Compreendendo o papel do gestor escolar e seu compromisso na formação dos(as) alunos(as) para a cidadania
Em um país onde a corrupção e a desonestidade se fazem presentes, torna-se necessária uma reflexão sobre como os(as) educandos(as) brasileiros estão sendo preparados para enfrentar e transformar essa realidade com criticidade e ação. É importante discutir a relação entre gestão educacional e cidadania, levando em conta algumas considerações sobre o compromisso que os gestores das escolas precisam assumir diante da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que propõe a preparação dos(as) educandos(as) para o exercício da cidadania, princípio esse tratado como um dos objetivos da educação.
A Lei na gestão educacional e cidadania
Para iniciar esse assunto, é necessário compreendermos o que a lei menciona sobre cidadania. De acordo com ela “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”
Precisamos entender o que podemos chamar como exercício de cidadania, proposto no texto legal e os principais valores que acompanham esse termo, como a ética. Considerando o conceito de cidadania trabalhado por Dermeval Saviani , a educação media a prática social do homem, portanto é instrumento para que ele se aproprie da cultura e crie, aos poucos, a consciência de que possui direitos e deveres na sociedade em que vive, ou seja, se torne um cidadão.
Sendo assim, notamos uma estreita relação entre o conceito de cidadania e a consciência do ser humano, ao se perceber como sujeito de direitos e deveres. Nesse âmbito , a educação será o instrumento que poderá e muito contribuir para a formação dessa consciência. Dessa forma, uma indagação se faz necessária: como a educação pode, na sua prática escolar, contribuir para a formação de pessoas para o exercício da cidadania?
Contexto histórico
Para responder a esse questionamento, é importante conhecermos alguns pontos do contexto histórico em que surge a cidadania.
A Revolução Americana e a Revolução Francesa, com seus ideais democráticos, trouxeram importantes contribuições para a história da cidadania, quando consideraram todos os homens iguais perante a lei. Mais tarde, em 1948, a Organização Mundial das Nações Unidas promulgou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, com o objetivo de reger e orientar questões , considerando que todos os homens possuem direitos iguais e inalienáveis.
No Brasil, essa perspectiva de cidadania aparece com ênfase na Constituição Brasileira de 1988, conhecida como a constituição cidadã, que considerou com importância os direitos humanos, oportunizando inclusive a abertura de políticas públicas que visam a proteção desses direitos.
Na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Constituição Brasileira, a expressão “todos os indivíduos” inclui também as crianças e os jovens, considerando que esses possuem um Estatuto para legitimar e garantir seus direitos. Sendo assim, eles já podem e devem ser considerados cidadãos,
desde o nascimento, tendo sua educação escolar voltada não apenas para o ensino introdutório, mas também para esse fim.
O papel da gestão educacional e cidadania
No atual contexto educacional, em que interesses econômicos e políticos sobressaem em relação aos valores e princípios éticos e cidadãos, a educação, sozinha e por si só, não será capaz de transformar essa realidade competitiva. Além disso, há que se considerar a grande influência dos meios de comunicação de massa, que disseminam ideologias e influenciam modos de pensar e de agir. No entanto, a contribuição da educação sempre será necessária e fundamental, pois é através dela que podemos formar cidadãos conscientes e transformadores da sociedade.
Nesse mesmo panorama, observamos a organização de políticas que valorizam a diversidade e promovem a cidadania, como as de ação afirmativa, de inclusão nas escolas e na sociedade, introdução da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena nos currículos escolares, entre outros. Temas como esses foram e ainda são discutidos e criam espaços para reivindicação de direitos. Sendo assim, é necessário ampliar essa discussão no ambiente escolar, para que os educandos e educadores saibam da possibilidade e dos resultados das lutas e reivindicações na sociedade.
Na prática
É importante lembrar que a escolha do currículo, dos objetivos educacionais, assim como dos conteúdos, metodologias e tipos de avaliação do aprendizado escolar demonstra a maneira como a escola se posiciona e trabalha com o conceito de cidadania.
Isso também será demonstrado através da relação professor e alunos e na atuação que esses dois papéis desempenham no ambiente escolar, contribuindo ou não para a formação de um indivíduo crítico reflexivo, democrático, pluralista e criativo.
Assim, devemos refletir sobre a gestão educacional e cidadania, que metodologias podem oferecer situações de aprendizagem que envolvam participação, de forma que professores e alunos possam opinar, assumir responsabilidades, resolver e se posicionar diante dos conflitos e refletir sobre as consequências de seus atos.
Na prática escolar, pode-se estimular atividades escolares, como seminários, trabalhos em grupos, exposições, organização de campanhas, eleição de representantes de turma e desenvolvimento de projetos que favoreçam o pensamento crítico, reflexivo e ativo dos educandos. É importante também que sejam realizados trabalhos em torno dos Temas Transversais, para a ampliação do conceito de cidadania no espaço escolar.
Gestor educacional
Nessa perspectiva, o gestor deve constantemente avaliar seu papel para que o ambiente educacional seja democrático e favoreça a aplicação do exercício da cidadania pelos estudantes, aliado aos conhecimentos construídos ao longo do processo de aprendizagem.
Portanto, é importante que a escola seja espaço político de elaboração e respeito às regras de funcionamento da instituição, para que o convívio social se torne favorável à aprendizagem. Assim como os adultos não devem exercer a sua cidadania apenas com o ato de votar, os alunos também precisam compreender o sentido amplo do exercer a cidadania de uma forma consciente, no dia a dia, nas discussões e decisões coletivas, para que compreendam o funcionamento da instituição como organização de todos e contextualizada na comunidade escolar.
Nesse sentido, o gestor educacional possui um papel de grande importância no desenvolvimento integral dos estudantes e em sua formação para a cidadania, na medida em que está à frente da elaboração e manutenção de uma proposta pedagógica, documentos curriculares, que incentiva, organiza e propõe metodologias que podem ou não contribuir para a formação cidadã dos estudantes. Assim, cada escola apresentará o tipo de cidadania que se deseja expressar, o que revela também a concepção de educação presente nos documentos e na prática educacional.
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2 comentários em “Gestão educacional e cidadania: da teoria à prática nas escolas”
Excelente texto.
Muito obrigada!