Entenda como o movimento é organizado no Córtex Motor e consiga otimizar o treinamento físico do seu aluno com o conhecimento de Neurofisiologia
Quem me acompanha sabe que sou apaixonado pelo Sistema Nervoso Central e sua interação com os outros sistemas que constituem essa máquina tão complexa e perfeita chamada corpo humano. Então é exatamente isso que vou trazer neste texto: a relação do Córtex Motor com o controle do exercício físico e as adaptações e conceitos essenciais para a prescrição e controle do treinamento, seja para Reabilitação, para o Fitness ou o Alto Rendimento.
Quando eu falo o termo “neuro” para alunos em congressos, em faculdade ou até para profissionais em aulas de pós-graduação, alguns já desanimam porque pensam que o tema é difícil e/ou chato. Mas isso não é verdade! Apesar de possuir muito conteúdo devido à complexidade desse sistema, a área é fascinante, pois é o cérebro que comanda tudo no corpo.
E quando falamos da anatomia do Sistema Nervoso já temos que pensar que ele não é só cérebro e medula. A divisão anatômica é feita em duas partes:
Sistema Nervoso Central
Formado por cérebro e medula. Apesar do cérebro ser o nosso “computador central”, podemos dizer pela ciência de hoje que a medula também é inteligente, possuindo muitos elementos de processamento que não precisam chegar no cérebro. Uma parte desse sistema é responsável pela compreensão, pensamento e comandos (autônomos ou não).
Sistema Nervoso Periférico
Formado pelos nervos e gânglios, esse sistema é responsável por conduzir informações pelo nosso corpo. Quando é gerado um potencial de ação para o movimento corporal, por exemplo, o nervo leva aquilo que foi criado no SNC (no nível de córtex) até as fibras musculares. Esses sinais vão promover a liberação de neurotransmissores (acetilcolina) na fenda sináptica da placa motora, que por sua vez vai interagir com a membrana da célula muscular, estimulando-a para promover o potencial de ação na célula, fazendo com que aconteça a contração muscular.
Temos que entender que o movimento gera tanto aferência (sentido ou percepção de que há algo se movimentando) quanto a eferência (impulso de movimento voluntário). Por exemplo: toda vez que você faz uma contração muscular concêntrica, acontece um estiramento contrário a essa ação. Isso é captado por determinadas estruturas que enviarão sinais de aferências e é justamente assim que o praticante irá entender que precisa fazer mais força para vencer aquela resistência.
Organização do Córtex Motor
Já sabemos que na anatomia há o local certo onde é feita a organização do movimento e que passa pelo córtex motor. Mas não existe só uma área no córtex responsável pelo movimento. Na verdade existem quatro áreas, dentre as quais a primária (que controla a execução do movimento) está no giro pré-frontal
Movimentar-se ou anular o movimento é muito complexo, então existe uma área responsável pela execução e se a movimentação fica mais complicada (duas mãos executando o movimento, por exemplo), são utilizadas outras áreas motoras, como a secundária. Ela está próxima do córtex cognitivo e, assim, busca estratégias de movimentação mais refinadas.
E certas vezes, para realizar o movimento, é preciso visualizá-lo usando uma área associativa além dessas duas. Uma ajuda no comando da execução, a outra a organizar exercícios que são complicados (como os bilaterais) e a terceira cria estratégias para ordenar o movimento.
Neurofisiologia do movimento na prática
Reparem no jogo de basquete: quando um jogador sofre uma falta, deve se posicionar e esperar para receber a bola do árbitro. Apesar de ainda não ter acesso à ela, o atleta faz a orientação do corpo exatamente na posição que vai arremessar e executa um arremesso com uma bola imaginária, da mesma forma que faria com uma real. Ele está se preparando para o exercício, visualizando e buscando estratégias para poder executar. Em outras palavras, é como se ele estivesse calibrando o Sistema Nervoso para marcar a cesta. Logo após, ele recebe a bola do árbitro e executa a tarefa da mesma forma de quando fez apenas imaginando.
Se quisermos complicar um pouco mais essa questão do movimento, podemos pensar no handebol. Quando o jogador recebe o lançamento e precisa finalizar em direção ao gol, ele vê a bola vindo em sua direção e existe aí uma aferência, um estímulo visual. Isso será tratado na área visual primária, só que é preciso ligar a parte do córtex que é visual com o córtex motor. É aí que entra o córtex parietal posterior que vai visualizar o trajeto da bola e calcular o quanto será preciso deslocar para recebê-la.
O personal trainer e a neurofisiologia do exercício
Aí você pode me perguntar: “O que isso muda no meu trabalho se eu sou personal trainer?”. Entender a neurofisiologia é importante, pois devemos orientar o posicionamento correto do movimento, cientes de que tudo se inicia no cérebro.
A hipertrofia e o ganho de força, por exemplo, começam no SNC (através do período neural, que acontece antes do hipertrófico). Nas primeiras semanas, ainda não há hipertrofia significativa, mas existe um ganho de força produzido pelo aprendizado do exercício, melhorando a interação intermuscular.
Com o conhecimento dessa área, os parâmetros de treinamento serão organizados de forma diferente, principalmente para idosos, crianças ou pessoas com lesões osteomioarticulares ou do sistema nervoso.
Além de observar o número de repetições para quantificar a carga, que tal considerar o padrão de movimento? Ele que causará as adaptações no cérebro e é ali que tudo acontece. Vamos olhar o SNC como a chave inicial do exercício, pois a partir dele é que de fato vamos controlar o exercício de maneira efetiva.
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