Aprenda a otimizar os resultados de pacientes compreendendo os efeitos de suas medicações
Geralmente, o conteúdo da disciplina de Farmacologia é pouco valorizado nas graduações e especializações das áreas de saúde, exceto Medicina e Odontologia. Nos ensinos de Fisioterapia, essa cadeira recebe uma atenção muito pequena em relação à importância dela no dia a dia do fisioterapeuta. Muitos profissionais não percebem o tamanho da importância clínica da Farmacologia na Fisioterapia, ou seja, dos conhecimentos da farmacodinâmica desses remédios dentro do organismo dos pacientes, gerando muitas vezes sintomas ou alterações que são erroneamente relatados como “acasos” ou algo sem grande importância.
Temos que considerar que a maioria dos pacientes fazem uso de uma grande variedade de remédios. Quem trabalha com idosos, por exemplo, comumente precisa verificar uma extensa folha frente e verso só de remédios (muitas vezes tomados em diferentes períodos do dia e com indicações distintas). Todas essas drogas são administradas por uma razão clinica, porém geram também efeitos colaterais que não podem passar despercebidos.
É importante ressaltar que durante a prescrição do fármaco o profissional de saúde não possui o conhecimento de qual ou quais sintomas colaterais estarão presentes, sendo de imensa importância relatar ao profissional todos os sintomas que “apareceram” após o inicio do uso do remédio.
O COFFITO (Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional) e o CREFITO (Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional) não conferem a seus profissionais o poder de receitar remédios. Porém, isso não impede esses profissionais de terem conhecimento sobre as interferências dos fármacos no organismo dos pacientes, contribuindo ou para a melhora do quadro clínico, ou mesmo gerando alguns sintomas “novos” que podem desencadear alguma alteração ou quadro clínico antes não ocorrido. Abaixo vamos falar um pouco sobre algumas medicações utilizadas pelos pacientes que frequentemente são encaminhados à Fisioterapia e como esses fármacos devem ser consideradas no atendimento.
Assista o meu vídeo sobre o assunto ou leia o texto:
Farmacologia na Fisioterapia: ambiente hospitalar
Vamos falar primeiro sobre a atenção fisioterápica na área intra-hospitalar, no trabalho de Fisioterapia em terapia Intensiva, Unidade Intermediária de Internação ou Emergência, as Portas de Hospitais. É extremamente necessário que saibamos quais as drogas estão sendo administradas nesse paciente no CTI ou mesmo dentro do quarto ou Unidade de Internação, a indicação clinica para tal uso e também os possíveis efeitos fisiológicos ou deletérios do uso dessas medicações.
Hoje fala-se muito de mobilização precoce, que implica em movimentação ativa e trabalho de carga. Consequentemente, há um aumento do cronotropismo e do inotropismo cardíaco e todo o metabolismo energético do nosso paciente. Se esse paciente faz uso de drogas vasoativas, já existe então um agente farmacológico potencializando a sua função cardíaca.
Uma vez que nós entramos com um trabalho de carga ativo, vamos aumentar mais ainda a sobrecarga cardíaca nesse paciente. É extremamente importante que saibamos quais drogas vasoativas estão sendo utilizadas e em quais dosagens estão sendo aplicadas para que, dessa forma, o fisioterapeuta não venha a forçar demais o organismo do nosso paciente, gerando um déficit energético e, consequentemente, fadiga.
Exercícios físicos e medicamentos para cardiopatas
O exercício causa um aumento da frequência cardíaca e é muito comum escutar de pacientes em hospitais e principalmente em homecare a queixa de que o coração está batendo mais rápido na prática dessas atividades físicas. Mas isso é bom! O resultado esperado após o inicio de um trabalho físico em que o paciente é submetido a um esforço é o aumento tanto da frequência cardíaca como da frequência respiratória.
É muito importante ressaltar ao paciente que esse “disparo” no coração e também o aumento na respiração fazem parte de uma resposta normal do organismo ao estímulo que está sendo dado.
Aumentos excessivos nessa frequência cardíaca, assim como um cansaço demasiado no ritmo respiratório conferem alterações que deixam de ser “esperadas e tidas como normais”, levando-se então a uma investigação clínica sobre as possíveis causas dessas alterações não fisiológicas.
A monitorização constante desse paciente, por exemplo, através do uso de um simples oxímetro de dedo, permite o acompanhamento constante da frequência cardíaca e também da saturação de oxigênio, garantindo assim uma segurança maior ao profissional quanto à resposta do organismo à intensidade a que está sendo submetido.
Atualmente sabe-se que a hipertensão arterial (pressão alta) não confere contraindicação absoluta de atividade física. Muito pelo contrário! Os profissionais de Educação Física e da reabilitação cardíaca na Fisioterapia têm estudado e produzido muitos dados científicos que mostram a eficiência do trabalho muscular ativo no tratamento da hipertensão.
Os ramos da Fisiologia do exercício e da Reabilitação cardíaca estão, dia a dia, inundando o universo científico de estudos ressaltando os benefícios da atividade física de carga e aeróbica no tratamento das doenças hipertensivas, conjuntamente ao uso dos remédios. A seriedade com que esses estudos estão sendo produzidos e publicados permite aos profissionais da saúde segurança em realizar seus atendimentos baseados no contexto científico.
Farmacologia na Fisioterapia: reabilitação acelerada
As pesquisas atuais mostram que quanto mais precoce inicia-se o trabalho da Fisioterapia mediante uma lesão inflamatória, maiores e melhores são os resultados e prognósticos desse tratamento. A essa prematuridade do inicio de tratamento dá-se o nome de Reabilitação Acelerada.
Temos de ressaltar que no momento agudo da lesão, logo após seu acontecimento (em uma lesão muscular, por exemplo), a utilização de medicações anti-inflamatórias e analgésicas é extremamente necessária no emprego da atenção imediata à lesão. Da mesma forma, é muito importante o conhecimento de quais medicamentos, quais dosagens e qual frequência de administração permitem ao Fisioterapeuta um esboço na elaboração de seu plano de tratamento, acompanhando de forma muito próxima a evolução do quadro clínico.
É de extrema importância a compreensão de que, nas fases iniciais de reparação tecidual, o repouso e uso de recursos em eletrotermofototerapia aceleram a ação reparadora do organismo e, em alguns casos, aceleram e potencializam a função dos fármacos. Por exemplo: o uso do ultrassom com uma pomada anti-inflamatória ou mesmo com o infravermelho é muito benéfico e aceitável se a condição clínica do paciente permitir. Dessa forma, utiliza-se um recurso fisioterápico com o objetivo de aceleração do reparo tecidual, agilizando a “cascata inflamatória” e regenerando o tecido lesado mais rapidamente.
Uma atenção que deve ser tomada: algumas medicações à base de diclofenaco potássio ou sódio são contraindicadas em pacientes hipertensos e com hipersensibilidade a essas substâncias. A anamnese necessita ser muito bem-feita, investigando todas as condições dos pacientes, e principalmente a alergia aos fármacos ou hipersensibilidade aos componentes dessa medicação.
Lembre-se que muitos pacientes não têm o conhecimento sobre possíveis reações alérgicas a medicações. Sintomas como vermelhidão facial ou no local onde fora administrada a medicação (nos casos de pomadas), dificuldade para respiração, aumento da frequência cardíaca, presença de bolhas ou mesmo coceira no local, são sintomas que podem sugerir alguma incompatibilidade do organismo com a droga usada. Suspenda imediatamente a aplicação da pomada e encaminhe o paciente ao médico responsável, informando o fato acontecido.
Farmacologia e idosos
No trabalho fisioterápico com idosos, a lista de remédios costuma incluir antidepressivos, ansiolíticos, remédios de controle do colesterol, glicemia, diuréticos e muitos outros que nós temos que conhecer. É muito comum escutar a queixa sobre a famosa cãibra depois de começar a tomar um remédio ou mesmo a dificuldade em realizar atividades do dia a dia. Sabemos que a utilização prolongada de fármacos diuréticos faz uma eliminação da quantidade de cálcio, potássio, fósforo e magnésio. A célula muscular precisa desses íons para trabalhar de forma adequada. Caso a quantidade desses elementos químicos torne-se baixa no organismo, as funções dos músculos ficam comprometidas. Dessa forma, atividades como caminhada ou mesmo os afazeres de casa tornam-se mais difíceis ou mais cansativas. Tais informações precisam ser levadas ao conhecimento do médico responsável para que ele avalie a situação e tome as medidas necessárias.
Conclusão
O que quero deixar claro é que embora nós não possamos prescrever medicamentos, não devemos, em hipótese alguma, desvalorizar a Farmacologia na Fisioterapia e nem “vendar os olhos” para esse conhecimento. Não somos obrigados a saber tudo, mas a presença de um DEF (Dicionário de Especialidades Farmacêuticas) dentro da sua gaveta permitirá uma segurança maior no tratamento e prescrição clínica de seus pacientes. A Fisioterapia está crescendo muito e cabe a nós fisioterapeutas cuidar para que a nossa profissão seja mais valorizada e para que possamos cada vez mais trabalhar em conjunto com os colegas da equipe multidisciplinar.
É sempre um prazer trocar conhecimento através deste canal. Estamos sempre à disposição para quaisquer esclarecimentos e sugestões.
Um grande abraço a todos e uma excelente semana para todos nós.
Até a próxima.
Autor:
2 comentários em “Farmacologia na Fisioterapia: como aplicar no atendimento?”
Muito bom e de grande utilidade, o que o senhor Dr. Daniel Falou, porém atualmente os Fisioterapeutas podem SIM prescrever alguns fármacos( venda livre, fitoterápicos, homeopáticos) de acordo com COFFITO (basta pesquisar), portanto se é necessário um maior entendimento sim de farmacologia, e começar aplicar os medicamentos de uma forma COMPLEMENTAR, afim de garantir uma melhor assistência ao paciente!
Exceelente conteúdo, informações valiosas.
Parabéns a todos do site, continuem postando.