Aprenda sobre a nutrição materno-infantil e como ela pode contribuir para a saúde no período da gravidez
Durante a gestação, a saúde e alimentação da mãe podem influenciar diretamente na saúde do bebê, portanto, são aspectos que devem ser promovidos antes mesmo da gravidez! E ai, surgem diversos questionamentos: “A alimentação pode influenciar na fertilidade?”; “Quais cuidados devem ser tomados com a alimentação durante a gestação?”; “Quando devo começar e parar de amamentar meu bebê?”; “Quantas vezes o bebê deve mamar por dia?”; “Quando o meu filho pode começar a comer?”; … Muitas dúvidas e inseguranças aparecem nesse momento e, sabendo que o grupo materno-infantil necessita de cuidados específicos, o nutricionista especialista é uma peça-chave nesse processo.
Sabemos que a Nutrição, por envolver algo tão essencial quanto os alimentos que consumimos, precisa de profissionais competentes e que tenham paixão por aquilo que fazem, tratando do público que mais se enquadra no seu perfil. Aqui no Blog do IESPE, por exemplo, vimos por meio de depoimentos contados por minhas colegas nutricionistas, que a área possui muitas outras especializações possíveis, que abrangem conhecimentos como Gastronomia e Esporte.
No meu caso, tive a felicidade de me descobrir como nutricionista nessa área fascinante que é a materno-infantil. A nutrição surgiu na minha vida durante o início da adolescência, devido à necessidade de mudança nos hábitos alimentares. A partir do acompanhamento com uma nutricionista, fui me apaixonando por aquele mundo de novos alimentos, porções, variedades, cores, rótulos, condutas e os benefícios que aquelas mudanças de hábitos estavam gerando. Estava completamente encantada e não tive dúvidas de tomar a decisão do curso: Nutrição!
A cada período da faculdade, sentia mais a certeza de que fiz a escolha certa. Durante a graduação, me envolvi em alguns projetos (monitoria, iniciação científica, por exemplo) que me despertaram o desejo da docência e pesquisa. Conclui a formação e fui direto continuar os estudos fazendo o mestrado em Nutrição e Saúde e, nesse meio tempo, surgiu um desejo e encantamento com o grupo materno-infantil. Antes mesmo de concluir o mestrado, iniciei a especialização em Nutrição em Pediatria e me descobri, de fato, dentro da Nutrição.
A nutrição materno-infantil vem despertando cada vez mais o interesse da população, bem como dos profissionais, pelo simples fato de estarmos mais conscientes de que a alimentação saudável é fundamental em qualquer fase da vida. Por isso, aprender sobre esse tratamento é muito importante. Para entender a forma como o nutricionista pode auxiliar em uma boa gestação e na saúde do bebê, vou abordar algumas situações comuns nesse período e suas possíveis soluções.
Como o nutricionista pode auxiliar em alguns sintomas comuns da gestação?
Algumas situações são comuns durante a gestação e o nutricionista é capaz de identificá-las e tomar condutas nutricionais adequadas para eliminar ou amenizar os sintomas.
Os mais característicos e relatados pelas mulheres durante a gravidez são as náuseas e vômitos, que são frequentes no primeiro trimestre de gestação. Esse mal-estar pode ocorrer devido a alterações hormonais e aumentam a capacidade do olfato, deixando a mulher mais sensível a determinados tipos de odores. O organismo da gestante é tão sensacional, que esse aumento da capacidade olfativa é um instinto de defesa, pois a gestante consegue identificar desde já os alimentos que podem estar estragados, deixando de consumi-los. Algumas condutas podem ser tomadas para melhorar os sintomas, como fazer refeições pequenas, fracionadas e secas, consumir alimentos com baixo teor de gordura e biscoitos cream cracker no período da manhã, que podem ajudar a amenizar esses problemas. O ideal é a mulher identificar os alimentos que reduzem a própria sensação de náuseas e vômitos, lembrando, porém, que nenhum excesso é benéfico. Normalmente, a partir da 14ª semana, a disposição para alimentar-se normalmente volta ao que era antes e pode ocorrer um aumento do apetite.
Outro sintoma muito comum é a azia (pirose), que ocorre devido à pressão do útero sobre o estômago:o relaxamento do esfíncter esofagiano inferior (região que forma a entrada do estômago) faz com que, logo após o consumo de alimentos, o “bolo” retorne para o esôfago misturado ao ácido clorídrico, levando à sensação de queimação. As orientações básicas para a melhora desses sintomas são comer e mastigar tranquilamente, evitar períodos longos de jejum, fracionar as refeições e evitar grandes quantidades de alimentos.
Vale lembrar que essas são condutas gerais e nem sempre irão resolver ou serão adequadas dependendo da gestante. Como conversamos,um alimento que reduz a náusea de uma gestante, por exemplo, pode exacerbar esse sintoma em outra. Por isso, é necessário um atendimento nutricional individualizado.
Amamentação e Alimentação do bebê
Após o nascimento do bebê, vem o momento tão sonhado de muitas mamães: amamentar. O nutricionista e outros profissionais de saúde devem estimular e orientar o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de idade e complementado até dois anos ou mais. Vamos conversar em outros momentos sobre as mães que apresentam dificuldade para amamentar e o que pode ser feito nesses casos.
Até o sexto mês de idade, o leite materno exclusivo e em livre demanda é capaz de suprir todas as necessidades do bebê. O início da alimentação antes desse período deve ser desencorajado, pois pode acarretar em episódios de diarréia, desnutrição, menor absorção de nutrientes e menor tempo de aleitamento materno, comprometendo a saúde do bebê. O leite materno possui uma grande importância, uma vez que evita mortes infantis, diarréias e infecção respiratória, reduz o risco de alergias, hipertensão, colesterol alto, diabetes e obesidade, além de ter um efeito positivo no desenvolvimento cognitivo, … (são muitos!).Não podemos deixar de destacar também o desenvolvimento de laços emocionais mais fortes entre mãe e filho através da amamentação.
A partir do sexto mês, o bebê já está apto para iniciar a alimentação complementar, pois já desenvolveu os reflexos necessários para a deglutição, além de ser um importante momento para estimular a alimentação saudável e preferência alimentar, criando um hábito que pode acompanhá-lo até a vida adulta. Vale lembrar que a oferta do leite materno deve ser mantida (aliás, recomenda-se o aleitamento materno até os dois anos de idade ou mais), pois ele continua sendo uma excelente fonte de nutrientes. Destaca-se que nesse período é muito importante o acompanhamento de um nutricionista para orientar corretamente as etapas de introdução dos alimentos de acordo com as individualidades do bebê e da mãe.
Contraindicações no período de amamentação
Será que a lactante (a mãe que amamenta, também chamada de “nutriz”) necessita de alguns cuidados? Sempre. A mãe deve estar atenta a sua alimentação, procurando por hábitos alimentares e de vida saudáveis, evitando ou, de preferência, eliminando o uso de algumas substâncias que podem interferir no leite materno.
Dentre as substâncias, estão: a nicotina, que pode ter um efeito de redução na produção de leite e causar intoxicação na criança; o álcool em grandes quantidades, que tem a capacidade de inibir a descida do leite e desencadear em retardo psicológico e motor da criança; e a cafeína, que tem a possibilidade de causar dificuldades no sono e hiperatividade da criança. Logo, a orientação é que essas substâncias sejam retiradas enquanto estiver em aleitamento!
Apesar dos diversos benefícios do leite materno, em alguns casos o aleitamento é contraindicado, pois pode ser prejudicial em outros aspectos. Destacamos aqui os casos de bebês com galactosemias (dificuldade em metabolizar a galactose) e de mães que têm tuberculose ativa não tratada,que usam drogas de forma abusiva ou são soropositivas para o vírus da imunodeficiência humana (HIV).Esses e outros casos devem ser avaliados e discutidos com o médico e demais profissionais de saúde especializados na área. Lembrando que esse acompanhamento obstétrico é sempre importante para garantir a saúde da mãe e do bebê como um todo, como pudemos ver aqui no Blog do IESPE através do post Enfermagem Obstétrica: o papel de empoderar mulheres – parte 1, da enfermeira obstetra Ana Beatriz Querino.
Consequências de uma alimentação inadequada e o papel da Nutrição materno-infantil
A importância do nutricionista está não só na certeza de que uma boa alimentação irá resultar em uma gestação mais saudável, mas também no fato de que um hábito inadequado nesse sentido pode ter consequências graves na saúde da mãe e do bebê. Destaco aqui a deficiência de ferro como uma das maiores preocupações na infância, a qual é caracterizada pela anemia ferropriva. A deficiência de ferro pode prejudicar o crescimento e desenvolvimento normais do bebê, bem como a capacidade de aprendizagem, causando atraso no desenvolvimento da coordenação motora e da linguagem e provocando alterações comportamentais da criança. Essas consequências podem perdurar durante a vida toda do indivíduo quando não tratadas precocemente.
Logo, o nutricionista torna-se uma peça fundamental nesse período. As mães devem ser orientadas a promover o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês, uma vez que o leite materno é capaz de prevenir por si só a anemia e outras intercorrências nessa fase (além de nutrir o bebê de forma completa, como já citamos). A partir desse período, o nutricionista tem o importante papel de orientar o início da alimentação complementar do bebê de forma adequada e saudável, com alimentos apropriados para cada fase da vida e de forma individualizada, promovendo a saúde do bebê e prevenindo a possível deficiência de ferro e de outros nutrientes.
Mas, como vimos, a atuação desse profissional é ainda mais abrangente: a especialização do nutricionista no grupo materno-infantil permite o desenvolvimento de habilidades e capacidades sobre os cuidados e atenção nutricional para mulheres em idade reprodutiva, gestantes, nutrizes (ou lactantes, ou seja, as mães que amamentam), lactentes (o bebê que é amamentado), pré-escolares, escolares e adolescentes. Tudo isso respaldado em conhecimentos científicos para a abordagem nutricional adequada e individualizada do cliente, podendo abranger a influência da nutrição desde a fertilidade da mulher e do homem, (na saúde da gestante/pós-gestação, geração, crescimento e desenvolvimento do bebê) até a fase da adolescência.
Há quem diga que “nutricionista só faz dietas”, porém a Nutrição vai muito além. O nutricionista é o profissional capacitado para promover a saúde por meio de uma alimentação saudável, adequada e individualizada. E nada mais especial do que ter o privilégio de fornecer esse tratamento na formação de uma nova vida, contribuindo para que ela tenha uma história saudável em todos os sentidos.
Não se esqueça de compartilhar a sua experiência no tema e estou à disposição caso tenha qualquer dúvida.
Abraço,
Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: aleitamento materno e alimentação complementar – 2. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015.
Accioly E, Saunders C, Lacerda EM. Nutrição em Obstetrícia e Pediatria. 2ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. 114p
Vitolo MR. Nutrição – Da gestação ao envelhecimento. 1ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2008.
Mahan, LK, Escott-Stump S. Krause: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 12ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 1358p.
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