Dor neonatal: o papel do enfermeiro diante dos protocolos de dor em UTI

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Aprenda a identificar, prevenir e reduzir a dor do neonato

Você sabe como deve ser a avaliação da dor neonatal? O que fazer para evitar e reduzir esse sofrimento?

A neonatologia vem buscando ao longo de sua trajetória uma constante evolução tecnológica que envolve os cuidados intensivos, sendo considerada um marco na melhoria da sobrevida e prognóstico de recém-nascidos de baixo peso e extremo baixo peso e garantindo melhorias significativas em todo o seu processo de trabalho.

As intervenções realizadas nesse ambiente, associadas aos avanços inseridos nos serviços de saúde, potencializam a importância da redução ou exclusão dos fatores de risco que possam comprometer a melhoria do quadro clínico dos pacientes.

O enfermeiro na Neonatologia

Temos que considerar a complexidade da unidade neonatal, relacionada às normas e rotinas hospitalares, bem como à qualidade de recursos físicos, recursos humanos e insumos que são utilizados. Se esses fatores não forem trabalhados de forma conjunta (sem identificação de estratégias ou ferramentas que disponibilizem a melhoria da qualidade de sobrevida dos neonatos) podem desfavorecer a recuperação dos recém-nascidos inseridos nesse cenário.

Dor neonatal: o papel do enfermeiro na UTIAssociado a isso, podemos enfatizar a importância do profissional enfermeiro como protagonista das ações e critérios que deverão ser estabelecidos durante o processo de internação desses pacientes. A busca pelo conhecimento, bem como a sua capacidade de produção, faz com que ele assuma a responsabilidade pelo aprimoramento profissional com o objetivo de tornar sua equipe capaz de enfrentar as barreiras encontradas diante das demandas ofertadas.

É notório o conhecimento acerca da qualificação desses profissionais no campo de atuação em terapia intensiva neonatal. Portanto, é necessário que atuem de forma holística, com a visão de minimizar o sofrimento do neonato, agindo de forma ética e humanizada diante da complexidade que o paciente neonatal apresenta. Essa atitude é especialmente importante quando a dor se torna um dos principais desafios para a interpretação e para o estabelecimento de critérios de atendimento.

A dificuldade de identificar a dor neonatal

Caracterizar a dor neonatal e seus efeitos, bem como mensurá-la, ainda é uma das grandes dificuldades que o enfermeiro e sua equipe enfrentam, justificadas pelo fato que sua percepção apresentar um caráter subjetivo e complexo, uma vez que o neonato não se comunica por meio de palavras, e sim por manifestações corporais e fisiológicas.

Dor neonatal: o papel do enfermeiro na UTIEstudos apontam ainda que o fato do recém-nascido não verbalizar a dor intensificou a ideia de que ele não seria capaz de sentir dor, devido a sua imaturidade neurológica.No entanto, atualmente acredita-se na divergência de tais conhecimentos, até mesmo pelas respostas neurológicas, físicas e comportamentais que observamos durante o manejo do neonato, principalmente quando se desencadeiam estímulos que intensificam esse processo, tais como:

  • Condições ambientais
  • Luminosidade
  • Temperatura ambiental
  • Ruídos excessivos
  • Estímulos dolorosos que contribuem para o desequilíbrio fisiológico do recém-nascido

Tal questão torna esse fenômeno um desafio de interpretação. Por isso, é preciso que o profissional tenha capacidade de reconhecer os meios pelos quais a dor poderia se manifestar, permitindo que adote medidas para seu alívio antes, durante e após qualquer procedimento que julgue estressante. Também cabe a ele adotar medidas universais que visem minimizar o sofrimento do neonato que é submetido a procedimentos dolorosos.

Enfermagem em Cuidados Intensivos (UTI) Adulto e Neonatal

Procedimentos que causam dor

Pesquisas apontam diferentes graus de sofrimento dos recém-nascidos em termos de procedimentos dolorosos nas suas primeiras horas de vida, ao serem admitidos em uma UTI neonatal, dentre os quais podemos destacar:

  • Intubação orotraqueal
  • Múltiplas punções arteriais para coleta de sangue
  • Sondagem gástrica, sondagem vesical
  • Ruídos alterados
  • Coleta de líquor
  • Drenagens
  • Punção calcânea para coleta de glicemia de acordo com a rotina de cada unidade
  • Cateterismo umbilical

Sendo assim, é possível afirmar que a dor se torna um dos principais fatores extrauterinos e que essa vivência poderá acarretar consequências imediatas e a longo prazo, caso não seja percebida pelo profissional no momento de seus procedimentos.

Dor neonatal: o papel do enfermeiro diante dos protocolos de dor na UTIAlgumas Unidades de Tratamento Intensivo Neonatal (UTIN) hoje adotam protocolos que visam possibilitar a avaliação da dor neonatal durante os procedimentos dolorosos, porém a prática deverá ser constante a fim de que se possa manter o fluxo de informações adequadas, para que medidas sejam adotadas, a linguagem se torne universal e as práticas assistenciais sejam adotadas por toda a equipe inserida neste contexto.

Diante dessa questão, pode-se destacar que a adoção de medidas e estratégias para minimizar o manejo da dor, garantidas por instrumentos que validem essa prática, demonstra a importância da disseminação de conhecimentos a fim de melhorar a prática dos profissionais no que se refere ao monitoramento.

O que é “dor” em Neonatologia?

No universo da terapia intensiva neonatal, muito se discute ainda sobre as formas de prevenção da dor, uma vez que ela ainda é evidenciada como um fator desafiador entre os profissionais inseridos nesse contexto, especificamente o enfermeiro, quando se trata de estabelecer normas e cuidados que promovam o alívio da dor. Para isso, cabe entender a dor como um fenômeno subjetivo, visto que o recém-nascido não consegue verbalizar a sensação da dor quando se confronta com as experiências que as causam.

Dor neonatal: o papel do enfermeiro na UTINessa linha de esclarecimentos, pode-se também destacar o conceito de dor pela Association for the Study of Pain (IASP) como “uma experiência sensorial e emocional desagradável que é associada a lesões reais ou potenciais ou descrita em termos de tais lesões. A dor é sempre subjetiva e cada indivíduo aprende a utilizar esse termo por meio de suas experiências” (Falcão, et al, 2012, p.109).

Atualmente, as discussões sobre o fato de que os neonatos experimentam a dor da mesma forma que um adulto tornam o assunto mais relevante para debates, bem como a percepção das formas como eles se comportam. Portanto, reconhecer que os cuidados intensivos prestados podem gerar consequências e desestruturação em todo o sistema orgânico e que a exposição aos estímulos nocivos pode acarretar consequências não só imediatas como originar riscos para o seu desenvolvimento também gera discussões sobre as práticas exercidas pelo profissional enfermeiro.

Avaliação da dor neonatal

A avaliação da dor é um fator contribuinte para definir intervenções, no sentido de avaliar quais ações devem ser implementadas para minimizar tal sofrimento. Portanto, alguns problemas ainda são evidenciados nas práticas de enfermagem para que as medidas cabíveis sejam adotadas.

Dor neonatal: o papel do enfermeiro na UTI

O desenvolvimento profissional, a partir de capacitações, treinamentos e cursos de reciclagem de forma contínua e estruturada, contribui para que o objetivo da redução de estímulos dolorosos seja de fato reconhecido como importante em uma UTIN.

A implementação de protocolos e escalas introduzidas como instrumentos para a avaliação da dor neonatal reflete uma preocupação e necessidade do profissional que está inserido nesse contexto. Não é correto  realizar uma avaliação empírica, uma vez que tais avaliações adotadas de forma inadequada não colaborariam para resultados esperados. Também aumentariam as consequências e riscos para adoção de práticas individualizadas,  não sistematizadas e sem embasamento teórico, surgindo dessa forma práticas iatrogênicas.

Nesse mesmo contexto, pode-se deparar com a vulnerabilidade do profissional diante de políticas institucionais, ou discussão da dor neonatal a nível setorial, sem protocolos validados e instrumentos que sensibilizem a percepção da dor no processo de cuidados. Essa realidade dificulta a interação e comunicação entre os membros da equipe, descaracterizando o aspecto integral de cuidados, incluindo uma conduta inadequada e estimulando processos dolorosos no recém-nascido.

Quais medidas devem ser tomadas para aliviar a dor?

O trabalho em Neonatologia é um processo exaustivo e permanente, com o objetivo de identificar falhas, fazer a revisão de todos os processos, além de atualizações constantes, conduzindo a prática a fim de garantir o bem-estar físico e emocional proporcionado pelo alívio da dor. A área exige dos profissionais competência técnica e científica e crença na assistência prestada sem perder de vista os direitos dos pacientes.

Associadas a essa narrativa, deve-se levar em consideração as ações que o profissional enfermeiro deverá implementar durante a prática que irá exercer com o propósito de amenizar a dor neonatal para evitar complicações no decorrer do procedimento. É necessário que estejam com alguma referência de escala de dor para que sirva como um norte em suas avaliações. Destaco também  a importância do registro de informações no prontuário do neonato, bem como as medidas utilizadas para o alívio da dor.

A prática diária fomenta a ideia de que ações repetitivas levam ao neonato uma desorganização estrutural e comportamental, dificultando a avaliação subjetiva da dor durante o procedimento. Manter medidas e cuidados antes da sua execução ajuda a manter esses pacientes livres de danos e consequências que poderiam ser criadas pela falta de critérios de avaliação, aumentando o número de indicadores dos riscos ao neonato.

Dr neonatal: o papel do enfermeiro na UTI

Estudos apontam que medidas não farmacológicas alcançaram êxitos quando estabelecidas práticas sob essa perspectiva de cuidados, tais como:

1- Organização do ambiente,

2- Sucção não nutritiva para neonatos estáveis,

3- Soluções adocicadas como solução de glicose a 25% obedecendo critérios de administração, organização do neonato dentro da incubadora, entre outros.

Tais medidas devem ser adotadas como uma visão generalizada por todos os profissionais envolvidos nessa prática, cabendo ao enfermeiro uma análise perspicaz e segura acerca do que será adotado.

Como deve ser o atendimento do neonato?

Algumas unidades neonatais ainda sofrem com a falta de colaboração, conhecimento e prática      Outro problema vigente e preocupante é a prática individualizada dos profissionais diante dessa problemática. Embora se alcancem propósitos que possam beneficiar o neonato durante a rotina de seus serviços, é necessário amadurecer a prática conjunta dos critérios que serão utilizados durante procedimentos dolorosos para que não prejudique o processo de repouso e conforto do recém-nascido.

As medidas não farmacológicas estabelecem critérios que aumentam a estabilidade do recém-nascido. Para que esse suporte ganhe vida, os cuidados estabelecidos deverão ser criteriosos em sua prática, sendo a linguagem universal e não cabendo a adoção de práticas individualizadas, o que caracterizaria riscos à segurança do neonato.

O acolhimento e o respeito ético deverão ser um conjunto de iniciativas para a produção de cuidados que se adequem às novas medidas tecnológicas adotadas nas UTIN. Deve-se focar na avaliação cuidadosa e individualizada do neonato sob todos os aspectos de suas manifestações, não tornando a dor como fonte de maior obstáculo no processo de sua recuperação.

Autor:

Ricardo Medeiros
Enfermeiro
Enfermeiro Graduado pela Universidade do Grande Rio/RJ; Especialista em Assistência Hospitalar ao Neonato pela Faculdade Lucas Machado em associação com a Secretária de Estado de Saúde de Minas Gerais/BH; Professor dos cursos de Pós-graduação e Extensão do IESPE; Enfermeiro Assistencialista da Maternidade e Unidade de Neonatologia da SCM/JF desde 2001; Habilitado em práticas de inserção de cateter percutâneo e cateterismo umbilical; BLS – Basic Life Suport; Curso de reanimação neonatal para auxiliares de reanimação pela Sociedade Brasileira de Pediatria; Participante do I Simpósio Internacional de Qualificação da Assistência Perinatal SES/MG.

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4 comentários em “Dor neonatal: o papel do enfermeiro diante dos protocolos de dor em UTI”

  1. Excelente texto! Excelente profissional. Tem o equilibrio do conhecimento científico e a prática. Sou fã desse profissional! Sucesso sempre Ricardo Medeiros

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  2. Brilhante colocação.. artigo de grande ajuda aos profissionais lotados nas uti’s neo. Parabéns pelo sucesso Ricardo.. vc merece tudo de melhor.

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  3. Mediante esse texto vemos a importância da identificação de aspectos que influenciam ou contribuem para a melhora e para a debilitação do neonatal. A cada estudo e a cada vivência temos que evoluir para proporcionar conforto melhorando assim nossa assistência e a recuperação do paciente e seu familiar. Muito feliz de estar na Iespe.

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