Entenda como funcionam as estratégias dietéticas low carb high fat, cetogênica e jejum intermitente e o papel do profissional de Nutrição
Atualmente, na área de Nutrição, é muito comum escutar e ler sobre dietas consideradas “da moda”. Mas para aplicar esses métodos com saúde e consciência é preciso compreender o funcionamento de tais estratégias dietéticas e por que seria positivo ou não escolher cada uma delas.
Uma das justificativas para o surgimento dessas dietas é que a nutrição se constrói a partir da distribuição harmônica, qualitativa, quantitativa e individualizada dos nutrientes advindos da alimentação.
De fato, essa prerrogativa tem fundamento e é profundamente pertinente. Entretanto, qualquer nutriente desencadeia uma resposta fisiológica e consequentemente metabólica no organismo da pessoa que o ingere.
Mais importante do que a relação matemática de energia consumida ou gasta, ou estratificação do percentual da energia consumida diariamente através do consumo de macronutrientes é o desdobramento metabólico que o nutriente consumido desencadeia sobre as vias que orquestram o metabolismo.
Estamos nos referindo às vias hormonais, inflamatórias, absortivas, enzimáticas, proteicas e epigenéticas cujos gatilhos são o alimento e as reservas corporais (tecido adiposo e glicogênio muscular) desenvolvidos a partir do que se ingere.
Essa é uma das principais justificativas que embasam a utilização de estratégias dietéticas de cunho metabólico, especialmente as relacionadas ao ganho/perda de peso corporal e massa muscular. Tudo isso com o objetivo de melhorar a sensibilidade do controle dos processos bioquímicos que sinalizam as diversas reações de nosso corpo. Essas são, principalmente, as chamadas estratégias dietéticas lowcarb high fat, cetogênica e jejum intermitente. E o principal objetivo dessas estratégias é a regulação, sensibilização e melhora de vias hormonais. Veja no tópico abaixo como funciona cada uma delas:
Aproveite também para ler aqui no Blog do IESPE os posts anteriores sobre emagrecimento e a importância da alimentação e exercício físico para a saúde.
Efeito nos hormônios (lowcarb high fat e cetogênica)
Um dos principais hormônios em questão é a insulina e aqueles associados ao controle do comportamento alimentar.
Em se tratando de gatilho insulínico, o consumo de carboidratos é o principal desencadeador do aumento da insulina circulante. Paralelamente, quanto maior os valores sanguíneos de insulina maiores também são os valores dos hormônios que sinalizam a fome, apetite e saciedade no hipotálamo. Com isso, estimulam as respostas direcionadas à vontade de comer, o que repercute diretamente na quantidade de alimentos ingeridos diariamente e, consequentemente, no aumento da energia consumida, elemento básico para o ganho de peso corporal.
O nutricionista, ao utilizar dessas estratégias dietéticas, visa reduzir a insulinemia e provocar, mesmo que de forma transitória, a melhora da atividade dos hormônios contrarregulatórios. Eles estimulam a mobilização lipolítica do tecido adiposo e a beta oxidação das gorduras pelas células musculares. Esse processo leva também à melhora da eficiência de enzimas e proteínas que coordenam a utilização dos ácidos graxos (como o substrato energético utilizado pela mitocôndria no intuito de gerar energia na forma de trifosfato de adenosina através do metabolismo aeróbio).
Concomitantemente, o consumo maior de gorduras naturais presentes nos alimentos visa ampliar o tempo de digestão, aumentar a saciedade e estender o período de atuação dos hormônios catabólicos que atuam sobre os depósitos de gordura. Além disso, a maior “queima de gordura” leva ao aumento de resíduos metabólicos chamados corpos cetônicos.
Diferentemente de indivíduos diabéticos, pessoas saudáveis não sofrem uma intoxicação devido à alta quantidade desses produtos resultantes do aumento da oxidação das partículas de gordura. Pelo contrário: a adaptação metabólica da utilização desses corpos cetônicos como combustível (utilizado no fígado para renovar uma nova produção de glicose a partir de moléculas que não sejam carboidratos), permite que o corpo consiga adaptar o metabolismo quanto ao consumo alimentar de fontes de carboidrato para fornecer energia. Esse processo repercute positivamente na redução da secreção de insulina pelo pâncreas e consequentemente reduz a lipogênese, nome do processo associado ao aumento do volume e preenchimento das células de gordura.
Comportamento insulínico e o jejum intermitente
O racional desse gerenciamento do comportamento insulínico advindo da alimentação também é sustentado na adoção do jejum intermitente. Nele, aumenta-se o tempo entre as refeições e diminui-se o fracionamento do número de refeições ao longo do dia, sem contudo modificar o valor energético diário consumido.
Embora sejam considerados modismos do ponto de vista bioquímico e metabólico, essas práticas são milenares e permitiram ao homem adaptar-se a ambientes de privação energética, mudança climática, ausência de alimentos e peregrinação entre os continentes.
Esses temas, embora polêmicos, são os que sustentam as interações metabólicas provocadas pela prática de exercício físico e, evidentemente, da alimentação humana.
O nutricionista, ao avaliar o perfil e anseios daquele que procura seus serviços, deve levar em consideração diversos aspectos relacionados à individualidade de cada um, desde aspectos biológicos e psicológicos até mesmo intolerâncias e realidade social. Portanto, a especialização e aprendizado constantes são as melhores formas de oferecer opções cada vez mais adequadas para o paciente.
Referências:
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