Aprenda os detalhes e a necessidade de um treinamento físico bem estruturado e que considere o perfil de cada cliente
O treinamento físico é uma importante atividade que utiliza o movimento humano como base para o desenvolvimento de capacidades psicofísicas que evoluem progressivamente o desempenho e função fisiológica de diversos sistemas corporais.
É incrível constatar que a atividade neuromuscular desencadeada pela contração muscular é importante condição para que nosso corpo desenvolva adaptações que vão desde a melhora dos aspectos emocionais até os metabólicos e motores propriamente ditos.
A retroalimentação da interação entre a atividade sinalizatória das reações bioquímicas de mobilização de nossas reservas energéticas, como tecido adiposo e glicogênio muscular, são incrementalmente moduladas pelo tipo e especificidade do exercício físico regularmente realizado.
O treinamento físico irá avaliar, identificar, organizar e sistematizar todas as variáveis próprias do desenvolvimento de uma prescrição contextual e individual do exercício. É essa condição que garante ao processo de treinamento físico o título de ciência. Sim! As ciências do treinamento são importantes para desenvolver métodos que garantam a segurança, adaptação, efetividade e viabilidade dos movimentos corporais. Além disso, são necessárias para a otimização dos benefícios biopsicossociais característicos da prática regular de exercícios físicos.
A aplicabilidade desses benefícios é vasta e igualmente relevante nas diversas esferas envolvidas nas ciências do treinamento físico. Estamos falando do alto rendimento, saúde, performance, reabilitação física e lazer.
O que irá justificar o contexto no qual devem ser inseridos os componentes de treinamento será a magnitude da manipulação das variáveis envolvidas nesse processo. Estamos nos referindo ao volume, duração e intensidade dos estímulos de contração muscular que resultam do movimento humano e seus reflexos em todos os sistemas corporais, seja a nível psicofísico, neuromotor ou metabólico.
Qual a importância de um bom treinamento físico?
Como ciência, o estudo da interação entre as variáveis de treinamento físico permite a quantificação e qualificação do exercício, fazendo com que ele possa ser avaliado e consolidado. Isso é importante para que seja definido um sistema métrico de identificação, planejamento e prescrição individual e coletiva do gesto motor. Também irá garantir a efetividade de movimento, cargas de trabalho, densidade do treino, recuperação adequada e periodização do planejamento em pequenos, médios e longos ciclos (micro, meso e macrociclos).
Essa condição fornece segurança, progressão e individualização, permitindo um controle mais refinado e condizente com as especificidades e necessidades da modalidade esportiva realizada, seja ela a nível competitivo ou visando a melhora da saúde. Dessa forma, é possível projetar diversas maneiras e metodologias de treinamento que permitem a prática de exercício por todas as pessoas, independentemente da experiência anterior na modalidade, nível de atividade física, condição física, idade ou sexo.
A partir dessa condição, conseguimos entender a relevância e complexidade da elaboração de um bom treino, independente da modalidade praticada. Embora existam pessoas que acreditam que o mais importante seja realizar o movimento e ser ativo, é necessário justificar por que essa prerrogativa não pode ser simplificada dessa maneira.
O argumento para isso é justamente a individualização do treino. Levar em consideração todas as variáveis envolvidas no processo é condição sine qua non, ou seja, imprescindível para a prática segura, progressiva e incremental de qualquer exercício físico. É isso que garantirá a máxima potencialização dos benefícios ao invés de lesões ou falta de interesse e abandono da modalidade. A contextualização de todas as aplicações envolvidas na ciência da prescrição de exercícios , será capaz de sustentar uma condição psicofísica que dará suporte biopsicossocial ao indivíduo que se movimenta, considerando as susas peculiaridades.
Dentro de uma visão evolutiva e primitiva, se exercitar vai contra a natureza humana. Na ótica evolucionista, toda ou qualquer atividade de gasto energético deve ser condensada somente para a caça, luta ou fuga de predadores. Partindo desse pressuposto e que somos animais mamíferos, qualquer atividade além da sobrevivência iria potencializar o acionamento da utilização de energia de reserva. Um leão só se “exercita” para caçar ou proteger seu espaço e esse racional serve para qualquer animal. Nenhum deles se “exercita” no intuito de desenvolver capacidades físicas destinadas à melhora da eficiência da velocidade na corrida contra presas ou predadores.
Além disso, na pré-história a modulação correta dessa condição de utilização e estoque de energia corporal foi a base que permitiu ao homem das cavernas sobreviver em um período de escassez de alimentos e ambiente vulnerável que possibilitava a extinção de raças e espécies que não se adaptassem às condições inerentes ao ambiente.
Isso justificaria o porquê da alimentação correta ser a base que suporta as adaptações metabólicas necessárias para a utilização dos substratos energéticos de nosso corpo e também por que a prática regular de exercícios físicos modula o grau dessa utilização. Dentro do âmbito da prática de exercícios físicos e nutrição esportiva, aquele ditado do ovo e da galinha poderia ser introduzido . O que vem primeiro: uma boa nutrição (que contempla as necessidades energéticas e recuperação do desgaste provocado no atleta) ou o exercício físico (que provoca as adaptações necessárias para mediar o quanto nosso corpo irá necessitar de energia e nutrientes)?.
Podemos elaborar essa questão a partir do entendimento de que o estresse metabólico gerado pela prática de exercícios físicos é o que desencadeia condições necessárias para a evolução dos sistemas de utilização dos substratos energéticos. E são eles os combustíveis para o acionamento dos sistemas mecânicos de integração entre os diversos componentes biológicos do movimento humano (nervoso, neuromuscular, osteoarticular e bioquímico), já que a ciência do treinamento esportivo deve ser minunciosamente integrativa.
Levar em consideração todo o conhecimento acerca de todos os fatores envolvidos no movimento humano pode ser o diferencial para a compreensão desse fenômeno. Como consequência, também possibilita dar suporte a boas práticas de conduta profissional a fim de garantir a aderência crônica do praticante à modalidade esportiva exercida, assim como a segurança e proteção contra o surgimento de lesões, otimização das capacidades físicas requeridas pela especificidade do exercício, maximização da performance esportiva, obtenção de prazer e qualidade de vida e, é claro, melhora da saúde e bem-estar.
Diante do exposto, cabe aos profissionais que atuam na área entender o quão complexo é a prescrição do exercício físico. E destaco como sempre a importância do estudo para o melhor desenvolvimento de recursos para o exercício, através de especializações como as que a FacRedentor possui em Fitness e Grupos Especiais e que acontecem no IESPE. A ciência do treinamento físico auxiliará tanto o praticante quanto os profissionais envolvidos na prescrição do “ melhor treino” ou estabelecimento de protocolos que consigam identificar, agrupar e conciliar aos diversos fatores envolvidos na prescrição correta, segura e otimizadora dos componentes de performance humana. A partir dessa condição, nos aproximaremos da obtenção de saúde, bem-estar e eficiência fisiológica dos sistemas que integram o movimento humano acionado pelo exercício físico.
Abraço,
Blair SN et al. Exercise therapy – the public health message. Scand J Med Sci Sports. 2012 Aug;22(4):e24-8.