiro de 2011), Universidade Federal Fluminense. Arsenic Arquitetos – Abril de 2006 até o presente – Sócio, Diretor Técnico e Comercial. Faculdade de Arquitetura do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora – Agosto 2006 a Abril 2011 – Professor nas disciplinas de Projeto de Arquitetura e Urbanismo 3, 6 e 8. Faculdade de Arquitetura da Sociedade Mineira de Cultura – CES – Abril de 2011 a Fevereiro de 2015 – Professor nas disciplinas de Projeto de Arquitetura e Urbanismo 3, 6 e 8 Conselho Arquidiocesano de Assuntos Econômicos de Juiz de Fora – Junho de 2005 a Dezembro de 2010 – Membro Técnico do Conselho. VIII Trienal Internacional de Arquitetura – Belgrado/Sérvia – Junho de 2006 – Curador da Seleção de Arquitetos do Brasil.
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