Conheça os principais efeitos positivos do exercício físico em cada parte do organismo e a contribuição do profissional de Educação Física para a Saúde
Desde centenas de anos antes de Cristo, a atividade física é conhecida por ser capaz de prevenir doenças crônicas. Hipócrates, o pai da Medicina ocidental, já relatava: “O melhor remédio do homem é a caminhada”.
Além disso, já chamava a atenção para a interação que o exercício físico apresenta com uma alimentação saudável, ao mencionar: “Se existe uma deficiência na alimentação e exercício físico, o corpo adoecerá”.
Portanto, desde os primórdios, o movimento corporal desencadeado pela atividade física mostra-se imprescindível para a melhora do funcionamento metabólico do organismo. E, atualmente, o programa Exercise is Medicine® (exercício é remédio) incentiva o uso do exercício físico no tratamento de doentes, sendo apontado como uma das grandes tendências do Fitness para 2017 pela American College of Sports Medicine.
Por outro lado, a inatividade física gera uma desorganização da homeostase metabólica, muito por causar disfunções hormonais como a diminuição da sensibilidade à insulina, redução da lipólise e beta oxidação muscular, sarcopenia, osteopenia, elevação da adiposidade visceral, entre outros efeitos.
Essas consequências geradas pela inatividade física potencializam o risco de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis como obesidade, dislipdemia, doenças cardiovasculares, diabetes mellitus do tipo 2, além de aumentar o risco de surgimento de outras patologias como cânceres de cólon e mama, osteoporose, osteoartrite, disfunção erétil e síndrome do ovário policístico. Por isso, expliquei em um post anterior como nós profissionais de Educação Física podemos ajudar as pessoas a vencer a luta contra o sedentarismo.
Os benefícios da prática regular de atividade física são atribuídos a vários mecanismos, que incluem redução da inflamação sistêmica, atividade imune e hormonal, redução da adiposidade, ganho de massa muscular isenta de gordura, aumento da aptidão cardiorrespiratória através da melhora do VO2 (taxa de consumo de oxigênio) máximo, entre diversos outros.
Outros mecanismos descobertos há pouco tempo contribuíram para a elucidação de gatilhos celulares que desencadeiam adaptações fisiológicas positivas. Lembrando que elas estão relacionadas à melhora do metabolismo e consequentemente da saúde como um todo.
Benefícios do exercício físico no corpo
Durante a contração muscular do exercício físico, proteínas, peptídeos, enzimas e metabólitos são liberados de um órgão para o outro. Os principais agentes que medeiam o desenvolvimento dessas adaptações são proteínas liberadas pelo tecido muscular esquelético, chamadas miocinas.
A ação das miocinas em outros órgãos impulsiona a atividade molecular de diversas células teciduais que, acionadas por essas proteínas da musculatura esquelética (ativada pelo exercício físico), melhoram o metabolismo do órgão ativado:
Tecido adiposo: há aumento da expressão gênica dos PPARs (receptores ativados por proliferadores de peroxissoma) para a síntese de novas mitocôndrias, devido ao aumento da atividade mitocondrial ocasionada pela proteína PGC-1 alfa e também pela produção de interleucinas anti-inflamatóris, como a IL-6 e 10 e também adiponectina.
Vasos sanguíneos: aumenta-se a expressão para o desenvolvimento de novos capilares, através da proteína VGF, o que aumenta a circulação e consequentemente melhora o fluxo sanguíneo e a distribuição de nutrientes.
Cérebro: há aumento da neurogênese do hipocampo e plasticidade neural, pela BDNF e da captepsina B, o que aumenta a atividade sináptica interneuronal. Esse processo repercute positivamente no aperfeiçoamento da função cerebral e cognitiva, cujos desfechos podem incluir a melhora da memória e redução do surgimento de doenças como Alzheimeir e Parkinson.
A liberação de miocinas é otimizada durante a prática de exercícios. Contudo, existe uma relação direta entre a quantidade liberada e a massa muscular esquelética, ou seja, quanto maior a massa muscular maior será essa liberação, tanto em repouso quanto no acionamento da atividade contrátil pelo exercício.
Essa é uma das justificativas pelas quais todos os tipos de exercício físico devem ser realizados, mas o ganho de massa muscular deve ser sempre objetivado, principalmente durante o envelhecimento.
Embora a contração do músculo seja capaz de secretar proteínas e metabólitos durante o exercício, outros órgãos podem ter propriedades endócrinas durante a atividade física, como ossos e tecido adiposo.
Sistema Ósseo: pode impulsionar o aumento das adaptações ao exercício físico através da liberação de um hormônio chamado osteocalcina. O desenvolvimento das concentrações de osteocalcina circulante não só faz crescer a captação intramuscular de glicose durante o exercício, mas também eleva a produção e a liberação de IL-6 muscular. Isso repercute positivamente sobre a disponibilidade de ácidos graxos a partir dos adipócitos e síntese de glicose hepática, o que estabelece que há uma intercomunicação entre osso, músculo esquelético e fígado.
Tecido Adiposo: também libera adipocitocinas que acionam diversos efeitos, principalmente a regulação da atividade inflamatória e sinalizatória para a mobilização lipolítica e oxidação de ácidos graxos.
Os efeitos modulatórios proporcionados pela atividade física também incidem positivamente sobre a diminuição do risco e melhora do prognóstico de alguns tipos de câncer como o de cólon, mama e possivelmente o de endométrio.
As principais hipóteses que sustentam uma relação preventiva e terapêutica do exercício físico sobre a carcinogênese é a de que a prática regular reduz o estresse oxidativo e radicais livres que possam maximizar o acionamento da transcrição das células tumorais. Ademais, o exercício físico é capaz de desencadear a supressão ativatória da mTOR, que é uma proteína que regula o crescimento celular, em carcinomas.
Outro aspecto importante é que o exercício físico é capaz de reprogramar o comportamento do metabolismo das células tumorais. A prática limita a quantidade de glicose e glutamina disponíveis em carcinomas, o que estimula a apoptose celular, devido à reversão do metabolismo associado à reprogramação causada pelo tumor.
Paralelamente, as adaptações do exercício físico aumentam a capacidade imune do indivíduo praticante. A melhora do sistema imunológico aumenta o combate da inflamação, estresse oxidativo e atividade das diversas células de defesa de nosso organismo, em especial as “natural killers”, diretamente relacionadas à redução do desenvolvimento de câncer.
Já é consenso que o exercício físico é o melhor remédio que existe para a a saúde, entretanto é sempre bom lembrar que o que diferencia o remédio do veneno é a dose utilizada. Por isso, é muito importante o acompanhamento de um educador físico especializado para garantir que a atividade está sendo realizada de maneira correta e em uma quantidade adequada. No IESPE, por exemplo, estão disponíveis pós-graduações da Faculdade Redentor em Educação Física Aplicada ao Fitness e em Educação Física Aplicada a Grupos Especiais.
A realização inadequada de exercícios físicos pode levar a prejuízos e comprometimentos que, além de efeitos patológicos adversos podem levar a quadros de lesões que impossibilitam a prática regular, geram incapacidade física e inatividade que podem evoluir para o sedentarismo. Consequentemente, alimentam toda a desrregulação metabólica que sustenta o desenvolvimento de doenças cardiometabólicas e levam à morbimortalidade.
Portanto, nunca esqueça da importância de profissionais de educação física e áreas afins para a prescrição correta e segura de exercícios físicos.
Referências:
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