Cuidados Paliativos: o que são e como aplicar no atendimento?

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Conheça essa prática e entenda a sua importância na saúde

De acordo com a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), está provado que os Cuidados Paliativos “diminuem os custos dos serviços de saúde e trazem enormes benefícios aos pacientes e seus familiares”. O perfil da população brasileira e o avanço do atendimento em saúde tornam essa prática cada vez mais necessária.

Como enfermeira e também professora de pós-graduação presencial e de cursos online na área da saúde, decidi fazer este texto para que você possa entendê-la melhor, atuando com responsabilidade na área.

O cenário atual

As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) têm desafiado os indicadores de mortalidade ao redor do mundo. No Brasil, por exemplo, há um aumento expressivo de quatro grupos de doenças crônicas, que são as que mais acometem a população: circulatórias, câncer, respiratórias crônicas e diabetes.

Também observamos uma transição demográfica nas últimas décadas, resultado dos avanços sanitários e tecnológico-assistenciais. Embora essa seja uma boa notícia (favorece o aumento da expectativa de vida), o envelhecimento da população também faz aumentar o número de pessoas necessitadas dessa assistência.

Sendo assim, verifica-se que muitas pessoas estão acometidas por doenças e condições crônicas de saúde, muitas vezes apresentando incapacidades funcionais e  dependências para autocuidado.

O que são Cuidados Paliativos?

Com o intuito de mudar esse panorama, desde a década de 1990 a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem recomendado a prática do Cuidado Paliativo (CP) como uma assistência multidisciplinar que visa uma melhor qualidade de vida possível para os pacientes e seus familiares, diante da progressão de doenças que ameaçam a continuidade da vida. Essa prática busca a prevenção e o alívio do sofrimento nas suas diferentes formas e inclui a identificação precoce, avaliação e tratamento da dor e outros sintomas físicos desagradáveis, além dos sociais, psicológicos e espirituais.

Dessa forma, a “paliação” é uma modalidade de cuidados de conforto e proteção dos pacientes e familiares, com respeito à autonomia deles e também à sua dignidade, favorecendo a qualidade de vida e de morte.

Um marco histórico no Brasil foi a publicação da Resolução nº 41 de outubro de 2018, considerada a primeira política pública em defesa dos CP como parte dos cuidados continuados integrados ofertados no âmbito das das Redes de Atenção à Saúde (RAS).

 

Cuidados paliativos

População idosa em crescimento é um dos grupos que mais necessita dos Cuidados Paliativos.

 

Como deve ser esse cuidado?

Acredita-se que a inserção dos CP deva se iniciar no momento do diagnóstico de uma doença crônica e incluir a avaliação multidimensional das necessidades dos pacientes e suas famílias, o que requer uma abordagem interdisciplinar sistemática e implementação de cuidados conforme as prioridades e metas estabelecidas.

Para que você tenha uma ideia do que isso representa na prática, confira os princípios norteadores publicados na Resolução Nº 41, de 31 de outubro de 2018, que aponta diretrizes sobre os Cuidados Paliativos no SUS (Sistema Único de Saúde).

Princípios norteadores:

  • I – início dos cuidados paliativos o mais precocemente possível, juntamente com o tratamento modificador da doença, e início das investigações necessárias para melhor compreender e controlar situações clínicas estressantes;
  • II – promoção do alívio da dor e de outros sintomas físicos, do sofrimento psicossocial, espiritual e existencial, incluindo o cuidado apropriado para familiares e cuidadores;
  • III – afirmação da vida e aceitação da morte como um processo natural;
  • IV – aceitação da evolução natural da doença, não acelerando nem retardando a morte e repudiando as futilidades diagnósticas e terapêuticas;
  • V – promoção da qualidade de vida por meio da melhoria do curso da doença;
  • VI – integração dos aspectos psicológicos e espirituais no cuidado ao paciente;
  • VII – oferecimento de um sistema de suporte que permita ao paciente viver o mais autônomo e ativo possível até o momento de sua morte;
  • VIII – oferecimento de um sistema de apoio para auxiliar a família a lidar com a doença do paciente e o luto;
  • IX – trabalho em equipe multiprofissional e interdisciplinar para abordar as necessidades do paciente e de seus familiares, incluindo aconselhamento de luto, se indicado;
  • X – comunicação sensível e empática, com respeito à verdade e à honestidade em todas as questões que envolvem pacientes, familiares e profissionais;
  • XI – respeito à autodeterminação do indivíduo;
  • XII – promoção da livre manifestação de preferências para tratamento médico através de diretiva antecipada de vontade (DAV); e
  • XIII – esforço coletivo em assegurar o cumprimento de vontade manifesta por DAV.

Considerando isso, os estudantes e profissionais de saúde precisam aprimorar seus conhecimentos e práticas, desenvolver habilidades e competências nesse novo cenário assistencial. Com o olhar ampliado e o processo de cuidar sistematizado, terão condições de melhor reconhecer as necessidades dos pacientes e familiares, nos diferentes contextos de atuação.

 

Referências:

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Foto de Roberta Teixeira Prado

Roberta Teixeira Prado

Enfermeira pela UFJF, especialista em Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva, em Urgência e Emergência Pré-Hospitalar e Hospitalar, além de em Enfermagem do Trabalho. Mestre em Enfermagem pela UFJF, Doutora em Enfermagem pela EEAN / UFRJ e Pós-doutora em Enfermagem pela UFJF. Atualmente é instrutora do BLS pela American Heart Association (AHA/SOMITI), professora de cursos de pós-graduação, professora da Faculdade de Ciências Médicas e Saúde de Juiz de Fora/Suprema e membro do Grupo Gestor do Laboratório de Habilidades Profissionais e Simulação Realística (LHPSR).

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