Entenda o papel da evolução neurológica no desenvolvimento da linguagem e como a alfabetização pode ser otimizada por pais e professores
A alfabetização requer mediar e estimular duas faculdades psíquicas muito singulares da espécie humana: a praxia fina, responsável pelo controle motor de precisão, e a linguagem, faculdade particular da espécie humana, que envolve a fala, a significação de símbolos e a comunicação e transmissão de conhecimentos.
Por conta da complexidade do tema dentro da Educação, este texto será dividido em três partes. Neste primeiro momento vamos abordar as características neurológicas. Lembre-se de conferir a segunda parte, sobre a linguagem oral e o grafismo.
Desenvolvimento do sistema neurológico
Com a evolução do sistema neurológico iniciada pelo domínio do fogo e, por conseguinte, o acesso a cadeias proteicas mais complexas de origem animal, as estruturas de planejamento e controle de movimento se tornaram mais especializadas. Eles fizeram com que o homem pudesse dominar melhor a ferramenta manual, guiada pelo polegar opositor, e, assim, construísse utensílios que serviriam para aumentar a produção e transformar o ambiente que viviam.
Essa é a história de nossa herança filogenética, ou seja, da evolução neurofuncional que possibilitou a espécie humana criar tecnologia de transformação e assim modificar cada vez mais o ambiente, que alimentaria novamente a cadeia de acesso a novas fontes proteicas. Aliadas a novas experimentações motoras, elas gerariam outra estrutura de movimentos, aprimorando assim a praxia fina e concluindo o processo em uma movimentação cada vez mais precisa e especializada.
Em nossa programação neural, a inserção da fala é um processo natural, visto que os receptores auditivos, seja pelas vias auriculares ou pela via óssea, conduzem o som até os neuroreceptores especializados. E neles que os sons são codificados em signos e decodificados em imagens equivalentes, completando a equação na formação de uma consciência linguística.
A aquisição da linguagem
Esse processo ganhará eferência, ou seja, será externalizado, quando o sujeito (em primeiro momento por mimetismo do som ouvido e em segundo por imitação do gesto motor através da leitura do movimento labial), começar a parear a experiência do som recebido de outra pessoa com aquele percebido pela sua própria emissão. É o que chamamos de consciência fonológica. Em resumo, ela é a compreensão das diferentes formas com que a linguagem oral pode ser dividida em componentes menores que podem ser manipulados.
Este procedimento para desenvolver consciência fonológica e ensinar correspondências grafo-fonêmicas abrange diversos níveis de consciência, desde a consciência de rimas e aliterações até a consciência de fonemas (Capovilla &Capovilla, 2000b)
O processo descrito é fundamento de aquisição da linguagem. Logo, sabendo que o pensamento é um desdobramento da linguagem e que o raciocínio possibilita a organização e cognição do pensamento, podemos afirmar que a alfabetização se inicia desde o início da fase da fala e é aprimorada à medida que os processos da linguagem se tornam mais complexos.
É imperativo que essa equação esteja equilibrada e seja alimentada adequadamente, além de estimulada com cuidado, para que sejam evitadas distorções. Principalmente porque esses erros acarretarão no futuro em baixo desempenho de aprendizagem, baixa compreensão da realidade, distorções na compreensão e contextualização de textos, pouca capacidade de argumentação e ineficiência em análise e coesão.
Por esse motivo, o profissional especializado na Alfabetização infantil tem uma grande responsabilidade, juntamente com a coordenação e direção da escola.
Como pais e professores podem contribuir na alfabetização?
As orientações para o processo de aquisição da linguagem, tanto para os pais quanto para os professores de educação infantil, são estimulação e reforçamento:
1 – Nunca fale errado com a criança ou reforce esse comportamento: embora seja muito engraçado quando a criança troca um fonema ou fala de forma errada uma palavra, não devemos reforçar o erro. Ainda mais que, por causa da linguagem não verbal, ela perceberá nossa satisfação pela situação, o que dialogará com seu centro de recompensa. Isso vai dificultar o processo de correção caso ela utilize desse comportamento para alcançar uma sensação positiva.
2 – Reforce e associe os sons com imagens que os signifique: representações gráficas dos sons emitidos fazem com que a criança comece a construir seus elementos simbólicos, que facilitarão o processo de associação entre o que ela fala e a imagem mental do pensamento. É o que chamamos de consciência simbólica.
Na próxima parte deste artigo veremos como a linguagem oral ganha forma na transmissão de valores e histórias e como utilizamos do grafismo para criar a escrita e assim eternizarmos os conceitos, uma vez que escritos podem ser armazenados.
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