Por que é importante fazer exercício físico na infância?

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Entenda a relevância do profissional de Educação Física e do exercício físico na infância e adolescência para uma vida saudável

 

Existem diversos benefícios proporcionados pela prática de exercícios físicos. O movimento humano gera adaptações positivas sobre nosso corpo que o qualificam como a melhor forma de otimização dos sistemas fisiológicos e consequentemente melhoria da saúde como um todo. Por isso, a prática de atividades físicas deve começar o mais cedo possível, sendo importante o exercício físico na infância e adolescência do indivíduo.

 

Em diversas etapas da vida, o movimento humano e contração muscular disparam sinais que evoluem a capacidade de funcionamento de nosso corpo.

 

Ainda durante o período gestacional, estudos apontam que o exercício físico realizado respeitando as limitações da mãe é capaz de estimular, através de vias genéticas, a melhora do desenvolvimento metabólico do feto. Isso pode gerar um componente genético que eleva as chances de melhorar a programação metabólica dos sistemas responsáveis pela utilização da energia corporal da criança durante seu desenvolvimento humano. Essa condição adquirida pela prática de exercícios durante a  gestação, pode atuar como um positivo programador metabólico que protege contra o ganho demasiado de peso corporal ao longo da vida.

 

Além disso, existem estudos que mostram que crianças que apresentam maior repertório motor durante a infância desenvolvem maior capacidade cognitiva durante a vida adulta. Ou seja, quanto maior é a prática de exercício físico na infância, seja ele recreacional, desportivo, marcial, gimníco ou dançante, maior será o desenvolvimento de habilidades motoras que interagem através de impulsos neurais com todo o sistema nervoso. Esse processo aumenta a atividade dos potenciais nervosos excitados tanto pelo cérebro quanto pela frequência de disparos na fenda sináptica da junção neuromuscular, que é exigida pelo movimento corporal das atividades físicas, esportes ou práticas corporais.

 

A nível de desenvolvimento, o estímulo neuromotor desencadeia um processo de melhora e evolução quanto ao funcionamento dos sistemas corporais, desde aspectos genéticos como metabólicos.  E esses fatores agem diretamente nos processos de crescimento e desenvolvimento humano, melhorando por consequência a interação entre os canais fisiológicos responsáveis pelo comando e equilíbrio entre “mente e corpo”.

 

 

Qual a relação do desenvolvimento hormonal com a prática de exercício físico na infância e adolescência?

 

Durante o período da puberdade, nosso corpo passa por alterações fisiológicas principalmente mediadas por impulsos hormonais. Por exemplo, temos o aumento da liberação de hormônios gonadotróficos em ambos os sexos. Os testículos de meninos permanecem inativos até que são estimulados entre 10 e 14 anos pelos hormônios gonadotróficos da glândula hipófise (pituitária).

 

O hipotálamo libera fatores liberadores dos hormônios gonadotróficos que fazem a hipófise liberar FSH (hormônio folículo estimulante) e LH (hormônio luteinizante). Nos adolescentes do sexo masculino o FSH estimula a espermatogênese através do aumento de impulsos pelas células dos túbulos seminíferos. Paralelamente, o LH estimula a produção de testosterona pelas células intersticiais dos testículos. Esse é um dos principais hormônios masculinizantes e com efeito muito importante à nível de melhora do metabolismo.

 

Além de estimular o ganho de massa muscular e aumentar a “queima” oxidativa de gordura, o aumento das concentrações de testosterona é responsável também pelo desenvolvimento de características sexuais secundárias, como crescimento e engrossamento de pelos pubianos e voz, oleosidade da pele e elevação do desejo sexual. Sendo que esse processo ocorre em dois momentos da adolescência do homem, conhecidos como fase de estirão de crescimento (a primeira por volta dos 12 anos e a segunda, mais intensa, aos 15).

 

A prática de exercício físico na infância e adolescência é capaz de intervir positivamente no equilíbrio do balanço hormonal. Isso é possível pela melhora na comunicação entre a liberação hormonal e a “utilização” dos hormônios liberados e também pela otimização de vias metabólicas que irão possibilitar o efeito hormonal sobre os órgãos, como, por exemplo, tecido muscular esquelético e adiposo. Ou seja, praticar exercícios durante essa fase torna o corpo mais apto para se beneficiar dos efeitos hormonais potencializados, cujo resultado pode ser a maximização da quantidade de massa muscular e redução dos estoques de gordura.

 

Paralelamente, quanto mais tempo nosso corpo fica exposto a uma determinada distribuição da composição corporal, maior será o grau de “entendimento” dos centros hipotalâmicos cerebrais responsáveis por ditar o quanto precisamos organizar cronicamente nosso metabolismo. E de que aquele estado corporal de maior hipertrofia muscular e menor percentual de gordura é o que “queremos” para a vida toda.

 

 

Exercício físico na infância e o papel do educador físico

 

Quanto mais tempo ficarmos em estados nutricionais compostos de mais massa muscular e menos gordura, maiores serão os impulsos genéticos para que nosso corpo programe o metabolismo de forma a manter essa condição corporal. Isso justifica porque o chamado “efeito sanfona” (ganhar e perder peso constantemente) é ruim para nosso corpo.

 

Esse comportamento metabólico não permite ao corpo identificar e assimilar qual composição corporal os centros regulatórios cerebrais, através de impulsos neurohormonais, deverão coordenar. E isso, de modo crônico, não é aderido à informação genética, que é a principal moduladora do quanto nossas células deverão funcionar para chegar à composição corporal “ambientalmente” estimulada por comportamentos da vida diária, como alimentação, prática regular de exercícios físicos e fatores psicológicos.

 

Por outro lado, fica fácil entender as consequências do comportamento sedentário, principalmente quando não desenvolvido em períodos iniciais da vida. A programação do nosso metabolismo e adaptação psicomotriz acontece principalmente através do grau de estímulos neuromotores desencadeados por práticas corporais precoces. Além disso, a aprendizagem motora permite que o jovem praticante tenha discernimento e capacidade de coordenar seus próprios movimentos, além da relação do corpo com o ambiente em que vive. Essa prática aumenta o grau de sinestesia, condição atribuída ao reconhecimento da localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada porção corporal em relação às demais, sem utilizar a visão. Isso também permite maior capacidade de movimento e experiências sensoriais, que potencializam todos os ganhos a nível neural, metabólico e morfofuncional.

 

Diante dessa perspectiva, cabe aos profissionais de Educação Física entender, identificar e intervir adequadamente sobre a prática regular e contextualizada de atividades físicas o mais breve possível na vida de uma pessoa, incentivando o exercício físico na infância. Através da experiência de trabalho e da busca por estudo e especialização, como no caso de pós-graduações em Fitness e Grupos Especiais, será possível causar um impacto ainda maior nessa realidade.

 

O quanto antes introduzirmos essas atividades, aumentarmos o repertório motor e desenvolvermos um comportamento ativo, melhor será para o indivíduo.  Principalmente porque possibilitar diversos efeitos programatórios durante a infância e adolescência aumenta as chances de que a pessoa, ao chegar à vida adulta, não necessite “aprender” como desenvolver adequadamente o movimento corporal exigido pelo exercício físico.   A adesão desse estilo de vida ativo é um dos fatores centrais na melhora do funcionamento do corpo em suas diversas esferas e grande motivo para a redução das chances de desenvolvimento de doenças cardiometabólicas, que são as principais responsáveis pela morbimortalidade da população mundial.

 

Abraço,

 

 

Santiago Tavares Paes et al. Metabolic effects of exercise on childhood obesity: a current view. Rev Paul Pediatr. 2015 Mar; 33(1): 122–129.

 

Santiago Tavares Paes et al. Childhood obesity: a (re) programming disease? J Dev Orig Health Dis. 2015 Oct 26:1-6.

 

 

 

 

 

 

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Santiago Paes

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