Conheça as técnicas para a utilização do KED, o Dispositivo de Extricação de Kendrick, no Atendimento Pré-Hospitalar
Que no APH (Atendimento Pré-Hospitalar) devemos estar sempre preparados para trabalhar de forma conjunta e rápida a fim de conseguir contornar a situação grave do paciente todo mundo já entende. O que muita gente ainda não não sabe é que tudo isso só é possível por meio de algumas ferramentas que auxiliam no transporte, imobilização e movimentação da pessoa atendida. Hoje, vamos aprender sobre um desses instrumentos essenciais: o KED (Kendrick Extrication Device) ou Dispositivo de Extricação de Kendrick.
Em primeira vista, o nome pode assustar um pouco, mas o KED, nada mais é do que um instrumento de extricação criado por Rick Kendrick em 1978. É interessante como o seu desenvolvimento é recente considerando o quanto esse tipo de ferramenta é importante no dia-a-dia do APH, devido à sua eficiência e segurança. Principalmente porque é usado por profissionais que têm a grande responsabilidade de atender de forma rápida e eficaz para estabilizar um paciente em situação de emergência, como você pode conferir no post sobre Os desafios do APH – Atendimento Pré-Hospitalar.
O uso desse dispositivo é frequente porque um dos principais passos do cuidado ao traumatizado é a “extricação”. Como sabemos, esse é um termo muito usado no meio e envolve retirar uma vítima de um local em que está presa ou não consegue sair com segurança usando suas próprias capacidades. Portanto, a principal função dessa ferramenta é a imobilização e estabilização, em conjunto com o colar cervical, de toda a coluna vertebral para que a retirada do paciente possa acontecer.
Trata-se de um equipamento tipo veste ou colete com a parte posterior rígida, que fica em contato com a cabeça, pescoço e a coluna vertebral, até a cintura pélvica. A parte anterior consiste em duas “abas” que envolvem a coluna em sua porção final e a pelve do paciente, que são presas uma à outra por três tirantes de diferentes cores (conforme o fabricante).
O KED foi idealizado e criado para a extricação de vítimas de veículos automotores, nos casos em que não é possível estabilizar seguramente o paciente em prancha longa, devido à sua posição dentro do veículo. O objetivo é estabilizar a coluna vertebral antes de proceder à imobilização completa em prancha longa. Porém, deve ser usado em vítimas conscientes e estáveis (sem risco imediato de morte ou complicação), em cenas seguras, que também não ofereçam risco à equipe de socorristas e somente quando o tempo não for a principal preocupação. Não se recomenda o uso do KED para pacientes inconscientes e/ou instáveis, devido à duração necessária para a sua correta colocação. Para esses pacientes, podemos utilizar técnicas de extricação rápida como a “Chave de Rauteck” e a “Anaconda”. A vantagem em usá-las está na rapidez de aplicação e no fato de que não demandam o uso de muitos equipamentos. Porém, não oferecem tanta estabilidade e proteção quanto o KED.
Como colocar o KED no paciente?
A técnica para colocação do KED exige de dois a três socorristas com treinamento para sua correta utilização, pois o posicionamento incorreto do dispositivo pode causar movimentos bruscos na coluna e, portanto, danos físicos no paciente. E tudo o que a gente menos quer é agravar a situação, não é mesmo?
Feitas a avaliação e a sinalização da cena, a vítima deve ser abordada juntamente com a estabilização manual da cabeça conforme a imagem à esquerda (Abordagem primária Rápida – ABC), mantendo-a em posição neutra, alinhada à coluna cervical.
Um segundo socorrista deve então colocar o colar cervical de tamanho adequado (veja imagem à direita) e proceder com a Avaliação Primária Completa (ABCDE). A vítima deve ser movimentada em bloco para frente, liberando espaço entre ela e o banco para a passagem do KED (veja a imagem abaixo). O dispositivo deve ser colocado alinhado à coluna, com as abas posicionadas logo abaixo das axilas (veja imagem à direita).
É importante lembrar que os tirantes longos (tirantes da virilha) devem ser soltos e posicionados por cima do colete, para facilitar sua fixação ao final (veja imagem à esquerda).
Os tirantes devem ser bem presos e ajustados na ordem correta (por isso as cores diferentes) com o objetivo de envolver a vítima de forma uniforme. O primeiro a ser preso é o tirante central (abdominal), seguido pelo tirante inferior (quadril) e o superior (tórax), conforme imagem abaixo.
É preciso ter cuidado nesse momento com casos em que esse método de colocar o dispositivo na vítima deve ser feito de maneira diferente. Em gestantes, por exemplo, o tirante abdominal e o torácico não devem ser tracionados, evitando a compressão abdominal.
Em todos os pacientes, os tirantes longos (virilha) devem ser então passados por baixo dos joelhos, de fora para dentro, e posicionados em linha reta com a prega glútea, acoplados e bem ajustados (veja imagem abaixo).
Por último, procedemos com a imobilização completa da cabeça. É Importante observar se há espaço não preenchido entre a cabeça/coluna e o KED, dificultando o alinhamento correto. Se isso ocorrer, pode-se colocar um acolchoamento entre a cabeça ou coluna e o KED, para mantê-las alinhadas e em posição neutra.
As abas superiores devem ser posicionadas (segure-as juntamente com o colar cervical, pois isso permite uma troca cuidadosa e segura da imobilização manual da cabeça) de acordo com a imagem à esquerda.
Para proceder à imobilização completa da cabeça, prenda-a com os tirantes (tirantes de cabeça) na lateral das abas, passando um tirante na altura da região frontal da cabeça e outro na altura da mandíbula, tomando cuidado para não comprimi-la ou prejudicar a ventilação por tração excessiva (veja imagem abaixo)
Nesse momento, já não é necessária a imobilização manual da cabeça, pois a mesma está completamente estabilizada (veja imagem à direita).
Depois que todos os tirantes estiverem acoplados, verifique o ajuste de cada um, e então tracione o tirante do tórax de maneira que ele fique firme e não impeça ou prejudique a ventilação do paciente.
Se o socorrista seguiu esses direcionamentos, o paciente então se encontra com a coluna vertebral imobilizada. Mas o trabalho ainda está só no começo. O próximo passo é a retirada segura do veículo. Para isso, posicionamos a prancha longa na abertura do veículo (porta) com sua porção final entre o banco e as nádegas da vítima. Um socorrista deve segurar e tracionar a prancha contra o banco, impedindo que ela se movimente ou caia durante a movimentação do paciente (veja imagem à esquerda).
O KED possui quatro alças, posicionadas paralelamente umas às outras: duas na altura da cabeça (superiores) e duas na altura do quadril (inferiores). Essas abas são necessárias para girar o KED com o paciente e retirá-lo do veiculo para a prancha longa.
Um socorrista deve segurar as abas do lado direito (superior e inferior) e outro socorrista as do lado esquerdo (superior e inferior). A vítima então vai sendo virada em sincronia, ao comando do profissional que está à direita da vítima (veja imagem à direita).
À medida que se gira a vítima, suas pernas devem ser soltas da parte inferior do painel (uma por vez) e elevadas para o assento, impedindo que fiquem presas e sejam tracionadas. O paciente então é colocado sentado na prancha longa e, nesse momento, devem-se soltar os tirantes da virilha e das pernas abaixadas (veja imagem abaixo).
Os socorristas então fazem um movimento sincronizado para posicionar a vítima na prancha. O tirante de tórax pode ser afrouxado durante esse processo (veja imagem abaixo).
Com a vítima posicionada na prancha, o KED não pode ser removido e deve ser iniciada a imobilização completa (tirantes de tórax, quadril, membros inferiores e imobilização da cabeça –Head block e tirantes).
Apesar da função do KED ser a extricação de vítimas do interior de veículos, ao longo do tempo percebeu-se que o mesmo seria útil para outras técnicas, como a imobilização de quadril e fêmur em casos de fraturas (KED invertido) e para imobilização de crianças (na ausência da prancha infantil). Por isso é importante saber das peculiaridades de cada caso para não errar.
Gostou das dicas e já se sente um profissional capaz de utilizar o KED da maneira correta? Então fique ligado aqui no Blog do IESPe para conhecer outros métodos e ferramentas usadas no APH – Atendimento Pré Hospitalar nos próximos posts.
Tem alguma dúvida? Deixe seu comentário aqui embaixo que eu respondo, ok?
Abraço,
9 comentários em “Como funciona o KED?”
Muito bom.. Parabéns
Excelente , boa didática de fácil compreensão, muito útil para o aprendizado e aperfeiçoamento de profissionais do APH
Gratidão..Ótima explicação..
Posso multiplicar seu trabalho? muito bom
Legal muito bom eu também sou socorrista
Muito bom seu trabalho Parabéns
Parabéns excelente
Gostei muito!!
Vai me ajudar muito nos treinamentos da minha brigada de emergencia.
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