Entenda o papel da atividade física no controle hormonal e do apetite para a conquista da perda de peso
Em meu primeiro texto como colunista do Blog do IESPE, tratei de um dos assuntos mais recorrentes no meio do profissional de Educação Física: o emagrecimento. Sabemos que muitas vezes os nossos clientes iniciam o programa de exercício com a intenção de não só conseguir uma vida saudável, mas, principalmente, perder peso. E se a alimentação também é muito importante no alcance dessa meta, uma das dificuldades principais é o controle do apetite. Afinal, o sucesso do emagrecimento começa na fome?
Para resolver essa questão, devemos nos voltar para o conhecimento adquirido na formação, no estudo e prática na nossa carreira. Como sabemos, o nosso corpo é acionado por diversos mecanismos homeostáticos com o propósito de gerenciar o comportamento metabólico dos sistemas energéticos. E um dos principais e mais bem desenvolvidos é o de degradação da gordura em partículas menores que serão oxidadas nos músculos, principalmente os que se ativam durante práticas de atividade física.
O chamado metabolismo lipolítico diz respeito a todo processamento bioquímico da conversão e utilização da gordura estocada do tecido adiposo como fonte energética predominante. O oxigênio extraído do ar que respiramos é capaz de promover a oxidação dos ácidos graxos que vêm das macromoléculas de triglicérides e que estão dentro das células mitocondriais presentes principalmente nos músculos esqueléticos.
A interação entre os diversos componentes requeridos para que a gordura seja queimada no músculo é uma das condições primordiais para que a composição corporal seja modulada através do percentual de gordura estocada. Ou seja, o tanto de gordura que será estocada nos sítios de depósito intratecidual dependerá de um intricado sistema fisiológico regulatório que depende da ação de agentes imunes, inflamatórios e hormonais.
Hormônios e o processo de emagrecimento
Dentre os hormônios que regulam tanto o aumento do estoque de gordura quanto os que promovem a mobilização das partículas menores de gordura dos adipócitos do tecido adiposo (que irão ser “jogadas” para transporte específico na corrente sanguínea), alguns deles devem receber maior atenção.
Sabe-se que a insulina liberada pelo pâncreas é o maior hormônio anabólico existente. Essa condição leva em consideração a capacidade com que a insulina consegue promover a entrada de nutrientes (principalmente glicose) dentro das células adiposas e consequentemente hipertrofiá-las. Isso é o que leva ao aumento tanto de seu tamanho quanto de seu conteúdo.
Em contrapartida, as catecolaminas adrenais (noradrenalina e adrenalina) produzidas na porção medular das glândulas adrenais são as principais responsáveis pela ativação da excitação da superfície de membrana dos adipócitos e ,consequentemente, servem de gatilho para o desencadeamento do sinal excitatório da membrana plasmática. Esse sinal inicia uma série de reações em cascata tanto de mobilização do tecido adiposo quanto de liberação/transporte dos ácidos graxos que serão “queimados nos músculos” tanto esqueléticos, quanto vicerais e cardíacos.
Enveredando a linha de ação hormonal, temos também os hormônios responsáveis pela atividade sinalizatória das respostas hipotalâmicas de apetite, fome e saciedade. Essa retroalimentação dos sinais que saem da periferia e chegam até o sistema nervoso central, mais precisamente no hipotálamo, decodificam o quanto o organismo incentiva respostas em prol do apetite e consequentemente gera estímulo em prol do consumo alimentar, ou, inversamente, incita resultados direcionados à saciedade. Também inibem momentaneamente as vias nervosas de fome e apetite, levando ao estado de satisfação alimentar e consequentemente interrupção dos sinais pró-alimentação.
Esses sistemas são excitados e inibidos alternadamente ao longo do dia, portanto, orquestram o comportamento alimentar do indivíduo e modulam o grau de anorexia (redução do apetite) e orexia (aumento do apetite).
O exercício e o apetite na perda de peso
Pessoas que tendem a liberar maiores quantidades de insulina devido à alimentação desequilibrada, principalmente devido ao consumo de alimentos ultra-processados e densamente energéticos, tendem a liberar maiores quantidades de hormônios que favorecem os sinais de apetite extremo e aumentam a vontade descontrolada de comer. Paralelamente à redução da sensibilidade desses sistemas que regulam o comportamento alimentar, o aumento da quantidade de tecido adiposo encontrado em uma pessoa acima do peso ideal prejudica ainda mais a atividade fisiológica desses sistemas. Isso decorre por conta da liberação proporcional de agentes inflamatórios, conhecidos como adipocitocinas, que aumentam a atividade pró-inflamatória e reduzem a anti-inflamatória. Dessa forma, prejudicam ainda mais a capacidade que o nosso corpo tem de controlar as vias relacionadas ao apetite.
Um dos dois principais hormônios que enviam essas informações são o GLP-1 liberado pelo trato gastrointestinal inferior e o PYY liberado no cérebro. A concentração desses hormônios está proporcionalmente ligada à quantidade de tecido adiposo da pessoa e evidentemente aos fatores hormonais associados ao teor de gordura depositada. Essa é uma das justificativas que suportam o porquê de precisarmos manter um peso ideal e de preferência baixo: o excesso de peso está relacionado ao aumento da resistência à ação da insulina que, por sua vez, é parâmetro de interferência na atividade desses hormônios que coordenam o comportamento alimentar.
É por isso que praticar exercícios físicos regularmente é capaz de melhorar, entre outros inúmeros aspectos, o controle hormonal dessas vias de comportamento alimentar. Tanto diretamente, pela melhora da sensibilidade à ação da insulina e demais agentes hormonais voltados ao apetite e saciedade, quanto indiretamente, pela redução do tecido adiposo e consequente inflamação e desequilíbrio das vias metábolo hormonais.
Essa é mais uma das justificativas que demonstram que o emagrecimento não é uma questão de peso corporal ou gasto energético. Além de estar associado a um processo que demanda tempo e adaptação à nova realidade de funcionamento e gerenciamento metabólico, a prática de exercícios físicos vai regular os eixos dos comandos que modulam o quanto queremos comer ou nos sentimos saciados com a ingestão alimentar. Muitas vezes, esse é o fator que inibe todo um processo não medicamentoso (alimentação e exercício físico) de emagrecimento, principalmente por “abafar” os benefícios do exercício físico por conta do desejo de comidas altamente palatáveis e extremamente energéticas. Isso porque são essencialmente constituídas de gorduras e açúcares, principais mediadores da ação da insulina e dos hormônios que coordenam as vias de comando do apetite, fome e saciedade.
É por conta da complexidade dos aspectos que envolvem a perda de peso que a busca de maior conhecimento é não só importante, mas necessária para promover a saúde do aluno e cliente de forma mais eficiente e completa. Também porque muito do que possibilita um atendimento realmente personalizado vem com especializações e pós-graduações, como é o caso do curso de Ciência do Exercício Aplicada ao Fitness da FacRedentor no IESPE.
O que devemos entender por consequência dos fatores trabalhados neste texto é que o emagrecimento virá através da melhora do metabolismo como um todo. Contudo, nesse caso em específico, além da necessidade de estimulá-lo diariamente e gradativamente, (do ponto de vista dos hormônios que regulam o comportamento alimentar) a prática de exercícios físicos e a melhora da composição corporal serão capazes de progressivamente regular essas vias e promover o melhor controle da dieta e dos fatores comportamentais necessários ao emagrecimento.
Iepsen EW et al. Successful weight loss maintenance includes long-term increased meal responses of GLP-1 and PYY 3-36. Eur J Endocrinol. 2016, 1115-21
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