Conheça os fatores importantes na decisão do melhor acesso à dieta e saiba o momento certo de iniciar a oferta de nutrientes
Definir qual procedimento é o mais correto para cada paciente é a função central de um profissional de saúde e, na Nutrição Hospitalar, uma das mais importantes escolhas é a do acesso à dieta. Veja abaixo quais critérios devem ser utilizados para escolher cada uma delas.
Aproveite para conferir as características de cada tipo de acesso, tema do nosso post anterior.
Orientações para a escolha do acesso à dieta
1- Via oral:
Os pacientes podem não ter condições para usar a alimentação via oral por traumas, perda de consciência, comprometimento neurológico, sequelas da idade avançada, disfagia severa ou por obstrução orofaringe ou obstrução intestinal. E muitos pacientes de UTIs se enquadram nessas condições.
2- Via enteral:
Não havendo a possibilidade da dieta oral, temos a alternativa subsequente: a dieta enteral por sonda. Devemos dar preferência na impossibilidade da dieta oral – de acordo com recomendação do ASPEN (Sociedade Americana de Nutrição Enteral e Parenteral) e SBNEP (Sociedade Brasileira de Nutrição Enteral e Parenteral) – por preservar a natureza fisiológica da alimentação e principalmente por buscar manter íntegro um dos maiores órgãos de defesa: o intestino. Já muito consolidado como um dos principais órgãos no fortalecimento da imunidade do paciente, ele atua de forma fundamental para evitar ou diminuir os processos infecciosos que acometem os pacientes das UTIs.
Porém, esse acesso à dieta também tem suas limitações, entre elas o uso de medicamentos vasoativos, o que resulta em diminuição do fluxo sanguíneo no intestino. Isso pode provocar distensão abdominal, paresia ou diminuição da peristalse intestinal (movimento de contração do tubo digestório) e, em alguns casos mais graves, levar à completa disfunção ou imobilidade do intestino, o que o torna inapto para receber qualquer alimento, mesmo sendo líquidos e por sonda. A alimentação enteral também é contraindicada em casos de perfuração intestinal, obstrução intestinal, distensão abdominal severa e necrose intestinal, sendo que o choque intestinal impede a utilização desse procedimento.
3- Via parenteral:
Caso o intestino esteja inapto para a dieta enteral, temos a terceira alternativa para a nutrição do paciente, utilizando a via parenteral. Saindo do processo normal de alimentação por via enteral, a dieta será administrada diretamente por meio da corrente sanguínea. Essa alternativa também tem suas limitações, porém, ela deve ser usada quando for a única possível. Um dos pontos mais críticos desse procedimento é o não uso do trato digestório e do intestino que, em consequência, traz a perda da imunidade. A sua manifestação mais severa é a translocação bacteriana, que pode resultar em infecções generalizadas sem controle. Por isso, a ASPEN não recomenda dieta parenteral em paciente com sepse, no entanto, é possível administrar melhor todos os riscos dessa dieta com equipes treinadas e capacitadas.
Observamos que em alguns casos o acesso à dieta pode por via oral + enteral ou enteral + parenteral, com objetivo de atender de forma plena as necessidades nutricionais do paciente. Porém, existe alta prevalência de dieta enteral em UTIs e pouco uso da dieta oral e parenteral.
Inicio da dieta e quantidade de nutrientes ofertados
Após a escolha do acesso, vem um outro ponto a ser definido na Terapia Nutricional para esses pacientes graves, que é em qual tempo iniciar a dieta. Essa definição também precisa de conhecimentos especializados. Um exemplo importante é o caso da autofagia que ocorre em pacientes de gravidade muito intensa nas primeiras 24 horas após o acometimento da doença. Muitos autores apontam essa autofagia como benéfica ao paciente. Mas nesse momento vai contar muito a experiência e a habilidade do nutricionista para definir juntamente com a equipe o momento de iniciar a dieta e a quantidade de nutrientes a ser ofertado via dieta ao paciente.
Essa definição indica que o nutricionista deve permitir o acontecimento da autofagia e não pode parar esse processo. Também é recomendável ofertar nutrientes, não ultrapassando as necessidades nutricionais dos pacientes nesse momento. Da mesma forma, não deve ser ofertado nutrientes muito abaixo das referidas necessidades nutricionais já que as duas possibilidades são prejudiciais para o paciente.
Espero que o texto tenha sido útil para a sua prática na Nutrição Hospitalar. Confira também os posts anteriores sobre Triagem Nutricional, Avaliação Nutricional e as capacidades do profissional da área.
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